Escrito por: Redação CUT
Levantamento sobre acidentes que mantém trabalhadores expostos ao risco de intoxicação por amônia foi feito pelo repórter Daniel Giovanaz, do Brasil de Fato de Florianópolis
O vazamento de amônia em um frigorífico da JBS em Passos (MG), no dia 3 de novembro, que ocorreu em plena pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e atingiu 316 trabalhadores, é pelo menos o décimo acidente deste tipo na empresa desde 2014.
A informação é do repórter Daniel Giovanaz, do Brasil de Fato de Florianópolis, que fez o levantamento com base em notícias publicadas na imprensa. O jornalista levou em consideração apenas os casos em que trabalhadores precisaram ser atendidos com sintomas de intoxicação. A reportagem aguarda retorno do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para a confirmação oficial do número de acidentes com essa característica nos frigoríficos da JBS.
Os episódios que chegam ao noticiário são apenas a ponta de um iceberg, disse ao BdF o perito em Engenharia de Segurança do Trabalho do Ministério Público do trabalho (MPT) Fernando Alves Leite.“Em praticamente todas as plantas em que eu já estive [de todas as empresas, não apenas da JBS], há relatos, provas documentais ou investigação de acidentes com amônia”.
“O sistema de refrigeração que utiliza o fluído refrigerante amônia é o mais barato para fins de eficiência energética que existe no mercado”, acrescentou o perito. “Só que tem a toxicidade do agente químico. Ele é agressivo à saúde e pode levar até à morte por asfixia, como já tivemos em algumas plantas”, pontuou Leite.
Os sintomas mais comuns de intoxicação por amônia são dificuldades respiratórias, queimaduras na mucosa nasal, faringe e laringe, dor no peito, edemas pulmonares, náusea, vômitos e inchaço na boca. Em geral, os vazamentos ocorrem por problemas de manutenção, de acordo com a reportagem.
Para José Modelski Júnior, Secretário-Geral da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Contac), os vazamentos de amônia refletem problemas de manutenção e detecção, mas também uma visão empresarial que prioriza o lucro em detrimento da segurança dos trabalhadores.
“Um dos problemas, quando ocorrem os acidentes, é a demora em evacuar. Eles não querem que a fábrica pare, então, muitas vezes, mesmo com vazamento, seguram o pessoal trabalhando”, relata Modelski..
Dona das marcas Friboi e Seara, a JBS é a maior empresa de proteína animal do mundo. No terceiro trimestre de 2020, a companhia reportou o maior faturamento trimestral da história: R$ 3,1 bilhões, quase nove vezes o registrado no mesmo período do ano passado.
As Normas Regulamentadoras (NR) 13 e 36 reúnem uma série de obrigações para a segurança do trabalho nos frigoríficos. A última trata especificamente do uso da amônia, mas é descumprida em várias unidades, segundo o perito.
“Eu não conheci nenhuma planta em que a manutenção é tão boa que garanta que não vai haver vazamento de amônia. Na sala de máquinas, onde o pessoal está mais preparado, ocorre quase que diariamente”, relata Leite. “O que define é: a planta está preparada para controlar o vazamento sem consequências graves? Então, é preciso aprimorar o controle e a eliminação”.
“Temos vários exemplos de casos de vazamento na casa de máquinas, às vezes a 100, 150, 200 metros de distância, mas precisa evacuar o frigorífico inteiro. Já peguei casos em que foi preciso evacuar a 800 metros, e ainda se sentia odor de amônia”, completou o perito.
Confira aqui a integra da reportagem.