Escrito por: CUT Brasil

Kjeld Jakobsen, referência eterna para a luta do movimento sindical em todo o mundo

Ex-presidente da CUT, Kjeld morreu no último sábado (5), vítima de câncer. Amigos falam sobre o legado que ele deixa como referência na luta pelos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras em todo o mundo

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Perder um amigo, um companheiro de luta, uma referência é sempre algo doloroso. E é esse hoje o sentimento, em especial, daqueles que conviveram com Kjeld Jakobsen, ex-presidente interino e ex-secretário de Relações Internacionais da CUT. Referência unânime para todo o movimento sindical, Kjeld faleceu no sábado (5), aos 65 anos de idade, após uma luta árdua contra um câncer.

Dinamarquês de nascimento, Kjeld, “o Nórdico”’, como era conhecido, veio para o Brasil aos nove anos de idade. Aqui se naturalizou e desde cedo passou a exercer um memorável trabalho no movimento sindical, além e atuar no campo político e acadêmico, sempre em defesa das classes oprimidas pelo capital.

Sua vida sindical começou em Campinas, ainda nos anos 1980, no Sindicato dos Eletricitários, o Sinergia-CUT. Também naquela época ajudou a fundar e a construir a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e atuar pela unificação do movimento sindical em torno de um só objetivo: defender os trabalhadores e as trabalhadoras.

Amigos próximos descrevem Kjeld como um “cara calmo”, um ser humano único, que tinha amigos em várias partes do mundo. Companheiro animado, alegre, gostava de rock e era concentrado no engajamento em defesa dos trabalhadores em nível mundial.

Tanto que se especializou na área. Kjeld era doutor em Relações Internacionais. Profundo conhecedor dos problemas que afetam a classe trabalhadora do mundo, era figura importante em espaços de debates sore relações do trabalho como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), onde, conforme lembra o velho amigo Júlio Turra, ex-diretor Executivo da CUT, “era respeitado e todos o conheciam”.

“Kjeld era reconhecido na OIT como liderança importante na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, não só do Brasil, como do mundo”, comenta Júlio Turra.

Antônio Lisboa, atual secretário de Relações do Trabalho da CUT, que passou a ter contato mais próximo com Kjeld em 2009, concorda com a capacidade de trabalho e de fazer amigos do companheiro. “Desde 2009 fizemos várias viagens juntos, que foram recheadas de boas conversas e reflexões sobre a luta da classe trabalhadora. E em todos os lugares ele tinha amigos”.

Lisboa conta que uma das expressões mais marcantes de Kjeld era “enquanto a produção capitalista está na 4ª revolucão industrial, o movimento sindical ainda está ne 2ª”. A frase, de acordo com Lisboa mostra a visão de Kjeld sobre a necessidade de novas estratégias sindicais, o que representa um legado a todo o movimento sindical para o esforço e a luta sem fim na defesa dos trabalhadores.

O dirigente ainda descreve o companheiro Kjeld como “incansável e inquieto, mesmo com a saúde debilitada, que continuou até os últimos dias com inúmeras tarefas e frentes de luta”.

Uma dessas frentes, conta Lisboa era a sua preocupação com os novos desafios impostos ao movimento sindical. A atuação de Kjeld na pasta de Relações Internacionais da CUT teve início em 1994. E nesta época, o conceito de reformular a atuação sindical ficou ainda mais transparente quando o ex-presidente interino deu de cara com dois desafios.

Um deles era enfrentar algo que começava a se falar muito – a globalização.  O outro foi o início do diálogo sindical Sul-Sul, que teve como marco a reunião das centrais CUT, Cosatu e KCTU, da Coréia do Sul, um ano depois. A troca de experiências entre as entidades municiava o movimento sindical para o enfrentamento às políticas neoliberais que tinham – e ainda têm - o trabalhador o principal alvo para a exploração como forma de acumulação de capital.

Como secretário à frente da pasta, atuou como um dos principais articuladores no Brasil contra a adesão do país ao Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca), no início da década de 2000. E foi nessa época que assumiu a presidência interina da CUT - em maio daquele ano, exercendo o cargo até agosto.  Vicente de Paulo da Silva, o Vicentinho, havia deixado o posto para disputar a prefeitura de São Bernardo do Campo. O então vice-presidente João Vaccari Neto também não pode assumir para se dedicar à sua própria candidatura à presidência da Central.

Sérgio Nobre, presidente da CUT, lamentou a perda de Kjeld, que “deixa um legado inestimável ao movimento sindical, à CUT, à classe trabalhadora, a todos que sonham e lutam por um Brasil mais igual”.

Sérgio lembra o título de um dos inúmeros livros escritos por Kjeld para descrever a sua importância para o movimento sindical: “Um Olhar Para o Mundo”. Kjeld é autor de vários livros sobre relações internacionais, geopolítica e mundo trabalho.

A morte de Kjeld Jakobsen é a segunda de um ex-presidente da CUT neste ano de 2020. No dia 19 de março, o professor João Felício, também perdeu a batalha contra um câncer de pâncreas. Felício havia presidido a Apeoesp e a Confederação Sindical Internacional (CSI).

Kjeld tinha dois filhos, um neto e era casado com Leonor, cujos filhos o abraçaram como pai. “Kjeld deixa esta vida envolto em muito amor, solidariedade, coragem, força e a dignidade que marcaram sua história”, disse a companheira ao site da Fundação Perseu Abramo.

Além de ex-dirigente da CUT, Kjeld foi secretário de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, de 2001-2004. Foi também diretor e consultor da Fundação Perseu Abramo, além de fundador do Instituto Observatório Social.

Kjeld Jakobsen, presente!

 

*colaboração: Rede Brasil Atual e Fundação Perseu Abaramo