‘Kit covid’ deve provocar geração de bactérias resistentes a medicamentos, diz OMS
Uso indiscriminado de medicamentos ineficazes contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina, foi estimulado por Bolsonaro e seguidores. Consequência pode ser pior do que a imaginada
Publicado: 19 Novembro, 2021 - 09h25
Escrito por: Redação RBA
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou nesta quinta-feira (18) alerta de que o uso indiscriminado de medicamentos como cloroquina, ivermectina e azitromicina para tratar sintomas de covid-19 deverá levar a um aumento de doenças resistentes a estes medicamentos, que agem contra parasitas e bactérias, mas não funcionam contra vírus de nenhum tipo. Mesmo cientificamente comprovada sua ineficácia contra o coronavírus, no Brasil, eles foram largamente adotados por parte da população, ao serem propagandeados por Jair Bolsonaro.
“Ao longo desta pandemia, vimos o uso de antimicrobianos aumentar a níveis sem precedentes, com consequências potencialmente graves nos próximos anos”, informa a entidade. Diferentes países da região já notificaram o aumento de infecções resistentes. “Antimicrobianos também têm sido mal utilizados fora dos ambientes hospitalares. Drogas como ivermectina, azitromicina e cloroquina foram amplamente utilizadas como tratamentos não comprovados, mesmo depois de fortes evidências de que não traziam benefícios”, completa a Opas.
Resistentes
Estes medicamentos, antibióticos e antiparasitários, são essenciais para conter doenças que circulam de forma endêmica. Ao serem utilizados sem necessidade, tal como estimulado amplamente pelo presidente e seus seguidores, perdem eficácia para o que deveriam ser aplicados: o combate a bactérias e parasitas. “Bactérias podem desenvolver resistência e tornar esses medicamentos ineficazes com o tempo. Na verdade, é exatamente isso que estamos vendo: devido ao uso excessivo e indevido de antibióticos e outros antimicrobianos, corremos o risco de perder os medicamentos de que dependemos para tratar infecções comuns”, explica a Opas.
Ação urgente
Como saída para uma futura crise que pode ter já sido desencadeada pelo uso destes medicamentos durante a pandemia, a Opas cobra fiscalização rigorosa, para que as pessoas não possam comprá-los sem receita médica. Os especialistas também pedem iniciativas para o desenvolvimento de novos medicamentos. “Assim como fomos capazes de canalizar nossa capacidade coletiva para desenvolver diagnósticos e vacinas para covid-19 em tempo recorde, precisamos de compromisso e colaboração para desenvolver novos antimicrobianos a preços acessíveis.”
Parte da ação proposta pela entidade também envolve a Semana Mundial de Conscientização sobre Antimicrobianos, na próxima semana. “Embora possa levar meses ou anos até que vejamos o impacto do uso indevido e excessivo, não podemos esperar para agir. Vamos começar hoje. É algo mais relevante do que nunca no contexto da covid-19. Precisamos que todos os países trabalhem juntos”, finalizam.
Balanço da covid-19
A pandemia segue letal em boa parte do mundo e no Brasil, que é o segundo país com mais mortes pelo vírus desde o início do surto, em março de 2020. Hoje, no último período de 24 horas monitorado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), foram 293 vítimas, totalizando 613.144 oficialmente registradas. Também foram notificados 12.301 novos casos. Sem contar a ampla subnotificação, 21.989.962 brasileiros já contraíram a doença. Cerca de 64% dos brasileiros estão imunizados com duas doses e 81% tomaram ao menos a primeira, segundo o Ministério da Saúde.