Jornalistas do Ceará: na linha de frente contra a Covid-19 e sem direitos
Categoria está há pelo menos três anos sem reajuste salarial e sem Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e, na pandemia, paga custos do home office
Publicado: 09 Fevereiro, 2021 - 10h56 | Última modificação: 09 Fevereiro, 2021 - 11h03
Escrito por: Sindjorce
Considerados essenciais na batalha contra a desinformação, especialmente neste momento em que o mundo vive a maior crise sanitária da história, os jornalistas cearenses enfrentam os riscos provocados pela pandemia deo novo coronavírus (Covid-19) totalmente descobertos.
Além das precárias condições de trabalho, a categoria está há pelo menos três anos sem reajuste salarial e sem Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) – instrumento jurídico que prevê um conjunto de direitos específicos para os trabalhadores e trabalhadoras.
A situação é provocada pela intransigência dos principais conglomerados de comunicação do Estado do Ceará, que dirigem os Sindicatos das Empresas de Rádio e Televisão (Sindatel) e de Jornais e Revistas do Ceará (Sindjornais).
O Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) vem tentando negociar com os patrões durante todo esse tempo, mas só recebe desculpas evasivas e nenhuma proposta concreta para restabelecer os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras da mídia.
Sem aumento salarial, os jornalistas viram o poder de compra encolher. A cesta básica fechou o ano passado 23,37% mais cara em Fortaleza, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Em plena pandemia, os maiores empregadores – Sistema Verdes Mares, Sistema Jangadeiro e Grupo O Povo – cortaram pelo menos 25% dos salários durante nove meses, o que levou muitos trabalhadores a entrarem em completo desespero: falta dinheiro pra tudo – alimentação, aluguel, mensalidades escolares etc. Pelo menos 202 jornalistas foram impactados pelas medidas de redução salarial e suspensão contratual no ano passado.
Direitos como diária de viagem, auxílio creche, adicional para a área policial, gratificação de chefia e adicional de hora-extra, que fazem a diferença para o grupo cujo os pisos salariais se equiparam a apenas dois salários mínimos, estão sendo atacados pelos empregadores que se negam a renovar as CCTs. E se não bastasse tudo isso, 100% da categoria ainda arca com os custos do home office, conforme pesquisa feita pelo Sindjorce.
“Os jornalistas do Ceará são colocados sob risco sanitário, sobrecarga de trabalho, multifunção e ainda são obrigados a utilizar recursos próprios para manter o trabalho em casa. Ao mesmo tempo, grupos como o Sistema Verdes Mares, O Povo, Cidade e Sistema Jangadeiro mentem para a sociedade, afirmando que valorizam o jornalismo profissional. Na nossa avaliação, valorizar o jornalismo é garantir trabalho decente e remuneração digna para os profissionais da área”, desabafa Rafael Mesquita, presidente do Sindjorce e diretor de Mobilização da federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).
O dirigente fala ainda de centenas de milhares de reais, de publicidade e contratos com prefeituras e o Governo do Estado que foram injetados nas empresas de mídia do Ceará nos últimos meses, sob a alegação de se produzir conteúdo focado no combate à pandemia. “Chove publicidade institucional, campanhas e projetos com dinheiro público nas TV, rádios e jornais empresariais, mas os trabalhadores não veem nem a cor desse dinheiro, embolsado por meio de fundações cujos sócios são os donos da mídia no Ceará. Falta de dinheiro? Só se for no bolso do jornalista”, finaliza Mesquita.
Diante de tudo isso, o Sindjorce apela à opinião popular, para que, a dor dos jornalistas cearenses, “que não sai no jornal”, seja ouvida. Para a entidade, em tempos de extrema incerteza, o jornalismo profissional tem sido a arma mais eficaz no combate ao vírus e às desinformações alimentadas em torno da pandemia. Mas esse jornalismo é feito por trabalhadoras e trabalhadores que necessitam de salários dignos e condições de trabalho.