Inflação dos alimentos: Sem estoque regulador, preços ainda vão demorar a cair
Trabalhadores que não gastam com gasolina e usam seus salários para comprar comida não sentem os efeitos da deflação. Preços precisam cair muito para eles votarem a comprar a quantidade de comida que precisam
Publicado: 14 Setembro, 2022 - 08h30 | Última modificação: 14 Setembro, 2022 - 15h41
Escrito por: Marize Muniz
A inflação dos alimentos continua sua escalada de alta e, mesmo com a deflação causada pela queda nos preços dos combustíveis, os trabalhadores e trabalhadoras continuam levando para os caixas dos supermercados carrinhos quase vazios.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil, registrou queda de 0,36% pelo segundo mês seguido em agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em julho, o índice havia recuado 0,68%.
Mas, os trabalhadores que não gastam com gasolina, usam seus parcos salários para comprar comida para família, não sentiram os efeitos da deflação e a única opção é cortar produtos que gostariam, mas não podem levar.
A alta de produtos básicos entre 2019 e 2022, como o óleo, que subiu 180%, o café (+110%) e o leite longa vida (+105%) pesam muito no bolso de todos os brasileiros, em especial dos mais pobres, conforme dados da pesquisa de preços da cesta básica, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômico (Dieese), que podem ser conferidos na tabela abaixo.
Com salários arrochados, sem reajuste de acordo com o índice de inflação ou que apenas repõem o percentual acumulado em 12 meses, sem contar os que nem salário fixo têm porque vivem de bico, um contingente de quase 40 milhões de pessoas, milhões de brasileiros sofrem com os efeitos da inflação dos alimentos. E pelos índices de alta acumulada que as tabela do Dieese mostra, os preços têm de cair muito para o povo voltar a encher o carrinho do supermercado de comida.
E por que os preços dos alimentos subiram tanto?
"Os preços dos alimentos subiram muito no último período por um conjunto de fatores externos, como pandemia, guerra, alta das commpdities no plano internaciona", responde a técnica do Dieese, Adriana Marcolino, que complementa: "Mas o governo federal se limitou a assistir".
"Um país do tamanho do Brasil pode fazer muita coisa internamente para reduzir essas impactos", diz Adriana.
"Fatores internos também influenciam na alta do preços dos alimentos", prossegue a técnica do Dieese. "Faltaram ações por parte do governo federal que resultassem no aumento da produção de alimentos pela agricultura familiar com políticas adequadas, em estoques reguladores de preços, no acesso de alimentos à população de baixa renda, no acesso à terra através dos programas de reforma agrária", diz ela.
"Em agosto, alguns poucos produtos alimentícios tiveram um redução nos preços, mas isso não é suficiente diante do aumento expressivo que tiveram no último período. E isso fica muito evidente quando vamos no supermercado", acrecenta Adriana Marcolino.
Além disso, ressalta, "o controle da inflação pressupõe um governo com capacidade de gestão e atento a questões econômicas macro e micro, o que não é o caso do atual mandatário do Brasil e sua equipe econômica, que não tem projeto em nenhum setor e ainda destrói políticas construídas no passado".
“A inflação de alimentos é uma das consequências da falta de controle dos estoques do governo, que acabou com as políticas públicas como os estoques regulares que colaboram para estabilizar os preços, através da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, explica a técnica do Dieese.
Desde o golpe de 2016, que destituiu a presidenta Dilma Rousseff (PT), os estoques de alimentos da Conab, ligada ao Ministério da Agricultura, vêm caindo, até chegar a um nível próximo de zero. Embora difícil de mensurar, isso causa impacto nos preços, por reduzir a oferta. Em momento de alta da inflação e nos preços dos alimentos, o país abriu mão de um instrumento que poderia ajudar a reduzir essa pressão.
Em maio do ano passado, já haviam sido fechado 27 armazéns da Conab, segundo o Boletim Especial de 1º de Maio do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
E isso é trágico porque, além de ser responsável pelos estoques, a Conab é a principal compradora de produtos da agricultura familiar, setor essencial para alimentação dos brasileiros - produz cerca de 70% dos alimentos consumidos no país - que também sofreu com o desgoverno.
“A Conab existia para um momento de crise, para ajudar a evitar a carestia dos alimentos, mas os estoques reguladores foram diminuindo tanto que agora não conseguem ajudar a população a pagar mais barato pela alimentação”, disse em entrevsita ao Portal CUT Gustavo Monteiro, economista e um dos técnicos do Dieese que elaborou o boletim especial de 1º de Maio de 2021.