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Lula fala em melhorar a vida do povo e salário decente no debate da TV Globo

Bolsonaro usou as mais de 2 horas de debate para xingar e ofender de maneira ríspida e grosseira, mas o ex-presidente que não caiu nas provocações

Publicado: 29 Outubro, 2022 - 11h25 | Última modificação: 29 Outubro, 2022 - 12h37

Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

Reprodução
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'Fica aqui, rapaz', diz Bolsonaro. 'Não quero ficar perto de você, responde Lula

O último debate entre os dois candidatos à Presidência da República, que começou às 21h30 e terminou às 23h50 desta sexta-feira (28), na TV Globo, no Rio de Janeiro, foi irritante e tenso, mas o ex-presidente Lula (PT) controlou melhor o tempo, estava calmo, não aceitou provocações e  colou no presidente Jair Bolsonaro (PL) a pecha de candidato sem programa, sem propostas, que quer acabar com o reajuste do salário mínimo e desequilibrado.

O o atual presidente teve uma estratégia burra, enquanto o petista acabou sendo mais inteligente, analisou o colunista do UOL José Roberto de Toledo, para quem Lula ganhou o deabte.

"Lula ganhou e foi melhor. Acho que ele fez a tática mais inteligente. Ele foi para não perder, foi para consolidar o eleitorado que tinha. Falou com o pobre, falou de salário mínimo e falou de Roberto Jefferson que foi o grande evento da campanha. A meu ver a campanha foi decidida no domingo por 50 tiros de fuzil e três granadas, ali acabou qualquer chance de Bolsonaro", disse Toledo. 

O bolsonarista Roberto Jefferson (PTB), aliado de Bolsonaro, deu 50 tiros de fuzil e jogou três granadas nos agentes da Polícia Federal (PF) que foram prendê-lo no domingo passado por ordem do ministro Alexandre Molraes (STF) e está preso em Bangu, no Rio de Janeiro. Os agentes feridos na ação estão bem. 

No primeiro bloco, Lula pediu sete direitos de respeita após xingamentos e provocações do presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem o petista chamou de descompensado. Lula ganhou um direito de resposta e fechou o primeiro bloco. 

Até o mediador, William Bonner se deu um direito de resposta após Bolsonaro dizer que ele poderia ser indicado por Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ter dito durante a sabatina na TV Globo que Lula era inocente. Bonner disse que, como jornalista, não diz “coisas da minha cabeça”. Ele falou no Jornal Nacional que Lula não deve nada à Justiça com base em decisões fundamentadas do próprio STF. 

Em um momento do primeiro bloco que viralizou nas redes, Bolsonaro pediu ao petista, que havia acabado de falar, que continuasse próximo a ele no palco e levou uma invertida de Lula: Não quer fica perto de você. Assista:

Salário mínimo congelado

Este bloco começou com o atual presidente, que pelo sorteio foi o primeiro a perguntar., na defensiva, após a repercussão negativa dos estudos do Ministério da Economia, divulgados pela Folha de S. Paulo, de mudança no cálculo de reajuste do salário mínimo para o índice menor. Bolsonaro negou o “congelamento” do salário mínimo e anunciou um valor de R$ 1.400 para o ano que vem.

Leia mais: Nem picanha nem cerveja: Bolsonaro quer congelar salário-mínimo e aposentadorias

“A verdade nua e crua é que o salário mínimo está menor do que quando ele entrou. Agora, é muito fácil chegar perto das eleições e prometer”, reagiu Lula. “O povo sabe. Não houve aumento do salário mínimo. Houve apenas uma reposição inflacionária”, acrescentou, lembrando que o piso não teve ganho real. Ele também cobrou o atual presidente sobre outras promessas não cumpridas, como a da correção da tabela do Imposto de Renda.

Bolsonaro disse que nunca a economia esteve tão bem. Quando questionado, justificou-se com a pandemia. Falou dos R$ 600 do auxílio emergencial, mas Lula lembrou que o governo pretendia pagar apenas R$ 200. Questionado sobre um suposto “valor baixo” da Bolsa Família, o ex-presidente disse que o programa fazia parte de um conjunto de políticas públicas de distribuição de renda.

O debate seguiu com Bolsonaro andando para lá e para cá no palco, sem saber direito para onde olhar, se deseliquibrando ao olhar para trás para provocar Lula, que voltava para a sua bancada tranquilo após falar, ignorando o adversário a quem não chamou pelo nome e sim de presidente ou candidato, sem aceitar provocações, tentando falar sobre as suas propostas de governo. 

Segundo bloco

No segundo bloco, os candidatos debateram temas pré-definidos, expostos num painel. Lula começou questionando Bolsonaro sobre o combate à pobreza no Brasil. Citou reportagem da Folha de S.Paulo que aponta que 24 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer. “Por que o povo ficou tão miserável depois que você assumiu a Presidência?” Bolsonaro voltou a acusar a pandemia pelo seu fracasso no combate à pobreza. E apontou o Auxílio Brasil como a solução para todos os problemas. Lula então atacou a “reforma” da Previdência, aprovada no início do governo Bolsonaro, que reduziu benefícios de aposentados e pensionistas.

Veja mais sobre o primeiro e o segundo blocos que, segundo analistas foi vencido por Lula, na reportagem da RBA.

Terceiro bloco

Saúde e pandemia foram os temas do 3º bloco, que teve também caso do Roberto Jefferson, Complexo do Alemão, corte nos programas de mulheres e corrupção

Saúde e pandemia dominaram o terceiro bloco do debate presidencial, com perguntas livres entre os candidatos, a exemplo do primeiro. Logo de início, Lula afirmou que o Brasil tem 3% da população mundial, mas concentrou 11% dos casos de Covid-19. E quis saber porque o presidente Jair Bolsonaro negou a doença, escondeu o próprio cartão de vacinação, que está sob sigilo por cem anos, e cortou recursos do programa Farmácia Popular.

Bolsonaro disse que o país comprou vacinas tão logo foi autorizado e afirmou que o Brasil é “referência” mundial na pandemia. Desviou o assunto para “estádios superfaturados” para a Copa do Mundo. Lula reagiu dizendo que o atual presidente tenta enganar a opinião pública. E atribuiu a ele a responsabilidade por pelo menos metade das mortes pela covid-19. “Um dia vai bater na consciência dele.”

Complexo do Alemão

Assim como no debate realizado no primeiro turno, Bolsonaro disse que Lula foi Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para visitar “os chefões do narcotráfico”. O ex-presidente afirmou ser o único com “coragem moral” para ir à comunidade e tratar a população com respeito, recebendo o mesmo tratamento. Também defendeu política de desarmamento, argumentando que o atual governo está, na verdade, municiando o crime organizado.

O comício no bairro foi um convite do Voz da Comunidade, jornal comunitário fundado em 2005 por Rene Silva dos Santos, morador do Morro do Adeus. O jornal depois evoluiu para uma ONG, responsável por toda a organização para a segurança do candidato e de outras lideranças políticas.

Roberto Jefferson

O ex-deputado Roberto Jefferson foi tema deste bloco. “Quem atira em policial é bandido. (…) Não tenho nenhuma amizade com ele”, afirmou Bolsonaro que tenta desesperadamente se afastar do aliado às vésperas da eleição.

Lula falou em farsa, lembrando que o governo determinou inclusive a ida do ministro da Justiça para cuidar pessoalmente do caso. “Se fosse um negro de uma favela, você tinha mandado matar”, acusou. “Você não pode ter duas personalidades, cara, tenha uma só.”

Cortes em programas para mulher

O petista também questionou o presidente sobre cortes de recursos nos programas de combate à violência contra a mulher. Com papéis nas mãos, o presidente respondeu que a quantidade de feminicídios diminuiu e que seu governo trata as mulheres com respeito. As pesquisas de intenção de voto mostram preferência do eleitorado feminino por Lula.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) desmentem o presidente. Segundo o FBSP, o Brasil atingiu o maior número de feminicídios registrados no primeiro semestre de um ano em 2021, em uma série iniciada em 2017. Entre janeiro e junho deste ano, foram registrados 666 feminicídios em todo o país. Em termos relativos, entretanto, as taxas de feminicídios tiveram uma queda de 0,3% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021. 

Corrupção

Ao final do bloco, Bolsonaro disse que seu governo não tem corrupção, ao que Lula respondeu citando diversos decretos de sigilo e afirmando que esses assuntos ainda virão à tona. “Você (dirigindo-se ao atual presidente) deveria ter se preparado para discutir o Brasil, você deveria ter um programa de desenvolvimento.”

Quarto bloco

No quarto bloco do debate, novamente com assuntos pré-determinados, Bolsonaro começou escolhendo “criação de empregos”. Disse que, mesmo com a pandemia, o Brasil vem criando em média 250 mil empregos mensais.

Lula desmistificou os números apresentados pelo presidente. “No meu tempo, a medição de emprego era carteira profissional assinada. Agora não. Agora eles inventaram, colocam o trabalho eventual, o informal, o MEI. Quero saber de emprego registrado, com carteira assinada”, contestou.

O ex-presidente aproveitou para dizer que em janeiro pretende se reunir com governadores para estabelecer obras prioritárias em cada estado, como forma de estimular a criação de empregos, restabelecendo relação harmoniosa e cooperativa com entre os entes federativos. “Vi o presidente Bolsonaro em Teófilo Otoni (MG), com o governador (Romeu) Zema, para encontrar com prefeitos, e os prefeitos não apareceram. Sabe por quê? Porque os prefeitos do Brasil sabem que nunca antes na história do Brasil um presidente tratou eles com a dignidade e o respeito que eu tratei.”

Voltando ao tema do emprego, Lula destacou que, durante os seus governos, o país criou 22 milhões de empregos com carteira assinada. “E a gente não contava bico, biscate.” Por outro lado, disse que vai fortalecer o financiamento para micro e pequenos empreendedores. Afirmou também que vai rediscutir a legislação trabalhista, principalmente para garantir seguridade social aos trabalhadores informais. E reafirmou que vai isentar de Imposto de Renda os trabalhadores que recebem até R$ 5 mil por mês.

Em resposta, Bolsonaro afirmou que a economia está pronta para “decolar”. E citou a crise de 2015 e 2016, quando houve aumento na taxa de desemprego. Lula contra-atacou, ressaltando novamente que o atual governo não concedeu reajuste real ao salário mínimo, tema que dominou a primeira parte do debate.

Confira matéria da RBA com mais detalhes deste bloco.

Considerações finais

Após pouco mais de duas horas de falas muitas vezes ásperas, especialmente do candidato à reeleição, o presidente Bolsonaro, o debate terminou às 23h50, e chegou a hora das  considerações finais, momento em que o presidente pediu ao povo para reelegê-lo deputado federal, se desculpou da gafe e pediu para ser reeleito. 

Lula aprovou mais uma vez para falar em reconstrução e harmonia, enquanto o adversário disse ter governado “num dos momentos mais difíceis da humanidade”, mas esperava conquistar novo mandato. Mais uma vez, tentou ideologizar a discussão, citando temas como família, aborto e drogas, e contrapondo o verde-amarelo com o vermelho.