Escrito por: Redação CUT
Afirmação é de Débora Nachmanowicz, do IBCCrim. Para ela, PL de Bolsonaro tem alvos certos: pobres, periféricos e negros, e coloca em risco também movimentos sociais
O Projeto de Lei (PL) que amplia o conceito de excludente de ilicitude para as Forças Armadas, Força Nacional de Segurança, polícias e bombeiros, encaminhado ao Congresso nesta quinta-feira (21) por Jair Bolsonaro, coloca em riscos os movimentos sociais, que ficarão reféns dos agentes da segurança pública que poderão interpretar mobilização como “terrorismo”.
O alerta sobre a possibilidade dos termos da medida de Bolsonaro serem aplicados inclusive sobre manifestações populares foi feito pela Coordenadora-adjunta da Comissão de Amicus Curiae do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) Débora Nachmanowicz.
Diversos especialistas em segurança pública rebatem os argumentos de Bolsonaro de que o PL complementa o “pacote anticrime” do ministro da Justiça, Sergio Moro, em tramitação no Congresso Nacional.
Para eles, o objetivo da proposta é ampliar a chamada “licença para matar”, isentando de eventuais punições os militares que atuem violentamente nas chamadas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em situações que entenderem ser “casos de terrorismo”.
“Infelizmente, isso é muito arbitrário, vai depender de quem está na rua, que é a polícia, que é geralmente a Polícia Militar, e que a gente sabe, infelizmente, que acontece muitos abusos, arbitrariedades, violências. Consequentemente, dessa maneira como está no projeto, pode agravar sim esses problemas, pode gerar sim uma impunidade dessas pessoas que precisariam ter algum tipo de limite”, afirma Débora Nachmanowicz em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.
Na prática, avalia Débora, o anúncio do PL indica avanço sobre os direitos dos civis. “Aí é que está o risco”, aponta. “O maior problema aqui é que o Estado tem todo o poder. O Estado, a polícia, o Ministério Público, eles têm o poder, e o cidadão tem só os seus direitos, a lei e a Constituição para protegê-los”.
Inicialmente a “licença para matar” estava prevista na proposta do ministro Moro, mas foi retirada pelo grupo de trabalho que analisa o “pacote anticrime” na Câmara, com base em um substitutivo apresentado pelo deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ). Moro, aliás, de acordo com a Folha de S. Paulo, voltou a defender, também nesta quinta, a autorização para a letalidade policial sem punição quando os agentes tiverem que assim agir por “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”.
Bolsonaro, por sua vez, para defender sua proposta de isentar militares de responsabilidades durante as GLO, chegou a declarar, em live no Facebook, que “não vai precisar o elemento atirar no policial ou em um integrante das Forças Armadas, quem estiver portando um arma de forma ostensiva vai levar tiro, porque essa bandidagem só entende uma linguagem, linguagem que seja uma resposta mais forte por parte da sociedade”.
Para Débora, para um governo que quer liberar e flexibilizar ainda mais o porte e a posse de armas, a afirmação do presidente é uma “contradição”.
Na verdade, ressalta, no país onde a polícia mata cinco pessoas por dia, isso só no Rio de Janeiro – de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado, nos primeiros oito meses do ano foram 1.249 mortes por intervenção policial –, principalmente nas favelas e periferias, a afirmação de Bolsonaro tem alvos definidos.
“A gente sabe muito bem quem é o alvo dessas medidas, então não vai ser essa pessoa que tem esse porte de armas em um bairro nobre. Infelizmente isso vai focar a população pobre, periférica, pessoas do morro do Rio de Janeiro, que já são boa parte das vítimas e, como vimos nesse último ano, são muitos civis, crianças indo para a escola, voltando do futebol, então é uma desgraça”, afirma Débora.
De acordo com ela, o IBCCrim já estuda a admissão de Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) para tratar desses pontos das operações de Garantia da Lei e da Ordem. Débora espera que, tanto o STF, como o Legislativo, impeçam esse avanço do governo sobre os direitos da população.
“Esse projeto de lei é muito perigoso desde o início, essa questão da legítima defesa, dessa maneira que está sendo proposta, é um problema. Até porque a legítima defesa já existe no código de processo penal e ela já é uma razão de jurisprudência”, finaliza.
Ouça a entrevista completa:
Com informações da RBA