Itália: Sindicalistas reforçam campanha por Lula Livre e alertam sobre Bolsonaro
Durante congresso da CGIL, maior central sindical italiana, participantes pediram união internacional das esquerdas em defesa dos direitos dos trabalhadores
Publicado: 28 Novembro, 2018 - 17h16
Escrito por: Rafael Silva - CUT São Paulo
Sindicalistas de uma das maiores centrais sindicais da Europa, a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), reafirmaram que irão intensificar a campanha internacional pela liberdade do ex-presidente Lula, preso político desde abril.
Os dirigentes também manifestaram preocupação sobre as ameaças do presidente eleito Jair Bolsonaro à classe trabalhadora brasileira e convocam as entidades e lideranças de esquerda a se unirem na construção de uma frente de luta internacional contra a ascensão da extrema-direita pelo mundo. Esses apontamentos foram incluídos em documento, construído durante o 12º Congresso CGIL Lombardia, realizado na região norte da Itália entre os dias 22 e 25 de novembro.
Para os sindicalistas, está cada vez mais evidente que a prisão de Lula ocorreu para que ele fosse impedido de participar das eleições, abrindo caminho para que um projeto neoliberal ganhasse. “Hoje é ainda mais evidente que o encarceramento de Lula foi um assalto às políticas progressistas que melhoraram as condições de vida do povo brasileiro e um ato instrumental para permitir que seus adversários vencessem as eleições. Adversários que possuem os controles da mídia e de setores importantes da economia”, diz trecho do documento.
Em outra parte do documento (clique aqui para acessar), os sindicalistas alertam sobre uma agenda de ataques aos trabalhadores que pode ser promovida pelo presidente eleito no Brasil. “Bolsonaro professa ideias perigosas e agressivas contra as minorias, negando a legitimidade das liberdades civis, propondo um modelo econômico antissocial. A narrativa violenta, a exaltação do armamento, o racismo e o sexismo tornam essa Presidência preocupante e perigosa para a democracia brasileira e seu povo”.
Convidado da CGIL para o encontro, o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, reforçou a importância da luta global em defesa de Lula. “O Brasil não vive uma democracia plena atualmente. Nós temos hoje um preso político, encarcerado sem provas. É importante contar com a solidariedade das centrais sindicais para construir um grande movimento internacional, como houve com Nelson Mandela”, disse, referindo-se à prisão injusta do maior líder sul-africano (Confira o discurso abaixo).
Izzo também sugeriu como estratégia de luta a construção de uma frente internacional, formada por lideranças e movimentos da esquerda, para enfrentar os ataques dos governos antipopulares. A pauta seguiu em discussão em diversas mesas e saiu como proposta de articulação.
A Itália também vive uma crise política e, como no Brasil, elegeu recentemente uma grande bancada de parlamentares formada pela extrema-direita e por um movimento de outsiders da política que se autointitulam como antissistema.
Além de Izzo, a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-SP, Márcia Viana, também participou do congresso, que reuniu representantes de partidos de esquerda, de movimentos sociais e sindicais de países como Romênia, Polônia, França, Rússia, Alemanha, Espanha e Escócia.
O documento, aprovado por unanimidade, também será levado para a etapa nacional do congresso da CGIL, previsto para ocorrer em janeiro de 2019. Além disso, os participantes se comprometeram a fortalecer as atividades do Comitê Lula Livre de Milão.
Agenda
Durante a passagem pela Itália, os dirigentes da CUT-SP participaram de uma intensa agenda de debates e reuniões sobre a conjuntura política do Brasil. Na Câmara de Comércio de Milão, a secretária da Mulher Trabalhadora, Márcia Viana, falou sobre o processo migratório no Brasil e em São Paulo, enquanto que o presidente Douglas Izzo concedeu uma entrevista à Rádio Popolare 140.6.
Já no Centro Cultural/Cooperativa Conchetto Marchesi, os dois tiveram um encontro com o senador Francesco Laforgia e o prefeito de Canegrate, Colombo Roberto. Também houve uma reunião com parlamentares do campo progressista na Câmara Municipal de Milão e uma plenária do comitê local Lula Livre.
“Havia uma grande expectativa sobre a nossa vinda, pois os companheiros italianos queriam entender o que houve no Brasil que, após um grande crescimento econômico e social, feito durante os governos populares de Lula e Dilma, elege o Bolsonaro. Ao mesmo tempo conseguimos trocar estratégias sobre como atuar diante do avanço de setores da extrema direita, que tem ocorrido por todo o planeta, e que tem acabado com direitos”, afirmou Márcia.
Para a dirigente, chamou a atenção o grande número de jovens atuantes na política. "Os parlamentares com quem nos reunimos são jovens e há muitas mulheres. Foi bom de se constatar e é algo que poderia ocorrer no Brasil".