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Juventude e movimentos estudantis entram na luta contra a reforma da Previdência

Reunidos em São Paulo, movimentos de juventude confirmaram participação na greve nacional da Educação, no próximo dia 15, e na greve geral contra a reforma da Previdência, em 14 de junho

Publicado: 10 Maio, 2019 - 17h48 | Última modificação: 10 Maio, 2019 - 18h56

Escrito por: Andre Accarini

André Accarini
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Movimentos de jovens e estudantes se reuniram na sede da CUT em São Paulo, na manhã desta sexta-feira (10), para definir a participação no Dia Nacional de Greve na Educação contra os cortes nos investimentos e contra o desomonte da aposentadoia, marcada para a próxima quarta-feira, dia 15, e na greve geral do dia 14 de junho, contra a reforma da Previdência.

Participaram do encontro, a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras sem Teto (MTST), União Juventude Socialista (UJS), Juventude do PT (JPT), e Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Maiores prejudicados com os cortes de 30% nos recursos da educação infantil até a pós-graduação, recentemente anunciados pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), os estudantes já deram início a mobilizações na última quarta (8), em várias cidades do país, ao lado de educadores e pesquisadores.

Para eles, o Dia Nacional de Greve da Educação será mais um momento para mostrar a Bolsonaro que a sua vida de presidente não será fácil, caso continue atacando políticas sociais construídas com muita luta ao longo dos anos, tanto para os estudantes como para toda a classe trabalhadora.

A secretária de Juventude da CUT, Cristiana Paiva Gomes, afirma que a juventude, historicamente, teve papel de destaque na luta por direitos e democracia. E que o momento do Brasil reforça a necessidade desses jovens e estudantes voltarem às ruas.

“O nosso presente está sendo ameaçado e nosso futuro mais ainda. Queremos mostrar a toda sociedade que seremos os mais prejudicados e vamos lutar”, afirma a dirigente.

Em sua avaliação, a união dos diversos movimentos, incluindo os de juventude, contra os cortes de recursos na educação e contra a reforma da previdência foi fundamental.

“A juventude brasileira hoje enfrenta, no mínimo, um duplo ataque. De um lado, os cortes da educação afetam diretamente os estudantes e professores. Por outro lado, há uma grande massa de jovens entre os desempregados no Brasil. Esses jovens precisam saber que a reforma da Previdência vai afetá-los diretamente”, diz Cristiana.

Por esse motivo, ela afirma, estarão nas ruas, em universidades, escolas, e locais públicos, no dia 15 de maio, em manifestações contra os cortes de recursos na educação, e no dia 14 de junho, participando da greve geral contra a reforma da Previdência.

Aviso aos navegantes

Para o Luiza Bezerra, secretária de Juventude da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), não basta ir às redes sociais e dizer à juventude “eu avisei”, sobre os ataques de Bolsonaro às políticas sociais. “Nosso desafio é trazer o jovem para o nosso lado, alertá-lo sobre o futuro sombrio que nos aguarda e o caminho é a resistência”. Ela ainda ironiza: “O jovem e a classe trabalhadora são prioridades para este governo quando o assunto é atacar direitos”.

Iago Campos, diretor da União Nacional dos Estudantes, vê nas mobilizações um caminho para dialogar com a juventude: “A mobilização dos estudantes da semana passada é algo como nunca se viu igual. As pessoas ainda acreditam na mobilização como instrumento de luta e é um bom momento para ampliarmos o diálogo com a sociedade.”

Para Iago, o Dia Nacional de Greve da Educação, 15 de maio, será um momento histórico para essa mobilização de estudantes. Ele acredita que a paralisação contará com o apoio da sociedade. “Cortes de recursos na educação sempre vão sensibilizar as pessoas. Ninguém é a favor”, ele comenta.

Paulo Henrique, da juventude do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras sem Terra (MST), concorda e observa que o Brasil vive um momento em que as condições de vida do povo brasileiro, em especial dos jovens mais pobres, estão ruins e tendem a piorar com os ataques do governo Bolsonaro.

“Perder escola, perder a oportunidade de estudar, ingressar em uma universidade é uma derrota para nossos jovens. Por isso, engrossar a luta contra os cortes na educação é fundamental”, afirma Paulo.

Outro movimento que promete ir às ruas é o Levante Popular da Juventude, que protagonizou protestos inusitados na época do golpe contra Dilma Roussef, em 2016 e na luta pela democracia. Uma das ações foi um escracho em frente à residência de Michel Temer (MDB), em São Paulo.

Para Élida Helena, integrante do movimento, o momento mostrar à toda a sociedade os efeitos que os cortes de recursos na educação representam: “Afeta vários setores da juventude, não só das universidades como a juventude do campo, das escolas, mas afeta também outros setores da sociedade”

Ela explica que a ação do governo na educação faz parte que um plano de ataque generalizado do governo contra a nação, que inclui retirada de direitos da classe trabalhadora, inclusive aposentados e a entrega do patrimônio público à iniciativa privada.

“Por isso faremos muitos atos nas ruas, nas escolas e em salas de aulas para dialogar com a população. Queremos que todos venham para a rua com a gente. Essa é nossa maior prioridade”, explica Élida.

Também diretora da UNE e integrante do movimento Rua Juventude Anticapitalista, Luiza Foltran afirma que essa “nova fase” de mobilização da juventude está apenas começando.

Luiza Foltran, diretora da UNE

 

“Esse processo começou com a pauta da educação, mas tem tudo para ser um grande movimento de massas no dia 15 de maio, na greve nacional da Educação. E o objetivo é reforçar a greve geral do dia 14 de junho, contra a reforma da Previdência”.

Ela explica que a juventude tem o potencial transformar pautas segmentadas em reivindicações de toda a sociedade: “Vamos nos jogar nas ruas para barrar os cortes e barrar a reforma da Previdência”.

Luiza também considera que as ruas é o “lugar de transformação, onde há chance de virar o jogo”. Ela afirma que “o governo Bolsonaro não é um governo que se possa ter diálogo. É fascista e autoritário. Não tem qualquer chance institucional de negociação e a chance é colocando maioria nas ruas”

Bons tempos

Somente no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os investimentos em educação saltaram de R$ 18,1 bilhões em 2003 para R$ 54,2 bi em 2010. Até 2016, quando Dilma sofreu o golpe, os investimentos já passavam de R$ 100 bilhões.

Esses investimentos permitiram que milhões de jovens tivessem acesso à universidade. Para os movimentos de juventude, ao contrário do que aconteceu naquele período, o atual governo se mostra inimigo da educação

Narjara Leite, da executiva nacional do Partido dos Trabalhadores, explica que a educação era prioridade durante os governos Lula e Dilma. “Mas sofremos o golpe e vieram as tentativas do movimento estudantil para manter o legado dos governos petistas. Esse é um momento em que os estudantes já sentem na pele o que é esse governo, que prejudica universidades e milhares de jovens”.

O futuro de universidades e institutos federais, criados durante os governos do PT, é uma das maiores preocupações dos movimentos. Segundo as lideranças, “essas instituições não terão como se sustentar por causa dos cortes anunciados por Bolsonaro”.

Arrependimento

A dirigente petista afirma que existem vários perfis de eleitores de Bolsonaro, desde aqueles que apenas são conservadores até os mais fanáticos, e acredita que a forma de condução do governo tem “claramente demonstrado que é possível fazer um comparativo de como o Brasil e era e de como está agora”.

Segundo ela, muitos se sentem arrependidos por ter dado o voto a Bolsonaro. Para ela, o engajamento da juventude na greve nacional da Educação e na Greve Geral contra a reforma da Previdência seja um dos elementos favoráveis para uma “virada no jogo” contra o governo Bolsonaro.

Mobilização

Consenso entre os representantes dos movimentos, além do Dia Nacional de Greve da Educação (15 de maio) e da greve geral de 14 de junho, é importante não deixar o “espírito de luta” esfriar.

Para Cristiana Paiva Gomes, secretária Nacional de Juventude da CUT, essa “molecada de luta” dos movimentos tem esse papel, assim como o movimento sindical e a própria sociedade.

“A partir do momento em que se tem consciência de algo que vai prejudicá-lo e prejudicar o próximo o papel é informar e dialogar, para formar uma massa de resistência contra os ataques. Isso é cidadania”, afirma a dirigente.

Os movimentos de juventude promoverão outros encontros para continuar organizando manifestações. Para o dia 4 de julho de 2019, está programada uma marcha de estudantes em Brasília (DF). A manifestação ocorre durante o 57° Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), que será realizado entre os dias 3 e 7 de julho.