Escrito por: Redação CUT

Justiça cita negacionismo e determina que governo federal pare de falar em kit Covid

Para a juíza Luna Zarattini, da 6ª Vara Cível de SP, as mortes poderiam ter sido evitadas e “inúmeras são fruto de descaso governamental” e de “campanha de desinformação"

MARCELO CASAL/AGENCIA BRASIL

O negacionismo e a insistência de Jair Bolsonaro (ex-PSL) em indicar medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, que já matou mais de 407 mil pessoas no país, levou a Justiça Federal de São Paulo a determinar que o governo pare de fazer campanhas mentirosas sobre o chamado ‘kit covid’, que inclui medicamentos como a cloroquina.

O governo Bolsonaro contratou por R$ 23 mil influenciadores digitais para publicarem mensagens falsas sobre o uso dos medicamentos. Luna Zarattini Brandão, que foi candidata a vereadora na capital paulista pelo PT, entrou com uma ação contra o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, contra a agência Calia/Y2 Propaganda e Marketing e os influenciadores Flavia Viana, João Zoli, Jessica Tayara e Pam Puertas.

À Justiça, a União disse que jamais patrocinou qualquer campanha publicitária que incentivasse o “tratamento precoce”.

Para a juíza Ana Lúcia Petri Betto, da 6ª Vara Cível Federal de São Paulo, o argumento não se sustenta.  Em despacho divulgado na quinta-feira (29), ela disse que, embora algumas mortes fossem inevitáveis durante a pandemia do coronavírus, “inúmeras são fruto de descaso governamental” e de “campanha de desinformação", segundo ela, “parte de um amplo esforço para promover o 'negacionismo' do vírus, oferecendo à população uma falsa segurança de retorno às atividades, com o abandono das medidas de isolamento social”.

A juíza deu um prazo de 48 horas para o governo e os os influenciadores publicarem, em seus perfis oficiais, mensagem de esclarecimento, “indicando que não endossam a utilização de medicamentos sem eficácia comprovada".

As campanhas publicitárias do governo, disse a magistrada, devem "ser pautadas" por "clareza e transparência" e que, portanto, "no mínimo, a ação publicitária com os influenciadores tem o potencial de induzir em erro".

Campanha pró-genocídio

A campanha do governo federal contra o isolamento social e às medidas de combate à Covid-19 levou o Brasil ao epicentro global da maior crise sanitária do século, batendo recordes inéditos de óbitos, médias móveis e internações entre março e abril.

Especialistas alertam podem surgir novas variantes do novo coronavírus e que, sem o rastreamento das novas cepas, a situação pode ficar ainda mais grave.

“A gente teria evitado essa situação se não fosse o negacionismo”, afirma Diego Xavier, epidemiologista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Para ele, o agravamento dessa tragédia, é resultado da sequência de erros do governo Bolsonaro, que ignorou a ciência, negou a gravidade da pandemia e não soube conduzir uma ação nacional de combate à pandemia.

“Mortes poderiam ter sido evitadas com distanciamento social e o uso de mascará. Faltou acreditar na gravidade do problema, se não fosse isso teríamos entrado na concorrência para compra de vacinas”, disse o epidemiologista.

A pior gestão da crise de Covid-19

O Brasil enfrenta a pior crise sanitária, hospitalar e funerária da história. A ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) chegou a 100% ou mais em algumas regiões. Além da falta de leitos, faltam insumos e medicamentos para pacientes graves. Falou até equipamento básico como oxigênio, e tudo isso não foi por falta de aviso ao governo federal.

A pior condução da pandemia levou também o Senado Federal a abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar ações e omissões do governo federal e do pior ministro da Saúde da história, general Eduardo Pazuello.

AMB e SBI reafirmam ineficácia do tratamento preventivo

A Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) já emitiram nota conjunta para informar que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção da Covid-19, e que pesquisas com medicações para outras doenças ainda estão em curso.