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Há um mês em Curitiba, militantes reafirmam: só sairemos daqui com Lula Livre

Acampados largaram tudo para lutar pela liberdade de Lula. Eles dizem que acreditam na sua inocência, que Lula tem o direito de ser candidato e eles têm o direito de votar nele

Publicado: 07 Maio, 2018 - 15h32 | Última modificação: 07 Maio, 2018 - 16h32

Escrito por: Denise Veiga, especial para o Portal CUT

Ricardo Stuckert
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A Vigília Por Lula Livre, em Curitiba, completa um mês nesta segunda-feira (7) com três acampamentos montados nas imediações da sede da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-presidente é mantido como preso político desde 7 de abril. Atos pela liberdade de Lula são realizados todos os dias na capital paranaense e em várias cidades do Brasil e do exterior.

O apoio e solidariedade estão no “bom dia, presidente Lula”, entoado todos os dias por centenas de trabalhadores e trabalhadores, parlamentares, artistas e personalidade que acampam ou passam um dia realizando atos e apoiando a militância que não desiste nunca da luta e, também por meio de doações, shows musicais e palestras realizadas no local.

Nos acampamentos são servidas diariamente 1100 refeições, em média, preparados com mais de 500 kg de alimentos doados também por dia. Só na barraca montada na vigília para quem quiser mandar recados para Lula, são escritas cerca de 150 cartas por dia. E Lula tem escrito muito também para todos que estão lá para apoiá-lo, agradecendo e mandando recados que estimulam a militância, muitos acampados no local desde o primeiro dia.

Entre as 500 pessoas acampadas, que dormem diariamente nos três acampamentos, o Portal CUT encontrou Vanda Santana, professora de rede estadual do Paraná, 49 anos, moradora de Antonina, litoral do PR, que está em Vigília Por Lula Livre desde o dia 5 de abril, quando o juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba determinou a prisão do ex-presidente Lula.

Ela participou do ato realizado na noite da sexta-feira (6), na Praça Santos Andrade e no sábado (7), após Lula anunciar em São Bernardo do Campo que cumpriria a decisão judicial, e de todos os outros realizados desde então nas imediações da sede da Policia Federal.

“No dia 7 de abril, após o ataque da polícia contra a nossa manifestação pacifica, decidimos permanecer na região enquanto Lula estiver preso politicamente, em Curitiba”, conta a professora que pretende ficar acampada até Lula ser libertado.

Para Vanda, são muitas as razões para a resistência e a luta por Lula Livre, mas questionada sobre as mais importantes, ela não hesita ema firmar: “Acredito que ele é inocente e não cometeu crime algum e precisa ser libertado para que se faça justiça; Lula tem o direito a ser candidato a presidência do Brasil. Lula é nosso candidato, o país e o povo precisam de Lula. Queremos esse direito de votar em Lula presidente”.

Denise VeigaDenise Veiga

Ela conta que participa das várias atividades, tanto na Vigília Lula Livre quanto no Acampamento Marisa Letícia, instalado depois que foi decretada a multa de 500 mil reais/dia se o grupo permanecesse no primeiro local onde estavam mais perto da sede da PF.

“Fizemos um acordo com a polícia e a Prefeitura Municipal para uma nova ocupação do local, permanecendo apenas os atos que começam às 9h, com o tradicional ‘bom dia, Lula’ e termina, às 19h30min, com o ‘boa noite, presidente’”, diz Vanda.

Todos estão unidos pelo mesmo objetivo: Lula Livre, Lula Inocente, Lula Presidente
- Vanda Santana

Para se manter firme na resistência pela liberdade de Lula, Vanda se divide entre sua casa, em Antonina, e Curitiba. Vai administrando, diz ela, contando que a família também vem no acampamento, na vigília, participa, compreende, sabe da importância dessa luta.

“Então, não temos problemas porque nós estamos no mesmo projeto”, diz Vanda.

Segundo ela, em cada lugar desse País é necessário criar um Comitê Lula Livre. A resistência está em Curitiba porque é lá que Lula está, mas deve servir de exemplo para que cada município desse país qualquer pessoa que reconheça a injustiça cometida contra o ex-presidente se organize.

“Lula é uma ideia e ela não está presa”, conclui a professora..

Marcia Rosana de Lima, 58 anos, assessora, casada, mãe de dois filhos adultos, moradora da região metropolitana de Curitiba, também está em vigília pela liberdade de Lula desde o dia 5 de abril.

“Só através da Vigília Lula Livre podemos chegar até as famílias e dialogar. Ficaremos neste local até a liberdade de Lula que é mantido em cárcere privado como preso político”, diz Marcia.

Denise VeigaDenise Veiga

“Não podemos aceitar que um País como o Brasil mantenha um preso político sem que algo seja feito. Lula é inocente e as provas que foram apresentadas contra ele já foram desmascaradas porque foram fraudadas. Então, Lula não pode ficar nem mais um minuto aqui. Por isso usamos este espaço para dialogar com a sociedade que Lula precisa estar caminhando entre nó”, diz a assessora.

Zenilda Inês Gomes Pereira, 46 anos, agricultora, mãe de uma filha 21 anos e um neto de um ano e cinco meses, moradora de Carlópolis, norte do Paraná, há 30 dias acompanha as atividades da Vigília Lula Livre em nome da defesa e da democracia. Ela contribui na barraca central de doação de alimentos.

“Estou bem distante da família. A gente fica um pouco triste, mas todos nós sabemos que é por uma boa causa”.

Denise VeigaDenise Veiga

“Eles estão lá, mas mesmo distante”, diz se referindo à sua família, “torcem para que o presidente Lula seja liberado desta prisão sem provas para que retornemos as nossas casas”, diz Zenilda.

Sabemos que Lula é inocente
- Zenilda Inês Gomes Pereira

A trabalhadora conta que, para ficar no acampamento, tem de conciliar a vida profissional, na área da agricultura, e a contribuição com a luta de defesa do presidente Lula Livre.

“Não estou doando meu tempo, nem perdendo ele, estou me solidarizando com o presidente. Estou aqui, como penso todos deveriam estar, dando o bom dia, boa tarde ou boa noite e contribuindo porque ao nos ouvir ele se fortalece e tem segurança para resistir a injustiça vivida lá dentro”, diz a agricultora com firmeza.

Segundo ela, é com coragem que vamos comprovar que Lula é inocente. “E, com isso, esperamos que alguém se mexa e dê logo a liberdade a ele”.

“Precisamos caminhar com as pernas que ele nos ensinou e ele sempre disse: se tentarem me calar, vou falar pela voz do povo e se tentarem me impedir de andar ele andaria com nossas pernas. Precisamos de todos para mobilizar e estar presente para que a justiça crie vergonha na cara e liberte um inocente”, conclui Zenilda.

Já o jornalista Murilo Mathias, 28 anos, morador de Erechim, no Rio Grande do Sul, acampado desde o dia 7, está fazendo cobertura para a página do Jornalistas Livres, Diário do Centro do Mundo, Carta Capital e outros, como colaborar.

“Estamos vivendo intensamente nestes 30 dias uma luta pela liberdade do presidente Lula. Uma frase tem ecoado muito em mim que é ‘da luta do povo ninguém se cansa’ e a partir dessa ideia tenho tentado me manter forte e com energia, disposição para a luta”, conta Murilo.

Murilo se reveza entre o acampamento e residências de amigos, aonde vai para recarregar os equipamentos. Segundo ele, através da união de todos os profissionais da mídia alternativa que estão no Paraná, tenta-se produzir o máximo de conteúdo para potencializar a divulgação do que está acontecendo na capital.

“Por conta de todo este processo político, infelizmente acabei tendo um afastamento significativo da família, mas tenho a sorte de ter meu companheiro, Igor. Ele é ator e produtor e estamos sempre juntos nessa luta. Desta forma um conforta ao outro quando bate a saudade de mãe, irmã”.

30 dias de união

A mensagem que Murilo quer passar é de mais luta, mais resistência. Ele diz que o Brasil tem de acordar, que a luta pela liberdade Lula tem de ser maior ainda.

“Vamos ampliar o número de pessoas nessa luta. O momento é agora. O tempo da disputa política é agora, é nas ruas, no trabalho, na discussão com amigos. Enfim, não dá para deixar passar os preconceitos e as práticas fascistas que se espalham. Temos que brigar neste momento porque o país está caminhando para um lado bastante perigoso. Enfrentamos essa injustiça enorme com a maior liderança do Brasil. Um presidente que por oito anos foi a esperança e orgulho de boa parcela, ou uma parcela significativa dos brasileiros não ser mantido preso. É injustiça, precisamos mudar este quadro enquanto dá tempo”.

Dados do acampamento

03 Acampamentos montados

1100 refeições em média por dia

500 kg de comida em doações por dia (média)

1000 pessoas passando pela concentração por dia (média)

500 pessoas dormindo nos três acampamentos

150 cartas entregues na barraca por dia (média)

Segurança

O MST tem trabalhadores responsáveis pela disciplina. São pessoas que transitam entre os manifestantes, para evitar conflitos entre os moradores locais, contrários ao movimento e pessoas que estão visitando os espaços. Eles trabalham em sistema de rodízio, nas portas dos acampamentos.

Vizinhança

O bairro é de classe média, mas algumas casas são bem mais simples. Alguns apoiam o movimento, outros rechaçam. Apesar de alguns contras, tem famílias que abriram suas casas para cozinha comunitária, local para banhos e banheiros.

Voluntários ajudam na cozinha e na distribuição de comida.

Em outra casa foi montado um ponto de venda de refrigerantes, água e pastel. Muitos trailers e barraquinhas de comida, venda de camisetas do Lula e bottons São armadas, em finais de semana, no entorno.

Uma terceira casa transformou-se em Casa da Democracia e lá ficam correspondentes da imprensa alternativa e de todo o mundo.

Limpeza

Nos acampamentos, voluntários fazem faxinas, tanto nos banheiros e cozinhas improvisadas, quanto nos locais de trânsito. Grupos realizam a limpeza voluntária das ruas da Vigília Lula Livre, na área da Polícia Federal e outro grupo de voluntários no Acampamento Marisa Letícia.

Organização

Todos que chegam na Praça Olga Benário fazem o cadastramento e recebem pulseiras com cores diferentes, escrito acampamento Lula Livre, distribuídas de acordo com a situação de cada um -  quem só vai passar o dia recebe uma cor, quem vai ficar no acampamento outra cor. Assim é feito o controle das pessoas que acampam, visitam ou transitam, tanto no acampamento quanto na vigília.

Barraca de doações de mantimentos 

Toda coleta da comida que é recebida fica armazenada nesta barraca para distribuição. Também recebe material de higiene pessoal, fraldas descartáveis, água mineral, material de limpeza, papel higiênico. Os agricultores doam sacos de batata, cebolas, legumes, verduras e frutas que são distribuídos nos acampamentos e colocados na rua para que as pessoas que passam possam se alimentar.

Doações de dinheiro, roupas e agasalhos

A barraca recebe e contabiliza tudo que entra em dinheiro. As doações chegam a todo o momento e vão sendo liberadas à medida que é preciso.

Barraca de cuidados

Protetor solar e massagem, sendo a prioridade para as pessoas que estavam trabalhando no movimento e dormindo no acampamento, mas com calma todos recebem.

Barraca das Cartas para Lula

Um livro de registro foi aberto, onde as pessoas enviam mensagens ao presidente. As cartas que chegam fechadas são cuidadosamente abertas por uma equipe que lê o conteúdo e verifica se tem alguma ofensa ao Presidente, algum risco a sua saúde ou outras coisas inapropriadas. Depois tudo é novamente lacrado e entregue a ele pela família.