Escrito por: Redação CUT

Infectologista e pneumologista criticam fim do uso de máscaras em locais fechados

Padilha afirma que ainda não é momento de suspender o uso de máscara. A pneumologista Margareth Dalcolmo teme o efeito da medida

Tomaz Silva / Agência Brasil

Especialistas na área da saúde alertam que a pandemia não acabou e criticam autoridades que flexibilizaram o do uso de máscara contra Covid-19, inclusive em locais fechados, em pelo menos 20 capitais, entre elas São Paulo e o Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.

“Alguns estados do país flexibilizaram o uso e vejo a medida como um “complexo de vira lata” por parte de alguns governantes que tomaram a decisão baseados no que países da Europa decidiram”, diz o deputado federal Alexandre Padilha (PT), infectologista e professor universitário que atende pacientes e supervisiona o atendimento dos alunos em Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Em artigo publicado no portal RBA, Padilha afirma que ainda não é momento de suspender o uso de máscara. “O mais importante princípio na área da saúde é a precaução”. Ele completa: “Estão se esquecendo que o hemisfério norte vive o início da primavera e, depois, o verão, estações em que os vírus se proliferam”.

Na avaliação da pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), uma das principais vozes da linha de frente da luta contra a pandemia no país, a decisão de flexibilizar o uso de máscaras é uma temeridade.

"Se você me perguntar do que eu tenho medo, como acho que a vida no planeta vai acabar, eu não citaria bomba atômica ou um meteorito. Diria que tende a acabar com epidemias, sobretudo agora com o homem favorecendo ecologicamente o surgimento de novas doenças", disse a médica em entrevista ao UOL.

Ao ser questionada se estaríamos caminhando para o fim da pandemia, Dalcolmo é enfática. “Eu não sei, diante do que está acontecendo na China e também na Coreia do Sul [países que têm registrado números recordes de casos]. A Coreia do Sul distribui máscaras de boa qualidade para todo mundo e testava muito, até no sinal de trânsito. Mas o que aconteceu foi que eles relaxaram. Vacinaram muito pouco”.

Em boletim divulgado no último dia 11, pesquisadores da Fiocruz afirmaram que é necessária prudência nas medidas. “O distanciamento físico ou o abandono do uso de máscaras de forma irrestrita colabora para um possível aumento de casos, internações e óbitos, e não nos protege de uma nova onda”.

Novas ondas na Ásia e Europa

A China, vive o pior surto de Covid desde o final de 2019, quando a pandemia começou, registrou, neste sábado (19), as primeiras mortes por Covid-19 desde janeiro de 2021. Duas pessoas morreram na província de Jilin, no nordeste chinês, levando o número total de mortes pelo coronavírus no país a 4.638.

Desde o início de março, foram 29 mil casos da doença registrados no país. Quase 30 milhões de pessoas foram colocadas em confinamento nesta semana para conter a alta de casos (veja vídeo abaixo).

A Coreia do Sul registrou na semana passada um novo recorde diário de casos de Covid-19, com mais de 620 mil infecções. As autoridades alegam que o país está perto do pico da onda de contágios provocada pela variante ômicron. A Coreia do Sul é o país com mais casos registrados nos últimos sete dias no mundo, com quase 2,5 milhões de contágios, seguido pelo Vietnã com 1,8 milhão.

A Alemanha voltou a registrar novo recorde consecutivo da incidência de Covid-19 e ultrapassou, na semana passada, pela primeira vez, as 1,6 mil infecções. A incidência acumulada é de 1,6 mil novas infecções por 100 mil habitantes em sete dias, após 1.58 mil novos contágios nessa terça-feira, 1.319 há uma semana e 1.401 há um mês, segundo dados atualizados pelo Instituto Robert Koch (RKI).

As autoridades de saúde alemãs relataram 262,59 mil novos casos positivos e 269 mortes em 24 horas, no meio da semana passada. Uma semana antes haviam sido notificadas 215,85 mil novas infecções e 314 óbitos, enquanto os casos ativos são estimados em cerca de 3,63 milhões.

Flexibilização no Brasil

Essas novas ondas, que deveriam servir como sinais de alerta, apesar de, no momento, os números no Brasil continuarem com tendência de queda, resultaram no aposto. A aposta aqui é na flexibilização de medidas para conter a disseminação do vírus.

Além de SP, RJ e DF, também flexibilizaram o uso de máscaras as autoridades de  Natal, Maceió, Porto Velho, Florianópolis e Porto Alegre. Em todos esses locais o uso é opcional em qualquer ambiente.

Belo Horizonte, Cuiabá, São Luís, Boa Vista, Macapá, Campo Grande, Vitória, Teresina, Rio Branco, Manaus, Goiânia, Curitiba e João Pessoa adotaram a flexibilização apenas ao ar livre.

Em oito delas, o uso do equipamento deixa de ser obrigatório tanto em ambiente abertos quanto em ambientes fechados. Nas outras 13 cidades, a flexibilização vale somente em espaços abertos.

Das capitais que mantêm a obrigatoriedade do equipamento de proteção, Fortaleza deve flexibilizar o uso nesta segunda-feira (21). A decisão de desobrigar o uso de máscaras ainda não é consenso na comunidade científica.

Brasil registra                 

Em 24 horas, o Brasil registrou 103 mortes e 13.218 novos casos de Covid-19, segundo atualização do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), divulgada neste domingo (20). O país totaliza 657.205 óbitos e 29.630.484 casos desde io início da pandemia, em março de 2020.

A média móvel de casos dos últimos sete dias foi de 37.387. Já a média de móvel de mortes ficou em 304 óbitos.

Os números do Distrito Federal, Mato Grosso, Paraíba e Tocantins não foram atualizados por problemas técnicos no acesso às bases de dados dos sistemas de informação.