Escrito por: Andre Accarini e Érica Aragão

Jornalistas de Alagoas rejeitam proposta de redução de salários e mantêm greve

Sindicato rebate a alegação de ‘falta de recursos’ dada pelos donos de emissoras, afirmando que “o discurso de que não têm dinheiro não serve”, porque são milionários

reprodução Instagram/Sindijornal
Jornalista em greve fazem ato em frente à TV Pajuçara em Maceió (AL)

Terminou sem acordo a audiência de mediação entre o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindijornal), em greve desde terça-feira (24), e as empresas de comunicação do estado.

Na negociação realizada na manhã desta quinta-feira (27) na sede do Ministério Público do Trabalho (MPT) de Alagoas, a proposta dos empresários foi recusada pelos  trabalhadores e trabalhadoras que decidiram manter a paralisação até que as reivindicações sejam atendidas.

Os jornalistas defendem a manutenção do valor do piso salarial da categoria e estabilidade de um ano, até a próxima data-base (junho/2020), quando seria realizada uma nova negociação.

Os empresários insistiram em reduzir os pisos salariais e ofereceram garantia de emprego por seis meses.

A greve

Os trabalhadores deram início à paralisação em protesto contra a tentativa patronal de redução do piso salarial dos jornalistas. Alegando crise econômica, os donos dos meios de comunicação querem arrochar os salários dos trabalhadores, de acordo com Elida Miranda, secretária de Combate ao Racismo da CUT-Alagoas e dirigente do Sindjornal. Segundo ela, se a categoria aceitar a proposta dos patrões, entregará o “ouro ao bandido”.

“É uma falta de respeito. Em seis meses, os patrões poderiam demitir os jornalistas para recontratar com salários 40% menor”, critica Elida.

A dirigente afirma que a proposta apresentada na audiência já sinaliza essa intenção dos donos de emissoras. A alternativa apresentada pelos empresários, que não garante a manutenção do salário atual, foi de criação de um Plano de Cargos e Salários que estabelece três faixas salariais. Nesse plano, o piso teria como base a faixa intermediária. Assim, o atual piso, na verdade, se transformaria em teto salarial.

A faixa inicial (faixa 1), segundo a dirigente, não teve valor exato apresentado, mas seria “de mil e poucos reais”. Já o valor que hoje é piso para categoria (faixa 3), de R$ 3.565,27, se transformaria em um teto salarial.

O piso seria enquadrado na faixa 2 e com a redução, conforme querem os patrões, o valor cairia para cerca de R$ 2.139,00.

“Muitos profissionais ganhariam menos do que ganham hoje e se o resultado da proposta é de redução para qualquer setor que seja da redação”, reforça Elida.

Negociação

Elida Miranda destaca que mesmo com todos os esforços, inclusive do MPT, para que a negociação fosse bem-sucedida, não houve acordo. Os trabalhadores realizaram uma assembleia para avaliar a proposta que foi rejeitada, já que modifica muito pouco o que já havia sido colocado.

Para a sindicalista, é importante haver um Plano de Cargos e Salários, mas tem que partir do que já foi conquistado. “Tem que pegar o piso de hoje e negociar para cima, mas a proposta deles [empresários] foi o contrário – criar as faixas salariais e assim o que é piso hoje se torna o máximo que um trabalhador vai ganhar”, diz Elida.

Hoje, já existem casos de trabalhadores com muitos anos de carreira que ainda ganham o piso, ou seja, o mesmo que um trabalhador recém contratado ganharia.

“A proposta dos patrões vai na contramão do que entendemos como um Plano de Cargos e Salários digno para os trabalhadores”

Quem ganha?

A alegação dos patrões, de que há crise e é necessário reduzir despesas, foi rebatida pelos trabalhadores.

Thayanne Magalhães, jornalista do Portal TV Ponta Verde de Alagoas (afiliada a SBT), conta que os empresários “são milionários e tem até grupos que estão investindo milhões e ampliando sua área de atuação”.

Segundo ela, os proprietários da emissora fecharam negócio com o grupo HapVida, em que somente a aquisição de um hospital no Estado, custou cerca de R$ 5 bilhões. “Então o problema não é crise, né?”, questiona Thayanne

Elida Miranda, da CUT Alagoas e do Sindjornal, conta também que a TV Pajuçara é de propriedade de Emerson Tenório, dono também da Socôco (fábrica de produtos derivados de côco) e ligado a figuras do meio político da capital do estado, Maceió.

“Além do lucro econômico, eles têm lucro político porque a comunicação forma a opinião da sociedade”, diz Elida, que complementa: por esse e outros motivos, o discurso de que não tem dinheiro, não serve.

O sindicato chegou a pedir que os empresários mostrassem os balancetes financeiros para debater formas de redução de custo sem ter que colocar nas costas do trabalhador a conta da crise. “Mas eles se recusaram”, afirma Elida.

Mobilização

Além de manter a greve, trabalhadores e trabalhadoras também mantêm atividades em portas de empresas de comunicação, pelo menos até a próxima quarta-feira (3), quando haverá o julgamento do dissídio no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

“Manteremos a greve e vamos continuar as manifestações como a da manhã desta sexta, na frente a [TV] Pirajuçara”, diz Elida

Furo ilegal de greve

Enquanto a greve continua, as emissoras cumprem papel ilegal de contratar equipes de outros estados para cobrir os postos de trabalho. Para Elida, isso demonstra que é mentira a falta de recursos financeiros. Ela alerta ainda que a situação dos jornalistas de Alagoas é um tema de interesse de toda a categoria em todo o Brasil.

“Temos que nacionalizar esse debate porque o que está acontecendo em Alagoas pode acontecer no resto do país e se houver um julgamento no Tribunal Superior do Trabalho, teremos que contar com o apoio de parlamentares, outros sindicatos e de toda a sociedade”.

Ela finaliza, dizendo que essa é uma luta em um momento muito importante “porque cria jurisprudência para se aumentar ou reduzir salários”.