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Jornalistas repudiam ação de Moro contra blogueiro

Condução coercitiva de Eduardo Guimarães foi ataque ao direito de sigilo da fonte

Publicado: 22 Março, 2017 - 13h09 | Última modificação: 22 Março, 2017 - 17h28

Escrito por: CUT com informações da RBA (Rede Brasil Atual)

RBA
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Eduardo Guimarães

Um ato em desagravo ao blogueiro Eduardo Guimarães, ocorrido nesta terça (21), mobilizou grande parte da comunidade jornalística de São Paulo e repudiou a condução coercitiva do comunicador pela Polícia Federal, determinada pelo juiz Sergio Moro. A PF, sem que Guimarães tivesse acesso a seu advogado, interrogou-o para que ele confirmasse a identidade da fonte que antecipou ao Blog da Cidadania a condução coercitiva do ex-presidente Lula, em 4 de março de 2016. A polícia também pressionou o blogueiro para que ele detalhasse como era sua relação com a fonte, numa ação manifestamente abusiva e ilegal. O direito ao sigilo da fonte está inscrito na Constituição, no Artigo 5, Inciso XIV.

No evento, o blogueiro declarou que a ação realizada pela PF foi um ato de vingança do juiz Sérgio Moro, por suas posições políticas e por ter feito representação contra o juiz, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2015. Ele também afirmou que o fato não é uma tentativa de calar apenas ele, mas a todos que divergem das posições tomadas pelo juiz. "Tenho medo de ter medo. Porque o medo obriga a gente a não falar, a ocultar as coisas que a gente tem para dizer e, ao fazer isso a gente deixa de defender os valores democráticos e deixa de defender o direito de expressão", no ato de desagravo a ele e pela a liberdade de expressão. "Eu movi uma ação contra ele junto ao CNJ, em 2015, porque abusou do poder dele e encarcerou uma pessoa por uma semana. Essa pessoa foi exposta em toda a mídia, e ele havia se enganado. Não era a pessoa certa, mas a imagem dessa pessoa vai ficar por aí para sempre. O CNJ arquivou minha queixa. Hoje, nesse dia 21 de março, ele me deu razão, ele abusa do poder que tem", explicou Eduardo, que afirmou que o juiz Sérgio Moro parece acreditar que é um super-herói, assim como o retratam em veículos e comunidades de direita. 

Presente à manifestação, a secretária de Formação da CUT, Rosane Bertotti, lembrou que “minha origem é a agricultora familiar. Na agricultura, quando se fala em fonte, se fala em água, que para nós é vida, porque é essencial para nossa atividade. Para quem trabalha com comunicação, a fonte também é vida, porque sem ela a informação não chega”. Desse modo, Rosane destacou a ligação entre a preservação do sigilo da fonte, atacada pelo juiz Moro, e o direito da sociedade à informação.

Na mesma linha, o blogueiro Eduardo Guimarães destacou:  "Isso é muito perigoso para todos nós. O regime está endurecendo". Ele e o jornalista Renato Rovai, que conduziu o encontro, ressaltaram que os protestos contra a ação arbitrária promovida contra ele e as manifestações de solidariedade vieram até mesmo de jornalistas da grande imprensa. Ele também relatou telefone que recebeu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou a ação arbitrária sofrida pelo blogueiro àquela vivenciada por ele, em março do ano passado, também levado para depor de maneira coercitiva, em outra ação pirotécnica da PF.

O jornalista Rodrigo Vianna também fez duras críticas às ações de Sérgio Moro. "Esse juiz que veste camisas negras, que é um privilegiado, que ganha acima do teto constitucional. Um sujeito que divulga telefone de presidente da República, que divulga conversas pessoais da ex-primeira-dama, um sujeito que vai a encontro com políticos do PSDB e fica dando risada e falando no ouvido do Aécio, isso não é um juiz faz tempo. Isso é um justiceiro. Um cara que vai no Facebook e pede apoio popular, é um justiceiro de filme de bangue-bangue, e é assim que temos que tratá-lo."  

O ator Sérgio Mamberti também comparou o ocorrido com os anos de chumbo da ditadura, em especial o caso envolvendo o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, morto nas dependências do DOI-Codi, em outubro de 1975, após ter sido intimado para depor. 

"Quem sofreu com a ditadura sabe que esse processo que está instalado no Brasil é um processo ilegítimo, golpista e ditatorial. Eu era muito próximo do Vladimir Herzog. Ele foi levado da mesma maneira, para testemunhar – a única diferença era que era um general – foi levado coercitivamente. Também chegaram de madrugada, quando levaram o Vladimir. No final da tarde, entregaram o cadáver dele." 

Já o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues comparou as ações contra Eduardo Guimarães aos abusos cometidos pela polícia, que adentraram a Escola Florestan Fernandes sem qualquer amparo legal. "Tenho certeza, como se diz lá na roça, que a gente só joga pedra em árvore que dá fruto. Conte com as foices do MST."1