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Jornalista é ameaçado de morte após denunciar esquema de fake news bolsonarista

Fenaj denuncia escalada fascista no país com ataques à imprensa

Publicado: 06 Junho, 2022 - 12h45 | Última modificação: 06 Junho, 2022 - 13h05

Escrito por: Redação CUT

Reprodução
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No último fim de semana mais um jornalista foi alvo de ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais. Lucas Neiva, do Congresso em Foco, foi ameçado de morte e teve dados pessoais vazados após a publicação de uma reportagem de sua autoria, no sábado (4), em que denuncia a tática de um fórum anônimo para produzir fake news em favor de Bolsonaro.

Após as ameaças, durante a madrugada de sábado para domingo, o grupo também atacou e derrubou o site do Congresso em Foco, que ficou fora do ar até por volta das 9h da manhã do domingo.

As ameaças

“Parece que alguém vai amanhecer morto”, escreveu um dos usuários. “Eu ri do jornalista esfaqueado em Brasília [Gabriel Luiz, da Globo] e queria que acontecesse mais”, acrescentou outro no site 1500chan, o mais ativo imageboard brasileiro.

Nas mensagens também são tramados ataques à honra do repórter com fake news, em uma espécie de campanha de difamação. A jornalista Vanessa Lippelt, editora do Congresso em Foco Insider e coautora da reportagem, também foi ameaçada.

Após a publicação da reportagem, um dos usuários do 1500chan afirmou que causará problemas a Lucas, seja agora, seja posteriormente.

A ferramenta ‘imageboard’, como é o 1500chan, é um fórum anônimo em que internautas se comunicam sem qualquer tipo de identificação e, onde reinam os ataques a movimentos sociais, propaganda de extrema direita, divulgação de conteúdo declaradamente racista e antissemita, bem como teorias de conspiração ocupam o topo das abas políticas desses sites.

“Se é ele se forçando aqui, então ele se fodeu. Eu vou fazer meus ataques sem falar aqui então. Ele não vai saber porque [sic] o passaporte foi cancelado, porque [sic] as contas do banco serão bloqueadas. Não vai saber quando, não vai saber porque [sic]. Talvez ele nem se lembre desse [sic] matéria daqui uns meses, mas eu vou lembrar dele.”, disse o usuário na plataforma.

Em nota a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), se pronunciou denunciando “o avanço do fascismo no Brasil e os ataques de bolsonaristas e fascistas ao Jornalismo e a jornalistas”.

“A FENAJ solidatiza-se com o repórter Lucas Neiva, com Vanessa Lippelt e toda a equipe do “Congresso em Foco”. Além de levar o caso ao Conselho Nacional dos Direitos Humanos, a diretoria da Federação coloca-se à disposição para acompanhar as investigações, junto à Polícia Federal e à Polícia Civil do Distrito Federal.

É preciso dar um basta à atuação de grupos fascistas no Brasil, que ataca jornalistas e o Jornalismo, para favorecer o avanço do fascismo e beneficiar eleitoralmente o atual presidente.

Não se trata de liberdade de expressão, mas de disseminação de informações falsas e até mesmo de práticas criminosas, como o racismo. É preciso identificar os responsáveis como primeiro passo para a garantia das liberdades de expressão e de imprensa e da retomada do verdadeiro debate público e das práticas democráticas”, diz a nota.

A reportagem

A matéria de Lucas Neiva mostra a discussão sobre estratégias retóricas para defender Jair Bolsonaro no imageboard. O jornalista revelou que um usuário da plataforma se propõe a pagar com recursos próprios, em criptomoeda, a criação de conteúdo eleitoral em favor do presidente.

O anúncio ainda veio acompanhado de instruções para fazer com que o conteúdo viralize, bem como do endereço de uma carteira de bitcoin para quem quiser doar para a campanha de fake News, além de uma orientação clara: ‘o criador não precisa acreditar no que diz’.

Tema sugerido para as fake News, de acordo com a reportagem de Lucas é a forma de os usuários da página jogarem na oposição a culpa pelo baixo desempenho econômico da gestão Bolsonaro, em especial apontando as políticas de isolamento durante a pandemia e a oposição à PEC dos Precatórios como principais causas da crise econômica.

No 1500chan, o apoio a Jair Bolsonaro é absoluto. O anúncio para a produção de desinformação a favor do presidente não é único. Em outra publicação, o usuário sugere “fazer a esquerda sangrar”, e propõe montar uma biblioteca de material midiático para ser usado em favor do chefe de Estado, pois “a mídia de massa já mostra claramente que fará campanha contra o nosso presidente”.

Leia mais: Repórter do Congresso Em Foco é ameaçado de morte. Portal é atacado e sai do ar

Ataques a jornalistas

Desde que assumiu a presidência, os ataques a jornalistas, radialistas e comunicadores cresceram vertiginosamente. Um relatório divulgado no início do ano pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) mostra que, somente em 2021, foram registrados 430 casos de agressões a jornalistas e veículos. Bolsonaro lidera as ocorrências.

Dos 430 episódios, o presidente foi responsável por 147 (34,2% do total). Foram 129 casos de ataque à credibilidade da imprensa e 18 de agressões verbais. Depois dele, são citados dirigentes da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com 142 ataques, e políticos e assessores, com 40. Assim, os três concentram 76% dos registros.

De acordo com o documento, houve alta (64,7%) no número de casos de censura, que lideram a lista: de 85, em 2020, para 140. Representam 32,56% do total do ano passado. Em seguida, 131 casos de “descredibilização” da imprensa (30,46%). Com 58 registros (13,49%), agressões verbais e ataques virtuais.

A lista inclui ameaças/intimidações (33 casos), agressões físicas (26), cerceamento à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais (15), violência contra a organização dos trabalhadores/sindical (oito), impedimento ao exercício profissional (sete), ataques cibernéticos e atentados (quatro casos cada), assassinato (um, de Eranildo Ribeiro da Cruz, o Chocolate, no Pará) e injúria racial/racismo (também um).