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Jogador de futebol brasileiro é resgatado de trabalho escravo em Dubai

Gaúcho de Porto Alegre, Moisés Santana passou oito meses submetido a condições degradantes de trabalho, sem salário, e sem poder se comunicar com a família

Publicado: 01 Junho, 2023 - 13h12 | Última modificação: 01 Junho, 2023 - 13h19

Escrito por: Redação CUT

Luiza Castro/Sul 21
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Após cerca de oito meses em Dubai, sendo submetido a trabalho em condições análogas à escravidão, um jovem brasileiro, de 20 anos, jogador de futebol, foi resgatado pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH), da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), em parceria com o Itamaraty.

A vítima: Moisés Santana foi levado aos Emirados Árabes por um ‘olheiro’, termo usado no futebol para designar caça-talentos, com a promessa de jogar no time árabe Al Rams Club. Gaúcho de Porto Alegre, ele jogava no Água Santa, de Diadema (SP), quando recebeu o convite.

“Ele entrou em contato comigo, me falou que tinha uma oferta para ir para Dubai, que a chance era única, que eu teria casa, carro, uma vida literalmente de sheik. Que se eu desse certo, eu ia ajudar meus familiares e ajudar ele com um carro, como sinônimo de vitória”, contou o jogador à reportagem do Sul 21.

No entanto, foi dispensado após um mês no clube e, após ser abordado por um suposto empresário brasileiro, aceitou o convite para morar e trabalhar na sua casa, além de também prestar serviços na fábrica de cosméticos do empresário. Moisés tinha o objetivo de juntar dinheiro para seu retorno ao Brasil.

Mas a realidade foi de uma jornada exaustiva, das 7h às 23h, sem receber salário e sem poder entrar em contato com sua família, no Brasil. Moisés relatou que cobrava o suposto empresário que, por sua vez, protelava suas obrigações. O jovem conseguiu um celular emprestado e pode, então, falar com familiares que fizeram a denúncia no Brasil.

“A expectativa eu tinha todo dia, quando o menino tinha um tempinho que ele ia no banheiro ou alguma coisa assim, eu pegava o celular dele e falava com meu tio ‘e aí, e agora? Eles vão me buscar aqui? A polícia vai vir aqui?’, nessa expectativa enorme”, relatou Moisés.

O resgate: após procurar as autoridades, o caso começou a ter o desfecho.

Em ofício, a CCDH comunicou ao gabinete da Secretária-Geral do Ministério das Relações Exteriores a situação do jovem, que procurava ajuda, pedindo a urgência do resgate. O comunicado aconteceu em 30 de março.

Joel Darcie, auditor fiscal do trabalho, que acompanha o caso, afirmou que Moisés conseguiu fugir no dia 25 de abril e foi acomodado num albergue em Abu Dhab e, a partir disso, começaram as negociações para a volta ao Brasil.

Por estar ilegal no país, Moisés teve de pagar uma multa no valor equivalente a R$ 10 mil. Os recursos foram conseguidos por meio de uma ação coletiva realizada pela deputada estadual Laura Sito (PT-RS).

O jogador desembarcou, finalmente, na última terça-feira (30), em Porto Alegre. Ainda que feliz por estar de volta em casa, o jogador afirmou que teme represálias de seus carrascos.

Acompanhamento

As instituições responsáveis pela investigação do caso continuarão apurando a situação e trabalharão para mudar as regras que impediram o jogador de voltar para o Brasil após ser resgatado.

De acordo com o auditor fiscal do trabalho, há casos semelhantes já registrados no Camboja e em Myanmar, de pessoas levadas para trabalhar com criptomoedas e e-commerce.

“Quando chegaram lá eram utilizados para aplicar golpes pela internet”, disse Darcie ao Sul 21.

Trabalho escravo no mundo

Um levantamento publicado pela ONG Walk Free, organização que atua em todo o planeta no combate ao trabalho análogo à escravidão, denominado Índice de Escravidão Global 2023, mostrou que, no Brasil, a estimativa é de que haja cerca de um milhão de pessoas nessa condição. O número é 2,7 vezes maior que no levantamento de 2018, quando a estimativa era de 369 mil.

No Brasil, após anos cortes de recursos nas ações de fiscalização – um desmonte promovido pelo governo anterior -, somente em 2023, já foram resgatados mais de 1,2 mil trabalhadores nessas condições. Os dados relacionados ao resgate de pessoas em situações análogas à escravidão constam no Radar SIT, mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Trata-se de um painel de informações e estatísticas online sobre as inspeções do trabalho realizadas no país.

Leia mais em: Brasil tem 1 milhão de trabalhadores em condições análogas à escravidão, diz ONG

 

Com informações do Sul 21