Lula: governo Bolsonaro ‘é inimigo da ciência, cultura e educação’
Em evento com o indiano ganhador do Prêmio Nobel da Paz Kailash Satyarthi, Lula saudou o centenário de Paulo Freire e listou avanços do seu governo na Educação
Publicado: 24 Setembro, 2020 - 13h02
Escrito por: Tiago Pereira, da RBA
Na abertura do webinário Educação e a Sociedade que Queremos, nesta quinta-feira (24), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “o Brasil não tem hoje um ministro da Educação à altura de participar de um debate deste nível”. Ele também classificou o governo Bolsonaro como “inimigo declarado da ciência, da cultura, da própria educação.”
Lula foi convidado pela relatora da ONU para o Direito à Educação, Koumbou Boly Barry, para falar da experiência brasileira na área durante o seu governo.
O evento também conta com a participação do indiano ganhador do Prêmio Nobel da Paz Kailash Satyarthi, e da secretária executiva da Parceria Global para a Educação, Alice Albright, dentre outras personalidades.
Patrono da Educação
Antes de falar dos avanços na educação registrados durante o seu governo, Lula saudou o início das comemorações do centenário de nascimento do educador Paulo Freire. O ex-presidente afirmou que Freire “tinha a grandeza de respeitar a sabedoria dos humildes”. E ensinou que “aquele que educa também está sendo educado”.
Outro legado deixado pelo seu conterrâneo, segundo Lula, é que a educação é libertadora, “no mais amplo sentido que pode ter a palavra liberdade”. “Na sociedade e na região em que nascemos, marcada pelo latifúndio, a herança da escravidão, a brutalidade dos ricos contra os pobres, a fome e a desigualdade, o simples ato de aprender a ler e escrever era uma rara conquista para alguém do povo”, afirmou.
Experiência brasileira
Lula listou os esforços realizados durante o seu governo para tornar a educação “um direito de todos”. Em primeiro lugar, ele destacou o programa Bolsa Família, que transferiu renda para 14 milhões de famílias, que tinham o compromisso de manter as crianças na escola. “Creio que esta relação direta entre transferência de renda e acesso ao ensino é uma das chaves do sucesso do Bolsa Família, uma das razões pelas quais foi adotado em tantos outros países.”
O ex-presidente destacou a expansão do ensino técnico profissionalizante e a ampliação no ensino superior como as duas principais marcas deixadas pelo seu governo na área.
“A primeira delas foi a abertura de 430 escolas de ensino técnico e profissionalizante. Isto é quatro vezes mais do que tudo que havia sido feito nos cem anos anteriores ao nosso governo”, apontou. “Ao mesmo tempo, ampliamos o número de matrículas nas universidades públicas e privadas, de menos de 4 milhões para mais de 8 milhões. Abrimos 19 novas universidades e 173 campi.”
Da mesma forma, a aprovação da Lei de Cotas para alunos de escolas públicas, negros e indígenas, somada a políticas de financiamento estudantil – como o Prouni e o Fies – colaboraram para a democratização do ensino superior no Brasil.
Lula também citou a aprovação do piso nacional do magistério para professores da rede pública nos ensinos fundamental e médio. Ressaltou, ainda, avanços na merenda escolar, com a aquisição de alimentos da agricultura familiar. Além de investimentos no transporte escolar, biblioteca e informatização das escolas.
Pandemia
Lula disse não saber como será o mundo após a pandemia de coronavírus. Ele manifestou solidariedade às famílias das centenas de milhares de vítimas da covid-19 ao redor do mundo. Por outro lado, assinalou que a doença “não é democrática”. “Todos estão sujeitos a contrair o vírus, mas é entre os mais pobres que ele produz sua mortal devastação.“
Com a pandemia, entretanto, caiu o “mito” do Estado mínimo. E até especialistas defensores da “austeridade fiscal” entenderam que era o momento de gastar, segundo o ex-presidente, “porque a vida não tem preço e que a economia deve existir, afinal, em função das pessoas, não apenas dos números”. Além da atuação do Estado, as saídas para a crise devem envolver “a academia, os intelectuais, os artistas, partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, igrejas, todos e todas”.
Para Lula, “a imensa desigualdade entre seres humanos é simplesmente intolerável”. E concluiu dizendo que “nunca foi tão necessário sonhar e seguir lutando para construir um mundo melhor do que este em que vivemos”.