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Há 4 anos Bolsonaro disse que dinheiro vivo usado em pagamento podia ser roubado

Geralmente é DOC, disse na época se referindo à maneira que usava para pagar suas transações. Agora, depois da denúncia do UOL sobre a compra 51 imóveis com dinheiro vivo, ele não vê problema na prática

Publicado: 31 Agosto, 2022 - 15h16 | Última modificação: 31 Agosto, 2022 - 15h48

Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

Reprodução/PR
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Há quatro anos, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, disse que pagamento em dinheiro vivo podia estar ligado a roubo. Agora, não vê problema nenhum em comprar mais de 50 imóveis e pagar com dinheiro.

Em janeiro de 2018, em entrevista à Folha sobre sua evolução patrimonial, Bolsonaro descartou ter usado dinheiro vivo nas transações.

"Levar em dinheiro e pagar? Geralmente é DOC. Levar em dinheiro não é o caso. Pode ser roubado. Tira do banco direto e manda para lá. Eu não guardo dinheiro no colchão em casa", disse o presidente.

Nesta terça-feira (30) ao ser questionado sobre a compra de 51 imóveis pagos em dinheiro vivo, Bolsonaro mudou o discurso e disse não ver problemas nesse tipo de pagamento.

"Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel? Eu não sei o que está escrito na matéria... Qual é o problema?", disse, após participar de uma sabatina em Brasília.

A matéria que ele insinuou não ter lido foi publicada no UOL na manhã desta terça. De acordo com a reportagem, desde os anos 1990 até os dias atuais, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. O valor gasto desta forma foi, segundo a reportagem, de R$ 13,5 milhões.

Segundo especialistas, não é crime pagar em dinheiro vivo, mas a prática costuma ser usada para lavagem de dinheiro obtido por meios ilícitos. O pagamento em dinheiro é mais difícil de ser rasteado pelos órgãos de controle.

Quem rastreia lavagem de dinheiro

Os bancos devem informar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) todas as operações de depósito ou aporte em espécie ou saque em espécie de valor igual ou superior a R$ 50 mil.  

Também são obrigados a informar o Coaf sobre movimentações financeiras as corretoras de valores, cooperativas financeiras, joalherias, marchands, seguradoras, prestadores de serviço de assessoria e consultoria, loterias, atletas, artistas, entre outros. E, desde 2020, os cartórios se tornaram fonte de informações do órgão por força do Provimento 88/2019 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que entrou em vigor em fevereiro de 2020.

Desde então, o volume de comunicações de operações suspeitas explodiu.

- Em 2018, o Coaf recebeu 428 mil comunicações de operações suspeitas.

- Em 2019, foram 346 mil.

- Em 2020, com a vigência da regra do CNJ que incluiu os cartórios, o número de notificações saltou para 1,4 milhão.

- Em 2021, chegou a 2,3 milhões. Do total do ano passado, 1,6 milhão são comunicações feitas pelos cartórios.

Segundo o Conjur, os cartórios brasileiros são responsáveis por quase 70% das comunicações de operações suspeitas feitas ao Coaf. Nos últimos dois anos, tabeliães, notários e registradores de todo o país enviaram ao órgão de inteligência financeira mais de 2,5 milhões de registros que, na visão dos cartorários, poderiam indicar atividade ilícita — mais especificamente, lavagem de dinheiro ou financiamento do crime organizado.

Flávio Bolsonaro é suspeito de lavagem de dinheiro 

O Ministério Público do Rio de Janeiro garante que ocorreeu de forma ilícita a captação de recursos de ex-assessores pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no esquema da "rachadinha". Promotores afirmam que o filho do presidente recolheu esse dinheiro e praticou lavagem por meio da compra de dois imóveis em Copacabana.

Flávio foi denunciado sob acusação de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas o caso foi arquivado porque o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou as principais provas do caso. O MP-RJ afirma que pretende reabrir a investigação.

Dados da investigação, contudo, mostraram que Bolsonaro teve, quando deputado federal, transações e práticas semelhantes às que levantaram suspeita contra o seu filho mais velho.