Escrito por: Cláudia Motta | RBA
Levantamento da Fundação Perseu Abramo mostra que reprovação a Bolsonaro já chega a 50% e aprovação cai para 25% em média
Após meses de estabilidade, o governo de Jair Bolsonaro enfrenta tendência de queda na sua aprovação e aumento nas taxas de reprovação. A situação é apontada por institutos de pesquisa do país em levantamento realizado pela Fundação Perseu Abramo (FPA). São os piores números desde junho e julho do ano passado, informa o estudo realizado durante um dos mais trágicos períodos vividos pelo país. O Brasil ultrapassou a marca de 250 mil mortes de covid-19. São 10,4 milhões os doentes. Mesmo diante desse cenário de caos, o auxílio emergencial foi encerrado. A oposição ao governo Bolsonaro no Congresso Nacional trabalha pela volta do pagamento aos necessitados. Além disso, os brasileiros amargam uma torturante espera pela vacinação contra o novo coronavírus diante das “evidentes dificuldades ocasionadas pela omissão do governo federal frente às ofertas de laboratórios no ano passado”, lembra do estudo da FPA.
Diretor da Fundação Perseu Abramo e responsável pelo núcleo de pesquisas, Carlos Henrique Árabe relata que a entidade acompanha sistematicamente a evolução da opinião pública no Brasil. “Neste começo de ano diversos institutos de pesquisa apontaram esse significativo crescimento da reprovação ao governo Bolsonaro. E esse movimento é atribuído em primeiro lugar ao fim do auxílio emergencial”, avalia. “Como isso é muito recente, esse elemento deve provocar mais crescimento dessa reprovação.”
Árabe também destaca ausência de política pública de proteção ao povo durante a pandemia por parte do governo Bolsonaro. E especialmente a falta de uma política nacional de vacinação. “São dois fatores imediatos que devem implicar no crescimento dessa reprovação ao governo, mesmo que a volta do auxilio emergencial venha a ser aprovado.”
O levantamento da FPA analisa pesquisas realizadas pelos institutos XP/Ipespe, Datafolha, Atlas, PoderData e Ideia Exame. Todos indicam em seus números “tendência evidente de queda de aprovação do governo Bolsonaro, iniciada na passagem de dezembro para janeiro – após meses de estabilização”. E, “em sentido inverso, o mesmo ocorre nas taxas de reprovação. São os piores números desde junho e julho de 2020”, quando teve início o auxílio emergencial.
No segmento de renda mais baixa, informa a FPA, novamente a tendência de retorno aos patamares de reprovação e aprovação desse período de junho e julho de 2020. São altos os números de avaliação negativa e baixa avaliação positiva entre os que têm renda familiar mensal menor que dois salários mínimos.
Houve queda generalizada na aprovação e aumento da reprovação em todas as regiões. “Destaque para o Nordeste, que voltou a reprovar de forma significativa o governo Bolsonaro.”
A FPA aponta que, na segmentação por sexo, os índices também pioraram e acompanharam tendência geral. Além disso, “segundo o Datafolha, único instituto a divulgar a segmentação por raça/cor, houve queda substancial na aprovação e aumento da reprovação entre quem se autodeclara preto”. Esse, informa a FPA, é um dos segmentos com aprovação mais crítica do governo Bolsonaro. Outro destaque entre os dados de reprovação está entre os jovens, um dos segmentos que menos aprovam Bolsonaro.
“Segundo a pesquisa XP/Ipespe, única a divulgar dados sobre este segmento de forma periódica no último período, há tendência evidente de queda da aprovação entre os evangélicos”, conclui o levantamento.
No Nordeste, entre mulheres, negros e negras, jovens entre 16 e 24 anos, a reprovação ao governo chega a ser quase o dobro da aprovação, relata Árabe. “Em média a reprovação vai chegando em 50% e a aprovação caindo para 25%”, detalha.
O diretor da FPA ressalta outros aspectos da pesquisa, além do que afeta regiões que cresceram muito e agora estão sofrendo com o não crescimento, o desemprego mais expressivo, como o Nordeste. “Tem de olhar o Sudeste onde cresce expressivamente a reprovação de Bolsonaro. Possivelmente há mais fatores que esses dois. Por exemplo, a reprovação entre as mulheres”, diz, citando a ação machista, preconceituosa e violenta de Bolsonaro em relação a elas. “Um fator que leva a que a reprovação seja praticamente o dobro da aprovação. Também entre os negros. O desenvolvimento de uma política de preconceito aberto, racista, provoca rejeição maior que a derivada somente do fim do auxílio e da crise da covid-19.”
A repressão sentida pelos jovens, considera Árabe, estaria entre as razões para a rejeição em alta de Bolsonaro nesse segmento. “Outra situação em que o reprovação chega a 50% quando apenas um quarto apoiam o governo.”