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“Greve será resposta do Paraguai aos retrocessos de Cartes"

O desmonte é na área econômica, política e social, afirma Bernardo Rojas, da CUT-A

Publicado: 10 Dezembro, 2015 - 11h02

Escrito por: Leonardo Wexell Severo

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Bernardo Rojas: "é preciso construir um modelo de desenvolvimento para o país"

O governo do presidente Horacio Cartes vem impondo ao Paraguai uma “sucessão de retrocessos”, seja nos planos político, econômico ou social, denunciou o presidente da Central Unitária de Trabalhadores Autêntica do Paraguai (CUT-A), Bernardo Rojas. Para o sindicalista, a greve geral convocada para os próximos dias 21 e 22 de dezembro “será uma resposta do nosso povo, que não aceita a continuidade de um modelo de repressão e perseguição, que visa a privatização e o desmonte do Estado em benefício da oligarquia e do capital estrangeiro”. Abaixo, a íntegra da entrevista.

Qual é a análise da CUT-A sobre o governo do presidente Horacio Cartes?

Nossa avaliação é a de que este governo está impondo ao país uma sucessão de retrocessos em todas as frentes, seja no terreno político, econômico ou social. Além disso, é um governo unipessoal, que não dialoga com ninguém e caminha para uma ditadura pela forma intransigente de se relacionar. Por isso dizemos que a greve geral será uma resposta, a reação de um povo que não aceita a continuidade de um modelo de repressão e perseguição, que visa a privatização e o desmonte do Estado em benefício da oligarquia e do capital estrangeiro, que se apropria dos nossos bens e recursos.

Quais as principais reivindicações da greve geral?

Vamos parar o país para defender o reajuste de 25% do salário mínimo, a fim de repor o poder de compra que vem sendo corroído por uma inflação crescente; queremos a redução do preço das passagens de ônibus de 3.400 para 2.300 guaranis; a suspensão da cobrança de pedágio de ida e volta; respeito à liberdade de organização sindical e a demissão do ministro do trabalho, Guillermo Sosa. Defendemos um projeto de desenvolvimento para o nosso país.

E como os movimentos estão contribuindo na preparação da paralisação?

Os companheiros das centrais, das entidades comunitárias, feministas e estudantis, as donas de casa, cada um está contribuindo como pode com a preparação da greve. Há várias comissões, como a de comunicação, piquetes, arrecadação, a que cuida do corpo de advogados. Todos estão muito afinados e comprometidos com o sucesso do movimento.

As centrais também têm denunciado que o governo manipula os dados para vender uma falsa imagem de recuperação econômica. Como é isso?

Exemplo de manipulação de dados, divulgação de meias verdades e completas falsidades é que o censo de estatísticas do Estado anunciou uma queda de 1.5% da pobreza, porém não informou que a pobreza extrema cresceu 2,5 %. Hoje de cada 10 trabalhadores temos oito na informalidade, com uma taxa de desemprego entre 15% e 20%. É insustentável.

As centrais têm denunciado constantes violações à liberdade sindical.

O problema é que o governo Cartes age claramente para acabar com os sindicatos, seja inviabilizando os existentes ou retendo os registros sindicais dos que estão para nascer nas gavetas do Ministério do Trabalho. Temos a multiplicação das demissões injustificadas, a falta de contratos coletivos, a ausência de direitos. A somatória destes abusos e atropelos desembocou em situações trágicas, como foi a crucificação dos trabalhadores de transporte da linha 49 de Assunção. Numa ação desesperada por não encontrar soluções a suas reivindicações, 15 companheiros ficaram cerca de 120 dias crucificados, acampados em frente ao Ministério do Trabalho, para exigir o direito à organização sindical e a recontratação, pois haviam sido demitidos arbitrariamente pelo simples fato de buscarem uma associação.

A questão agrária é tema candente no país que tem 40% da sua população na área rural.

Os trabalhadores rurais e os agricultores familiares se somaram conosco na greve geral que tem a bandeira da reforma agrária tremulando alto. Afinal, cerca de 85% da terra agricultável do país está nas mãos de 2,5% dos proprietários, o que é uma das maiores concentrações do mundo, agravando as injustiças sociais. Com esta desigualdade surgem os movimentos que lutam por uma terra para plantar, como é o caso dos camponeses de Marina Kue, em Curuguaty. Hoje temos pessoas que são presas políticas, que estão há três anos e meio atrás das grades aguardando o julgamento de um crime do qual são inocentes. O que aconteceu em Curuguaty no dia 15 de junho de 2012 foi um confronto onde morreram 17 pessoas, seis policiais e 11 camponeses. Foi uma armação golpista para tirar um presidente constitucional do poder. Agora quem está sendo julgado não são os mandantes, mas as vítimas.

A lei de Associação Público-Privada (APP) aponta para o desmonte e privatização do patrimônio coletivo. Como os trabalhadores têm resistido?

Até o momento o governo Cartes fez várias tentativas de privatizar bens essenciais do Estado, mas a resistência dos trabalhadores impediu que consolidasse seu projeto. O setor rodoviário foi o único em que conseguiu aplicar a APP, agora entregue à exploração de empresas multinacionais. Mas não conseguiram avançar sobre os serviços do Estado, como o aeroportuário. Com uma greve por tempo indeterminado, foi barrada a tentativa de privatizar setores do aeroporto. Com vitórias como esta, a resistência está se espraiando.