Escrito por: Viomundo
"Eles têm uma milícia virtual e todo mundo sabe disso. São pessoas interligadas em todo Brasil, algumas recebendo para isso e outras não. Muitos robôs. Já sabia e não estou nem aí para isso", disse a deputada
A CPMI das Fake News, em andamento no Congresso, tem agora mais chances do que nunca de prosseguir.
É de interesse de todos os partidos, mesmo da ala anti-bolsonarista do PSL.
A CPMI vinha sendo rigorosamente bloqueada pela bancada governista.
Dentre os requerimentos apresentados, um convoca a senadora Elizabeth Warren, candidata do Partido Democrata à Casa Branca.
Warren pode nem comparecer, mas enviar representante ou ao menos informações.
Ela tem denunciado vigorosamente o Facebook por ganhar dinheiro disseminando notícias falsas.
A democrata afirma que a plataforma digital relaxou sua política depois de um recente encontro de Mark Zuckerberg com o presidente norte-americano Donald Trump.
A campanha de Trump à reeleição em 2020 gasta uma fortuna em anúncios no Facebook.
Warren diz que alguns dos anúncios trazem “notícias” comprovadamente falsas.
Zuckerberg deu de se escorar na “liberdade de expressão” para justificar seu lucro com as mentiras.
Warren decidiu publicar ela mesma um anúncio com falsidades, para deixar explícito que a plataforma está mais interessada no lucro do que em sua responsabilidade social.
Ela promete que, se eleita, vai desfazer o monopólio do Facebook — como, no passado, os Estados Unidos enfrentaram os monopólios da ferrovia e da telefonia.
Em fala a funcionários do Facebook, Zuckerberg disse que a eleição de Warren seria um desastre para a empresa — o áudio vazou.
A CPMI já convocou o executivo do WhatsApp que admitiu o impulsionamento ilegal de mensagens durante a campanha de 2018 no Brasil.
Foi uma iniciativa da deputada federal Margarida Salomão (PT-MG).
Ben Supple, gerente de eleições globais da plataforma, disse em palestra que houve violação dos termos de uso por “empresas fornecedoras”, mas não especificou quais.
O WhatsApp pertence ao Facebook.
De acordo com a Folha de S. Paulo, empresários fecharam contratos para impulsionar conteúdo contra o candidato do PT Fernando Haddad através da plataforma.
Se confirmado, isso caracterizaria caixa 2 para beneficiar Jair Bolsonaro.
O suplente do senador Flávio Bolsonaro, empresário Paulo Marinho, confirmou em entrevista que houve disparos de sua mansão no Rio de Janeiro, mas disse que não controlava o conteúdo.
Afirmou que o conteúdo vinha de fora, pronto, e que incluía fake news.
Assessora do Planalto, Rebecca Félix da Silva Ribeiro Alves confirmou a versão em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Expulso do PSL, o deputado Alexandre Frota, agora no PSDB, denunciou que a máquina de fake news da família Bolsonaro continua funcionando, baseada em gabinetes do Congresso e em outros locais de Brasília e São Paulo.
De acordo com Frota, ela é liderada pelo blogueiro Allan dos Santos, que seria sustentado financeiramente pela família Bolsonaro.
Outro dissidente dos Bolsonaro, o cantor Lobão, diz que o deputado federal Eduardo Bolsonaro paga o aluguel da casa em que Allan dos Santos vive em Brasília.
Allan dos Santos, dono do canal do You Tube Terça Livre, foi quem escreveu recentemente, às vésperas do julgamento do STF sobre prisão em segunda instância:
O establishment quer ver Bolsonaro repetindo o AI-5, mas o que vejo é o povo querendo um novo AI-5 e ai de Bolsonaro caso tente parar o povo. Será varrido junto. Não há UM brasileiro que aceitará, caso a decisão do STF seja soltar os CRIMINOSOS EM MASSA. Lava Jato regnat.
Ele nega que seja um defensor do AI5, o ato institucional da ditadura militar que, dentre outras coisas, permitia ao ditador de plantão afastar juízes, a partir de 1968.
Frustrados com o STF e temendo a liberdade do ex-presidente Lula, pelas implicações políticas que isso teria, os bolsonaristas chegaram a propor a CPI da Lava Toga para investigar os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
Os mais radicais pregam o fechamento do STF.
Um novo AI5 permitiria o afastamento de ministros numa canetada.
Porém, a família Bolsonaro desistiu da CPI da Lava Toga assim que Toffoli e Gilmar tomaram decisões favoráveis a Flávio Bolsonaro, suspeito de enriquecimento ilícito e investigado pelo MPF, pelo MPE-RJ e pela Procuradoria Eleitoral do Rio de Janeiro.
Flávio pode ser a ponta de um novelo a revelar o envolvimento da família com milicianos do Rio de Janeiro responsáveis pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e do motorista Anderson.
Hoje, embora a liberdade de Lula possa representar o fortalecimento da oposição política aos Bolsonaro, pode também beneficiá-los com o reforço da polarização que os levou ao poder em primeiro lugar.
Além da briga interna no PSL, a principal luta dos Bolsonaro reside em manter a máquina que os conecta diretamente a milhões de brasileiros, com ou sem fake news.
É por isso que a convocação dos deputados Alexandre Frota e, agora, da deputada Joice Hasselmann, para darem informações — mesmo que através de testemunhas indicadas à CPMI — se torna crucial.
Já foi convocado o assessor especial para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, apontado pela revista Crusoé como um dos articuladores do esquema digital.
Eventualmente a investigação pode tragar o homem do dinheiro — o chefe da Secretaria de Comunicação Social, Fabio Wajngarten.
Pode levar ao operador das contas do pai nas redes sociais — o vereador Carlos Bolsonaro.
Pode levar ao o guru campeão de views no You Tube — o ex-astrólogo Olavo de Carvalho.
E chegar ao contato entre o Brasil e o Estados Unidos, o ex-candidato a embaixador wm Washington, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Não estamos falando de amadores, mas de um esquema altamente profissional e muito bem financiado.
Trata-se de um esquema global para tomar o poder usando as redes sociais, exportado a partir dos Estados Unidos por Steve Bannon, que ajudou a eleger Donald Trump.
Trump foi eleito com fake news em massa no Facebook e pretende se reeleger com fake news em massa no Facebook — Zuckberger vai faturar o dele “defendendo” a liberdade de expressão e mantendo seu monopólio.
Bannon arrecada dinheiro de origem nebulosa para instalar governos que rendam bons negócios a ele e a seus amigos, sob a capa das ideias que forem as mais adequadas para esconder suas falcatruas.
As revelações mais recentes na investigação de Donald Trump, nos Estados Unidos, mostram isso.
O advogado pessoal de Trump, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, estava metido com mafiosos do Leste Europeu que foram presos tentando fugir dos Estados Unidos.
Os mafiosos faziam negócios no baixo mundo dos Estados Unidos, da Ucrânia e da Rússia, comprando e vendendo influência.
Picaretas que agora trabalhavam pela reeleição de Trump em 2020.
Trump está sendo denunciado nos EUA por sediar o G7 em um de seus hotéis em Miami.
Ele não tem vergonha. Vai se beneficiar diretamente da publicidade e do dinheiro resultantes de um evento diplomático do qual será o anfitrião.
Coisa de miliciano. Ou de mafioso.
Estamos falando, literalmente, de assalto ao poder. Com Facebook, com tudo.