Itaú tem lucro recorde à custa de demissões e redução de crédito
Segundo o diretor técnico do Dieese, lucro astronômico no setor privado se deve ao fato de os bancos públicos terem reduzido a competição. Sem falar no corte de pessoal
Publicado: 12 Fevereiro, 2020 - 15h52 | Última modificação: 12 Fevereiro, 2020 - 16h02
Escrito por: Redação RBA
O Itaú Unibanco registrou lucro de R$ 28,3 bilhões em 2019, o maior da história entre todos os bancos brasileiros. Houve crescimento de 10,2% em relação ao ano anterior, quando foram registrados R$ 22,6 bilhões. Segundo o Dieese, a maior parte do lucro está relacionada à ampliação da carteira de crédito dos bancos privados, ao mesmo tempo em que os bancos públicos – Caixa e Banco do Brasil – pisam no freio.
“Navegando nesse mundo novo com o governo Bolsonaro, os bancos públicos estão tirando o pé da concorrência, evitando competir com os bancos privados. É um movimento de ocupação muito agressivo do percentual do crédito que vinha dos bancos públicos. O Itaú aproveitou essa oportunidade criada pelo próprio governo”, afirmou o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, à jornalista Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (12).
Em novembro do ano passado, o Itaú Unibanco havia ultrapassado, pela primeira vez na história, o Banco do Brasil em volume total de crédito. Desde setembro de 2018, a instituição privada havia aumentado seus estoques de operações em 8,3%, enquanto o concorrente estatal havia registrado recuo de 0,7% no mesmo período.
A carteira da Caixa também encolheu. Em junho de 2019, o banco tinha um saldo de R$ 682,4 bilhões em empréstimos, 1,9% menor do que o verificado um ano antes, com diminuição de 7,9% no crédito comercial para pessoa física e 30,7% nos empréstimos concedidos às empresas.
Cortes
O diretor técnico do Dieese diz que a receita para os lucros astronômicos vem da diferença paga pelo banco ao captar recursos – os juros da poupança, por exemplo – e aquilo que cobra para emprestar. Além disso, as taxas de juros cobradas pelos bancos não acompanharam o ritmo de queda na Selic. Outro fator que serve para explicar a ampliação dos ganhos do setor financeiro é a utilização da tecnologia para reduzir custos com mão de obra. Só no Itaú Unibanco, foram mais de 5 mil funcionários demitidos em 2019.
Fausto destacou que apenas com aquilo que arrecada com a cobrança de tarifas – excetuando as transações de crédito –, o Itaú Unibanco arrecadou o equivalente a uma vez e meia o seu gasto total com funcionários. “O banco paga todas as suas contas, incluindo salários, PLR, e demais encargos, só com ganhos das tarifas bancárias, e ainda sobra. É aquele dinheiro que a gente paga e muitas vezes nem sabe porque está pagando. Não é pouca coisa. A venda de serviços bancários também vem crescendo bastante”, afirmou.