Local de memória
As memórias do Cajamar foram reavivadas recentemente, depois que a Cooperinca, cooperativa que geria o local, anunciou o fim de suas atividades. Mas as recordações do local são muitas, e coincidem com um período de reorganização de sindicatos e movimentos sociais, finda a ditadura. Recentemente, os professores Valter Pomar (Universidade Federal do ABC) e Paulo Pontes (Federal do Rio de Janeiro) publicaram texto conjunto no site do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (Lehmt) lembrando das origens do local.
“Na época, as “casas de encontros” onde se realizavam atividades de educação popular eram geralmente de propriedade de igrejas; o Instituto Cajamar se diferenciava como um grande espaço laico, dedicado às atividades de formação política”, escrevem os pesquisadores. Eles fazem referência a relatório militar, de 1987, com informações, fantasiosas, sobre futuras “aulas” de sabotagem, instalação de bombas, piquetes e até luta armada. A ditadura já havia acabado formalmente, mas para setores militares a Guerra Fria continuou.
Importância histórica
Os autores lembram ainda que o educador Paulo Freire presidiu o instituto, indicado como presidente de honra. Entre os coordenadores, Bargas, Wladimir Pomar, Gilberto Carvalho e Augusto Campos. A primeira atividade, em 1986, teve como tema a participação popular na Assembleia Constituinte, responsável pela Carta promulgada em 1988.
Para Bargas, o Cajamar não supriu a demanda do movimento sindical e social. Havia pouco investimento interno em formação, segundo ele, e às vezes os cursos eram demasiadamente teóricos, na sua avaliação. Para o ex-dirigente, faltava discutir temas mais ligados ao dia a dia sindical, como negociação coletiva. Mas ele ressalta a importância história do instituto. “Acho que atendeu aquele momento.”
Já na segunda metade dos anos 1990, o instituto passou a ser administrado pela cooperativa agora desfeita. Nesse período, foram feitas parcerias, como a realizada no final de 2011 com a Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico (Fetquim-CUT), para construção de salas e auditório. Uma atividade de maior porte ocorreu em 2013, com um curso de extensão universitária destinado a assessores sindicais de entidades ligadas a CUT, em parceria com o Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O Cajamar sempre foi um núcleo de conhecimento.