Escrito por: Redação CUT
Conhecido como capitão Adriano e associado à família Bolsonaro, o miliciano Adriano Nóbrega foi morto durante um “confronto” com a polícia na Bahia em 2020
A Polícia Civil do Rio de Janeiro flagrou, em uma escuta telefônica autorizada pela Justiça, há dois anos, uma irmã do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega acusando o Palácio do Planalto de oferecer cargos comissionados em troca da morte do ex-capitão.
Na gravação, divulgada nesta quarta-feira (6) pelo jornal Folha de S. Paulo, Daniela Magalhães da Nóbrega afirma a uma tia, dois dias após a morte do irmão, em 9 de fevereiro de 2020, numa operação policial na Bahia, que ele soube de uma reunião envolvendo seu nome no palácio e do desejo de que se tornasse um "arquivo morto".
“Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”, disse Daniela à tia na gravação.
O miliciano, conhecido como capitão Adriano, ex-capitão do Bope, foi acusado de envolvimento no esquema da “rachadinha” no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) quando ele era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Segundo a Folha, a gravação é uma das escutas da polícia na operação Gárgula, deflagrada nem 22 de março de 2021, para investigar os suspeitos de lavar o dinheiro e movimentar os recursos de Adriano da Nóbrega. O jornal diz que, por mais de um ano, a polícia ouviu conversas de familiares e pessoas próximas de Adriano. Daniela não é acusada de envolvimento nos crimes do irmão, diz a reportagem, segundo a qual o Palácio do Planalto e a defesa de Daniela foram procurados, mas não se posicionaram sobre as escutas. “Ele falou que não ia se entregar”O diálogo que menciona o Planalto é de conversa com alguém que Daniela chama de tia – não identificada – dois dias depois da morte de Adriano. A família sempre suspeitou de queima de arquivo. “Ele falou para mim que não ia se entregar porque iam matar ele lá dentro. Iam matar ele lá dentro. Ele já estava pensando em se entregar. Quando pegaram ele, tia, ele desistiu da vida”, disse.
Investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) apontam que Adriano da Nóbrega era dono de pontos de máquinas caça-níquel na cidade e ele era ligado a “assassinatos, agiotagem e negócios junto à milícia de Rio das Pedras e da Muzema, na Zona Oeste do Rio”, segundo o G1. Júlia Mello Lotufo, viúva de Adriano, acusou o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de estar relacionado com a “queima de arquivo”. Ele negou e prometeu processá-la.