Escrito por: Redação CUT
A matéria que sustenta a manchete conta a história do preso político que fez uma revolução silenciosa que acabou com a fome no Brasil e lembra que ainda dá tempo de assinar a indicação de Lula ao Nobel da Paz
A capa desta terça-feira (29) do francês l'Humanité, um dos jornais de esquerda mais tradicionais do mundo, com a manchete “BRÉSIL. LE PRÉSIDENT LULA PROPOSÉ POUR ÊTRE LE NOBEL DE LA PAIX”, é praticamente uma declaração de apoio a indicação de Lula ao Prêmio Nobel da Paz deste ano.
A matéria fala sobre a campanha iniciada pelo ex-Prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel, que já tem mais de 500 mil assinaturas “para fazer do ex-chefe de Estado um Prêmio Nobel da Paz”, destaca a luta de Lula contra a fome no Brasil e diz, ainda, que o ex-presidente, hoje preso político, é “um exemplo mundial de luta contra a pobreza”.
O texto também faz uma relação entre as propostas dos conservadores para alimentar os pobres, como a ‘farinata’ que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), quis servir aos alunos da rede pública, com o que eles chamam de revolução na luta contra a fome no país, liderada pelo ex-presidente Lula.
“No Brasil, como em outros lugares, o termo ‘revolução’ continua sendo usado em favor de projetos reacionários. No início dos anos 2000, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso político que foi preso sem qualquer prova, iniciou sua presidência com a ambiciosa campanha ‘Fome Zero’”, diz trecho da reportagem.
“Precisamos superar a fome, a miséria e a exclusão social. Nossa guerra não é matar ninguém, mas salvar vidas’”, disse Lula na época, lembra o l'Humanité, que segue falando sobre o emblema da campanha - um prato, uma faca e um garfo no fundo de uma bandeira brasileira – e contando a ida do ex-presidente, em 2014, ao bairro de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, quando Lula disse: "Antes, a mãe que ia fazer compras devolveu o carrinho vazio porque tudo estava inacessível. A carne tornou-se acessível, podemos nos dar ao luxo de ir a restaurantes, viajar, ir à universidade. Quem teria imaginado isso? Companheiras, diga a seus filhos que antes, a esperança não era permitida."
ReproduçãoA campanha em prol da indicação do ex-presidente Lula para ser Prêmio Nobel da Paz foi idealizada pelo ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, amigo do ex-presidente há três décadas, e conta com apoiadores como o linguista norte-americano Noam Chomsky, o ator Danny Glover, a escritora e ativista Angela Davis e outros ganhadores do Nobel da Paz. Isso sem falar das dezenas de juristas, professores, políticos e intelectuais de todos os lugares do mundo que já aderiram à causa.
A divulgação da campanha Lula Nobel da Paz pelo jornal francês foi publicada às vésperas do encerramento da votação para indicação ao prêmio, no dia 31.
Podem votar, neste link, membros de assembleias nacionais e governos nacionais soberanos; membros do Tribunal Internacional de Justiça em Haia; membros do Institut de Droit Internacional; professores universitários, professores eméritos e professores associados de história, ciências sociais, direito, filosofia, teologia e religião; reitores e diretores universitários; diretores de institutos de pesquisa da paz e institutos de política externa; pessoas que receberam o Prêmio Nobel da Paz; membros da diretoria principal de organizações que receberam o Prêmio Nobel da Paz; e membros, ex-membros e ex-assessores do Comitê Norueguês do Nobel.
Confira aqui íntegra da matéria.
Tradução da matéria:
Quase meio milhão de pessoas já assinaram uma petição lançada pelo [escritor] e ativista pelos direitos humanos argentino, Adolfo Pérez Esquivel, para fazer do ex-presidente [Lula] um Prêmio Nobel da Paz. Aquele que hoje é prisioneiro político teve a iniciativa de um programa para erradicar a fome.
Que gosto tem a farinata? Essa granola, reservada exclusivamente para os pobres, que lembra a ração servida aos animais de estimação, e da qual ninguém conhece a composição, foi apresentada em 2017 pelo (então) prefeito conservador de São Paulo, João Doria, como uma revolução na luta contra a fome no País. O que importa, no final, é que os especialistas entenderam que a farinata ampliaria a desigualdade ao invés de reduzi-la. E isso seria um “passo atrás no progresso alcançado nas últimas décadas no campo da segurança alimentar”, segundo o conselho regional de nutrição. No Brasil, como em outros lugares, o termo “revolução” continua sendo usado em favor de projetos reacionários. No início dos anos 2000, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso político condenado sem prova, iniciou sua presidência com a ambiciosa campanha “Fome Zero”. “Precisamos superar a fome, a miséria e a exclusão social. Nossa guerra não é matar ninguém, mas salvar vidas ”, disse ele na ocasião.
“O Brasil deixou o mapa da fome”
O emblema da campanha – um prato, uma faca e um garfo sobre uma bandeira brasileira – evocava “a maravilha das sensações saciadas” citada pelo escritor Jean-Marie Le Clézio. Mas também o gosto de tudo que falta, além do arroz e do feijão. E especialmente esperança. Em 2014, no coração do popular bairro de Campo Limpo, Lula convidou a todos para medir o progresso do gigante sul-americano desde o início dos anos 2000: “Antes, a mãe que ia fazer compras devolvia o carrinho vazio porque tudo estava inacessível. A carne tornou-se acessível, podemos nos dar ao luxo de ir a restaurantes, viajar, ir à universidade. Quem teria imaginado isso? Companheiras, diga a seus filhos que antes, a esperança não era permitida.”
Embora várias aspirações tenham desaparecido desde a eleição de Jair Bolsonaro como presidente, alguns cidadãos parecem determinados a travar uma luta extremamente política para ganhar a candidatura de Lula ao Prêmio Nobel da Paz de 2019 em nome de “correlação entre a garantia dos direitos humanos pelos povos, especialmente saúde e segurança alimentar, e a construção internacional da paz”, segundo o Comitê de Solidariedade Internacional para a defesa de Lula e da democracia no Brasil.
Lançada pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, a petição já reuniu cerca de 500 mil assinaturas, incluindo as dos sociólogos Jean Ziegler e Éric Fassin, Angela Davis, o ator Danny Glover, o linguista Noam Chomsky e o sindicato UGTT. Segundo eles, os programas Fome Zero e Bolsa Família “foram os principais responsáveis pela queda das taxas de desnutrição no país (de 11% em 2002 para menos de 5% em 2007), bem como pela redução dos índices de extrema pobreza, que, segundo relatório da Fundação Getúlio Vargas (FGV), caiu 50,6% no período referente ao mandato de Lula. Isso permitiu que o país alcançasse o sucesso histórico de deixar o mapa da fome da ONU em 2014”.
No cenário internacional, as políticas iniciadas por Lula também levaram a uma série de programas em todo o mundo, incluindo o Fome Zero Internacional, em 2004, sob a liderança do governante brasileiro, do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e do Presidente Francês Jacques Chirac. Além disso, ao contrário de seu antecessor, Lula continuou a desempenhar um papel de mediador, sublinham os iniciadores da campanha. Esse foi o caso entre a Venezuela e a Colômbia, durante o conflito armado na Colômbia, e pela Declaração de Teerã, que visava estabelecer um acordo regulando o programa nuclear iraniano.
“Um exemplo mundial da luta contra a pobreza”
A indicação de candidaturas ao comitê do Nobel termina na quinta-feira (31). Estão aptos a apresentar nomes os parlamentares e ministros, os chefes de estado, os membros da Corte Internacional de Justiça em Haia e da Corte Permanente de Arbitragem em Haia, ou professores, reitores e diretores de universidades. Para justificar sua iniciativa, Adolfo Pérez Esquivel argumenta que a fome “é um flagelo e um crime contra as vítimas da pobreza e da marginalização, privadas de vida e esperança por gerações. Por esta razão, se um governo nacional se tornar um exemplo global da luta contra a pobreza e a desigualdade, contra a violência estrutural que nos aflige como humanidade, deve ser reconhecido por sua contribuição à paz na humanidade.”
E para fazer ressoar essa sentença de Martin Luther King: “Se alguém me anunciasse que o fim do mundo é para amanhã, eu ainda plantaria uma macieira.”
Texto de Lina Sankari, tradução do jornal L’Humanité, da França.