Escrito por: Rosely Rocha
Empresa oferece apenas 90% do IPCA, sem reajuste no tíquete refeição e quer retirar cláusulas sociais. Categoria reivindica INPC cheio e aumento nos benefícios
Os trabalhadores e trabalhadoras dos Correios podem entrar em greve se a empresa não ceder em sua baixa proposta de recomposição salarial e de pagamento nos benefícios.
A estatal oferece apenas 90% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que nos últimos 12 meses (até junho) acumulava 5,49%. Os trabalhadores reivindicam 100% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, que reflete a inflação, que no mesmo período ficou em 11,92%. Entre outras reivindicações dos trabalhadores estão o aumento no tíquete refeição de R$ 41,95 para R$ 50,00, mais R$ 300 reais a ser incorporados ao salário bruto.
Os Correios oferecem zero de reajuste no tíquete e apenas R$ 100 de incorporação ao salário, além de negar a manutenção de classes socias e a retomada de outros benefícios retirados durante negociação com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), em 2020. Naquele ano, os ministros do TST ao julgarem o dissídio coletivo dos trabalhadores desrespeitou o Acordo Coletivo da categoria derrubando 50 das 79 cláusulas do documento, retirando direitos conquistados com muitos anos de luta.
Entre as clausulas derrubadas pelo TST estavam um adicional de R$ 800 para os trabalhadores e trabalhadoras, pais de filhos com alguma deficiência e R$ 50 de vale cultura.
“Antes nós também recebíamos o tíquete refeição durante as férias, que nos foi tirado; o plano de saúde pagávamos 30%, agora são 50%, e hoje ainda querem reajustar nossos salários bem abaixo da inflação, apesar dos Correios terem lucro”, critica o secretário de comunicação, da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), que reúne 31 sindicatos da categoria. O lucro líquido dos Correios em 2021, foi de R$ 3,7 bilhões.
Diante dessa proposta irrisória, a Fentect vem orientando seus sindicatos a rejeitaram a proposta da direção dos Correios, mesmo sob a ameaça da empresa em fechar as negociações e não prorrogar a sentença normativa, prazo que termina no próximo domingo (31).
“Faremos uma reunião virtual no dia 2 de agosto [terça-feira], a partir das 19 horas, para definirmos estratégias e construir novo calendário de luta e até de greve nacional, conta o dirigente
Estamos cientes do grande desafio que é a nossa campanha salarial para retomar nossos direitos arrancados pelo atual governo e, para isso faremos grande campanha de mobilização e conscientização e, caso necessário, faremos a maior greve da nossa história- Emerson MarinhoOutros benefícios ameaçados
Com uma média salarial de apenas R$ 2.500, os 87 mil trabalhadores dos Correios correm o risco ainda de perder outros direitos conquistados com muita luta. Um deles, é o que resguarda os direitos dos motoristas dos Correios que se acidentam com os veículos da empresa.
Pela norma de “responsabilidade solidária”, o trabalhador que se envolve num acidente só paga os prejuízos se uma comissão comprovar que o erro foi dele. Com isso, os motoristas conseguiram evitar pagar prejuízos aos Correios, mesmo não tendo culpa do acidente. Um dos casos em que o motorista não foi o responsável, previa o pagamento de R$ 18 mil à empresa, o que ficaria inviável ao trabalhador arcar com essa despesa injusta.
“A direção dos Correios também quer retirar esse direito conquistado em 2014, deixando o motorista da empresa à mercê da própria sorte, porque os veículos vivem com pneus carecas, com falhas nos freios e mal cuidados, além é claro, de que a culpa pode ser de terceiros pelo acidente”, denuncia Marinho. Antes, complementa, o dirigente, primeiro o trabalhador pagava o prejuízo e só depois após uma perícia e julgamento que o inocentasse, recebia o dinheiro de volta.
Outro direito em perigo é o que permite as entregas apenas no período entre às oito da manhã e até o meio dia, o que favorece principalmente os carteiros das regiões Norte e Nordeste, que sofrem com as altas temperaturas locais.
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