Grito dos Excluídos completa 30 anos de resistência com manifestações no 7/9
Com o lema “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”, movimentos populares e movimento sindical ocuparam as ruas em várias cidades do país
Publicado: 09 Setembro, 2024 - 13h40
Escrito por: Redação CUT
As tradicionais manifestações do Grito dos Excluídos e Excluídas, que completaram 30 anos em 2024, que esse ano completa 30 anos, reuniram milhares de pessoas no dia 7 de setembro, em várias do país. A mobilização é organizada por movimentos populares, organizações sociais e entidades sindicais, ente elas a CUT, com o objetivo de dar voz às pautas de segmentos minorizados da sociedade como a população negra, os indígenas, mulheres, LGBTQIA+, população em situação de rua, movimentos que lutam por moradia dignam entre vários outros.
O lema escolhido para este ano foi “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”, com o intuito de chamar a atenção para as desigualdades sociais e para os mais vulnerabilizados, além de denunciar as injustiças geradas pelo sistema capitalista e refletir sobre um novo projeto de sociedade.
Em Brasília, no Distrito Federal, mais de quarenta movimentos sociais se reuniram para realizar o Grito dos Excluídos. Na rua, os participantes levantavam bandeiras e cartazes em defesa dos direitos da juventude, dos negros, quilombolas, indígenas, LGBTQIA+, migrantes, idosos e vários outros. Um dos temas é o alerta ao desrespeito ao uso do Fundo Eleitoral para as candidaturas femininas negras, disse a pastora Val Moraes.
Uma das organizadoras, Vanildes dos Santos, do Centro de Estudos Bíblicos da Universidade Católica de Brasília, explica que o Grito dos Excluídos surgiu com o foco nas pessoas pobres. Mas chega aos trinta anos atento também às novas demandas sociais.
Brasília (foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Em São Paulo, a Praça da Sé, foi palco da manifestação reunindo centenas de pessoas, representantes de movimentos sindicais, sociais e pastorais católicas desde a 9h do sábado.
Dirigentes da CUT São Paulo marcaram presença no ato, entre eles, Osvaldo Bezerra, secretário de Mobilização da entidade estadual.
“Precisamos fazer um balanço desses últimos 30 anos, considerando o avanço social da agenda de luta dos movimentos sociais. É importante reconhecer que os governos democrático populares avançaram na agenda, incluiu trabalhadores e reduziu a miséria”, afirma o secretário de Mobilização.
O dirigente ressalta que é preciso avançar para o combate às desigualdades. “No Brasil ainda temos o desafio da concentração absurda de renda, que precisa ser combatido, reduzir a distância entre os maiores salários e o trabalhador na ponta”, analisa Osvaldo.
No caminhão de som, representantes de diversas entidades refletiram sobre os perigos do avanço da extrema direita, a necessidade de um cessar-fogo na Palestina, e as violações enfrentadas por imigrantes, mulheres, negros e a comunidade LGBTQIA+.
Propostas para a defesa da classe trabalhadora como o incentivo ao trabalho decente, jornadas reduzidas e melhores salários também foram mencionadas pelos participantes.
O ato contou também com intervenções artísticas, que trouxeram as bandeiras de lutas presentes no evento. Diversos atos ocorreram pelo estado de São Paulo e em vários municípios brasileiros, que demonstram a força desses 30 anos do Grito dos Excluídos.
No Rio de Janeiro, mães que perderam seus filhos em operações policiais formaram o pelotão de frente do Grito dos Excluídos, que percorreu ruas do centro no Rio de Janeiro neste sábado (7). O ato, que é tradicionalmente realizado no dia 7 de setembro, chegou à sua 30ª edição. Desde a concentração às 10h, na esquina da Rua Uruguaiana com Avenida Presidente Vargas, elas carregaram cartazes com os rostos das vítimas e cobraram justiça.
Uma das reivindicações envolve a federalização dos processos envolvendo letalidade policial no Rio de Janeiro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) recebeu, em julho deste ano, representação favorável à medida envolvendo quatro casos, entre eles a chamada Chacina do Jacarezinho, ocorrida em 2021 durante operação policial que deixou 28 mortos e é considerada a mais letal da histórica da capital fluminense. A discussão ocorre tendo em vista indícios de violações de direitos humanos em processos que tramitam na esfera estadual. A PGR, no entanto, ainda não decidiu se apresentará à Justiça pedido de federalização.
"Ninguém sofre mais com a violência do estado do que essas mães. E o pior: com a impunidade imperando. Os assassinos de muitos e muitas nunca foram punidos ou nem respondem processo. São vidas perdidas de jovens e crianças negras, periféricas. Quando damos o protagonismo a essas mães, dizemos: nós nos importamos com essas vidas", diz Sandra Quintela, que integra a Rede Jubileu Sul Brasil e a coordenação nacional do Grito dos Excluídos.
Em Recife (PE), ativistas e militantes de movimentos populares e organizações sindicais se concentraram no Parque Treze de Maio, no centro da cidade, com caminhada em direção ao Pátio do Carmo, na avenida Dantas Barreto.
No Recife, o ato foi organizado por um conjunto de militantes sociais e religiosos que se reúnem no Movimento dos Trabalhadores Cristãos (MTC).
Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, a professora Sandra Gomes, católica integrante das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e participante do Grito desde seu surgimento, há 30 anos, explicou que o movimento nasceu em um encontro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em um debate puxado pelas pastorais sociais, que defendiam uma fé profética e compromissada com a melhoria da vida do povo. "A vida em primeiro lugar, acima do neoliberalismo e do capitalismo", resume ela.
Após três décadas, o tema permanece o mesmo. Mas o "lema" muda todos os anos: em 2024, é "todas as formas de vida importam, mas quem se importa?". Sandra explica. "Não é só a vida humana que importa. Existe um planeta que está sendo degradado, destruído, a vida dos animais, nossos biomas", diz ela, destacando a importância que o meio ambiente e a natureza têm nas pautas de reivindicações do Grito dos Excluídos.
Em Porto Alegre (RS), a concentração para o 30º Grito dos Excluídos e Excluídas começou cedo na manhã do sábado, em frente à Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, na zona Norte de Porto Alegre. O tempo nublado anunciava a chuva que alterou o trajeto da caminhada até a Praça do Sesi, onde aconteceu a partilha de 1,5 mil marmitas preparadas pela cozinha solidária do MST de Eldorado do Sul e o encerramento do ato.
Com informações da Agência Brasil, Brasil de Fato e CUT-SP