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JBS já registrou pelo menos 10 vazamentos de amônia desde 2014

Levantamento sobre acidentes que mantém trabalhadores expostos ao risco de intoxicação por amônia foi feito pelo repórter Daniel Giovanaz, do Brasil de Fato de Florianópolis

Publicado: 24 Novembro, 2020 - 10h12 | Última modificação: 24 Novembro, 2020 - 10h20

Escrito por: Redação CUT

MPT-RS/Divulgação
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O vazamento de amônia em um frigorífico da JBS em Passos (MG), no dia 3 de novembro, que ocorreu em plena pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e atingiu 316 trabalhadores, é pelo menos o décimo acidente deste tipo na empresa desde 2014.

A informação é do repórter Daniel Giovanaz, do Brasil de Fato de Florianópolis, que fez o levantamento com base em notícias publicadas na imprensa. O jornalista levou em consideração apenas os casos em que trabalhadores precisaram ser atendidos com sintomas de intoxicação. A reportagem aguarda retorno do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para a confirmação oficial do número de acidentes com essa característica nos frigoríficos da JBS.

Os episódios que chegam ao noticiário são apenas a ponta de um iceberg, disse ao BdF o perito em Engenharia de Segurança do Trabalho do Ministério Público do trabalho (MPT) Fernando Alves Leite.“Em praticamente todas as plantas em que eu já estive [de todas as empresas, não apenas da JBS], há relatos, provas documentais ou investigação de acidentes com amônia”.

“O sistema de refrigeração que utiliza o fluído refrigerante amônia é o mais barato para fins de eficiência energética que existe no mercado”, acrescentou o perito. “Só que tem a toxicidade do agente químico. Ele é agressivo à saúde e pode levar até à morte por asfixia, como já tivemos em algumas plantas”, pontuou Leite.

Os sintomas mais comuns de intoxicação por amônia são dificuldades respiratórias, queimaduras na mucosa nasal, faringe e laringe, dor no peito, edemas pulmonares, náusea, vômitos e inchaço na boca. Em geral, os vazamentos ocorrem por problemas de manutenção, de acordo com a reportagem.

Para José Modelski Júnior, Secretário-Geral da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Contac), os vazamentos de amônia refletem problemas de manutenção e detecção, mas também uma visão empresarial que prioriza o lucro em detrimento da segurança dos trabalhadores.

“Um dos problemas, quando ocorrem os acidentes, é a demora em evacuar. Eles não querem que a fábrica pare, então, muitas vezes, mesmo com vazamento, seguram o pessoal trabalhando”, relata Modelski..

Dona das marcas Friboi e Seara, a JBS é a maior empresa de proteína animal do mundo. No terceiro trimestre de 2020, a companhia reportou o maior faturamento trimestral da história: R$ 3,1 bilhões, quase nove vezes o registrado no mesmo período do ano passado.

As Normas Regulamentadoras (NR) 13 36 reúnem uma série de obrigações para a segurança do trabalho nos frigoríficos. A última trata especificamente do uso da amônia, mas é descumprida em várias unidades, segundo o perito.

“Eu não conheci nenhuma planta em que a manutenção é tão boa que garanta que não vai haver vazamento de amônia. Na sala de máquinas, onde o pessoal está mais preparado, ocorre quase que diariamente”, relata Leite. “O que define é: a planta está preparada para controlar o vazamento sem consequências graves? Então, é preciso aprimorar o controle e a eliminação”.

 “Temos vários exemplos de casos de vazamento na casa de máquinas, às vezes a 100, 150, 200 metros de distância, mas precisa evacuar o frigorífico inteiro. Já peguei casos em que foi preciso evacuar a 800 metros, e ainda se sentia odor de amônia”, completou o perito.

Confira aqui a integra da reportagem.