Escrito por: Leonardo Wexell Severo

“Latifúndio dos Riquelme é bunker da atividade delitiva"

Denuncia Dario Aguayo, advogado dos presos políticos de Curuguaty

PY
Imagem de satélite mostra em rosa a grande plantação de drogas de biotecnologia colombiana

"No Paraguai, o latifúndio Campos Morombi, de Blas Riquelme, pretendeu anexar, com o massacre de Curuguaty, os dois mil hectares das terras públicas de Marina Kué. Tudo para ampliar seu mar de maconha e soja transgênica”, denunciou Dario Aguayo Dominguez, advogado dos camponeses presos políticos do governo de Horacio Cartes. E sublinhou: “em Morombi está localizado um bunker da atividade delitiva”.

Aguayo esclareceu que, “com 75 mil hectares, Morombi é uma grande plantação de drogas de biotecnologia colombiana”. “O que se produz ali é a variedade que se cultiva nas plantações mecanizadas, que, diga-se da passagem, é a quase totalidade da extensão do bem amealhado, parte rosa da imagem que se pode ver por satélite”, explicou.

O franco-atirador de óculos negro e roupas camufladasDe acordo com o advogado, o governo Cartes tenta transformar a área em “reserva natural" somente para beneficiar criminosos. “Uma vez declarada reserva, a área está protegida por uma quantidade de perversos incentivos: não paga imposto imobiliário e outros tributos; não pode ser fracionada, nem expropriada ou ser objeto de usucapião; estando bem amparada com uma ação penal pública”. Com tal decisão, denunciou, “todo o povo paraguaio está pagando pela proteção do bunker. Por isso, o decreto que declara a área como reserva natural deve ser derrogado”.

FRANCO-ATIRADORES

O advogado denunciou a ação de franco-atiradores para forçar um “confronto” e justificar o sangrento despejo – que custou a vida de 6 policiais e 11 camponeses no dia 15 de junho de 2012 – e abrir caminho à destituição do presidente Lugo uma semana depois.

Para Aguayo, é preciso ter claro que havia um “terceiro passageiro no helicóptero Robinson”. “Ele pode ser visto na foto, de óculos negros, fones de ouvido e vestido de parapara’i (roupa camuflada) da Força de Operações da Polícia Especializada (FOPE), armado com uma submetralhadora com mira telescópica. O cano é visível no lado de dentro da cabina antes de voar de Morombi a Marina Kue no dia do massacre”, assinalou. “Vejam as duas aberturas, uma em cada porta do helicóptero, do tamanho suficiente para disparar até com bazuca”, descreveu.

OCULTANDO PROVAS

O fato do atual vice-ministro de Segurança Interna e ex-promotor do caso, Jalil Rachid - vínculado à família Riquelme -, tentar ocultar esta relevante informação e negar ao tribunal o acesso às filmagens realizadas pelo helicóptero, sublinhou o advogado, é uma comprovação da sua parcialidade.

Embora negando a ocorrência dos disparos desde a aeronave, o comissário Roque Fleitas, chefe de Polícia da Agrupação Fluvial e Aéreo Policial, reconheceu que existia “muito material” e que os pilotos seriam “chamados à Justiça”. É sabido que o piloto Marcos del Rosario Agüero morreu antes de abrir a boca, espatifando-se em agosto de 2015 a bordo de uma aeronave com características semelhantes a que pilotava. Também o farto material jamais apareceu. 

Franco-atiradores da FOPE também chegaram por terra, cercando os camponeses“O Robinson possui uma câmara filmadora de alta potência de observação e que sempre nós levamos nos despejos para que o chefe das operações primeiramente voe sobre os manifestantes, localize e observe tudo o que dispõem as pessoas em terra”, reconheceu o comissário.

Não bastasse o helicóptero, condenou Aguayo, durante o despejo “se executou uma caçada com outros dez franco-atiradores da FOPE comandados por Víctor Franco que, por terra, se posicionaram detrás dos camponeses”. “Victor Franco e seus homens entraram pelo monte e os milharais, muito antes de que Erven Lovera - que comandava a ação e foi morto - completasse o cerco aos camponeses pelo lado sul”, frisou.

Portanto, enfatizou o advogado, “conforme pode se ver na foto tirada segundos anteriores à matança, antes que Lovera chegasse para dialogar, os franco-atiradores da FOPE ingressaram por trás, equipados com armas de guerra Galil, M16, AR-15 com miras telescópicas e se posicionaram”. Embora a polícia e a promotoria neguem, estão todos na fotografia.