Escrito por: Rosely Rocha
Meio milhão de frentistas podem perder o emprego, caso seja aprovada proposta do deputado que permite ao consumidor abastecer veículo
O número de brasileiros desempregados, que hoje está em 14,4 milhões, pode aumentar em mais 500 mil, caso seja aprovada a proposta do líder do Movimento Brasil Livre (MBL), deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), de dispensar frentistas e deixar nas mãos dos consumidores a tarefa de abastecer seus próprios veículos.
Sem uma proposta econômica para acabar ou pelo menos diminuir a crise por que passa o país,o bolsonarista arrependido, que foi um dos articuladores do golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), diz que o preço dos combustíveis que alimenta a inflação pode cair se os próprios consumidores abastecerem o seus carros.
A tese do deputado, que não questiona a Política Internacional de Preços da Petrobras, adotada pelo ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) e mantida por Jair Bolsonaro (ex-PSL), responsável pelos aumentos nos preços dos combustíveis, é a de que, para reduzir o preço cobrado nas bombas, é preciso reduzir o custo com mão de obra. Ou seja, é preciso demitir frentistas e, não, mudar a política que só beneficia acionistas da petroleira.
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Kataguiri propôs uma emenda à Medida Provisória (MP) nº 1063 para criar a adoção de bombas de autoatendimento em postos de combustíveis, ignorando que isto causaria a demissão de meio milhão trabalhadores e trabalhadoras. A MP tratava somente da permissão da venda direta de etanol entre usinas e postos, mas o deputado resolveu colocar um jabuti no texto.
O secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, é enfático ao rechaçar a proposta. Segundo ele, a mão de obra do trabalhador é o que menos pesa no valor tanto do combustível quanto de outros produtos.
“O que provoca o descontrole da economia, como estamos vivendo é a falta de direcionamento do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não controla questões que estão ao alcance do governo”, afirma Ariovaldo.
“Substituir trabalhadores por equipamentos como já vem ocorrendo em bancos e supermercados não resolve a carestia. A culpa não é do valor da mão de obra do trabalhador, já mal paga”, acrescenta.
A política do governo federal de dolarizar o valor do combustível só piora a crise. O salário do petroleiro e os custos de produção no país são em reais. O trabalhador não recebe em dólar- Ariovaldo de CamargoSegundo a Federação Nacional dos Empregados em Postos de Combustíveis e Derivados de Petróleo (Fenepospetro), os salários pagos à categoria representam apenas 2% no preço do combustível.
Preços disparam com política de preços da Petrobras
A política de preços da Petrobras culminou neste ano, de janeiro a setembro, com reajuste acumulado de 39% na gasolina e 25% no diesel.
Segundo a Agência Nacional de Petróleo ( ANP), o preço médio da gasolina é de R$ 6,059, mas em vários estados o litro passa de R$ 7; o diesel ficou em R$ 4,695 e o etanol, R$ 4,653.
O deputado do MBL ignora, ou finge ignorar isso e também o fato de que boa parte da produção consumida aqui é nacional, e os brasileiros ganham em real, moeda cada vez mais desvalorizada em virtude da fuga de capital estrangeiro do Brasil, por causa dos ataques à democracia promovidos por Bolsonaro.
Para Ariovaldo de Camargo, a proposta de Kim Katiguiri, além de tudo, é demagógica. Segundo ele, os donos de postos de combustíveis, especialmente das regiões Norte e Nordeste, não têm capacidade financeira para modernizar suas bombas, já sucateadas, para o autoatendimento.
“O deputado deveria buscar outras alternativas para acabar com a precarização do trabalho, com as jornadas estafantes e a perda de direitos, que resultam em baixos salários, que diminuem o consumo e aumentam a crise econômica”, conclui o secretário de Administração e Finanças da CUT.
Autoatendimento pode provocar acidentes
A Federação Nacional dos Empregados em Postos de Combustíveis e Derivados de Petróleo diz temer, além do desemprego, pela segurança dos clientes, já que podem ocorrer acidentes com quem se expõe às substâncias cancerígenas. Os frentistas, para exercerem suas funções, são treinados a evitar incêndios.
*Edição: Marize Muniz