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Historiador e educador pedalam 2.114 kms para assistir posse de Lula

Na estrada desde o dia 28 de novembro, a nove dias da posse, a dupla, que saiu de Porto Alegre, está entre Minas Gerais e Goiás

Publicado: 22 Dezembro, 2022 - 09h29 | Última modificação: 22 Dezembro, 2022 - 16h19

Escrito por: Ademir Wiederkehr, CUT-RS

Arquivo pessoal
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A posse do presidente eleito, Lula (PT), em 1º de janeiro de 2023, daqui a nove dias, deve atrair mais de 350 mil brasileiros, além do maior número de autoridades internacionais da história. Eles vão lotar aviões, vão em grupos, de carro ou ônibus, para a posse, considerada histórica porque marca o fim de um período de trevas, lambança e matança, além de ódio e intolerância.

Em Porto Alegre, dois militantes sociais optaram por ir à posse de bicicleta. Sair da bolha, ouvir o povo, recuperar a empatia perdida nos últimos quatro anos estão entre os motivos que levaram a dupla a percorrer uma distância de 2.114 quilômetros em cima de suas bikes, enfrentando os ricos das estradas, atravessando vários estados e pedalando em meio ao calor do sol escaldante e de chuvas torrenciais, rumo à capital federal para ver de perto o Brasil de volta para os trabalhadores e as trabalhadoras, para participar do 1º dia da reconstrução do país. 

Eles estão na estrada desde o dia 28 de novembro, seguindo o litoral pela BR 101. Já passaram pelo interior dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e estão agora em Minas Gerais. A nove dias da posse, estão chegando aoe stado de  Goiás.

Arquivo pessoalArquivo pessoalUm dos ciclistas é o historiador e assessor da CUT-RS, João Marcelo Pereira dos Santos, de 57 anos. Ele é também professor de Sociologia do Trabalho, na Escola Técnica Mesquita, do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre.

“Gosto de percurso de longa distância. O maior trajeto que já fiz, antes deste, foi do Chuí a Montevideo, pedalando 600 quilômetros”, conta João Marcelo, que é baiano, mas há muitos anos vive e trabalha na capital gaúcha. Já aprendeu, inclusive, a tomar chimarrão.

O outro ciclista é o educador popular e ativista ambiental Pedro Figueiredo, de 63 anos. Já atuou em galpões de reciclagem. É um veterano em trajetos longos de bicicleta. Já percorreu 1.400 kms, entre Porto Alegre e Resende (RJ).

Rotina da pedalada até Brasília

A rotina da dupla começa ao raiar do sol, às 5h da manhã, quando montam em suas bicicletas, e segue até as 11h. Após seis horas pedalando, param para almoçar. A viagem é retomada a partir das 15h e vai até quase anoitecer, às 19h.

Durante o caminho, eles conheceram muitas pessoas, entre elas, o fotógrafo Douglas Fróis, que mora em Curitiba e também pegou a sua bicicleta para ver a posse de Lula, e está seguindo outro roteiro. 

ReproduçãoReprodução
Os cliclistas gaúchos e o paranaense
Arquivo pessoalArquivo pessoal
Pessoas que conheceram na estrada

Quebrar a rotina e sair da bolha

“Saímos no dia 28 de novembro de Porto Alegre, tomando inicialmente caminhos diferentes. Enquanto eu fui pela BR-101, que passa pelo Litoral, Pedro partiu pela BR-116, atravessando a Serra. Em Curitiba passamos a pedalar juntos”, relata João Marcelo.

“O que me motivou, além do desafio, foi quebrar a rotina de uma forma muito radical”, diz ele.

O principal desafio de quem luta por direitos e democracia é sair da condição confortável e de bolha. 
- João Marcelo Pereira dos Santos

“A esquerda perdeu a paciência com o seu povo. Não ouvimos mais. Tentamos impor nossas verdades, muitas vezes de forma arrogante. A empatia é algo que precisamos recuperar”, defende o militante, que não se cansa de resgatar a importância do trabalho de base.

“Precisamos sair em direção à sociedade e, para isso, é fundamental ouvir as pessoas e dialogar. Os democratas precisam realizar um grande esforço de aproximação com a sociedade”, ensina.

Histórias de exploração do trabalho e da natureza

A viagem tem sido marcada por diversas experiências sobre o mundo do trabalho. “Pernoitamos em pousadas próximas aos postos de gasolina, contatamos com dezenas de caminhoneiros, ouvimos histórias de muito trabalho precário que cresceu depois da reforma trabalhista do golpista Temer e da reforma da previdência de Bolsonaro”, diz o assessor da CUT-RS.

“Vimos também o quanto a monocultura de soja, milho e cana de açúcar é destruidora da natureza. Não só isso, da economia local. Pequenas cidades, em regiões de deserto verde, são reféns do agronegócio e não são nada prósperas”, observa.

João Marcelo ressalta que “na estrada encontramos ainda andarilhos, pessoas que adotam estilo de vida diferente do dito normal. O mais impressionante é que, quando paramos para ouvir suas histórias, temos a impressão de que são felizes com o nada que possuem. Essas pessoas só possuem histórias boas para contar”.

Esforço insignificante diante do sacrifício de Lula

A viagem está avançando. O objetivo é chegar em Brasília antes do final do ano. “Não estamos tão longe, mas também não estamos tão perto. O cansaço, principalmente no entardecer, é grande. Nós queremos festejar junto com o povo brasileiro a posse de Lula e a democracia”, salienta.

“Lula permaneceu preso durante 580 dias”, recorda João Marcelo, após ter sido condenado sem crime e sem provas pelo ex-juiz suspeito Sérgio Moro, que depois virou ministro de Bolsonaro e agora senador eleito do Paraná.

Conforme o ciclista, “Lula livre teceu uma grande frente democrática para combater a extrema direita com segmentos declaradamente fascistas. A vitória da chapa Lula e Alkmin tirou o Brasil de um verdadeiro precipício”.

“O governo Lula precisará de pessoas capazes de lutar, para que o projeto que ele defende seja realizado. O esforço que estamos fazendo, que é insignificante frente ao sacrifício do Lula, é um gesto simbólico de que precisamos ser fortes e atuantes para vencer e reconstruir o Brasil”, enfatizou o assessor da CUT-RS.

Tanto para João Marcelo e Pedro, cada um de nós devemos ser o pedal de esperança para nos levar com Lula presidente a um novo tempo de diálogo, oportunidades e vida digna para a classe trabalhadora.