O presidente Luiz InácioLula da Silva reafirmou que o Brasil não vai reconhecer o resultado daseleições realizadas em Honduras nesse domingo (29). Ao chegar para a 19ª CúpulaIbero-Americana, na cidade de Estoril, o presidente disse que o país não voltaráatrás e ressaltou que legitimar o resultado eleitoral hondurenho pode abrir umgrave precedente na América Latina.
"O Brasil não tem por querepensar a questão de Honduras. É importante ficar claro que a gente precisa,de vez em quando, firmar convicção sobre as coisas, porque isso serve de alertapara outros aventureiros", disse o presidente.
Lula considerou "um sinalperigoso e delicado" o fato de os golpistas não terem permitido que Zelayavoltasse ao poder para coordenar o processo eleitoral. "Ainda existem muitospaíses, sobretudo da América Central, em situação de vulnerabilidade política.Portanto, o Brasil não tem que reconhecer nem repensar a questão de Honduras",afirmou.
O presidente minimizou asdivergências com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em relação àsituação política em Honduras. "Obviamente que nós temos discordânciasobre como foi tratada a questão de Honduras, mas também se entre dois chefesde Estado não tiver nenhuma discordância, não tem graça", disse Lula, quenão descartou a possibilidade de eventuais recuos entre os presidentes dospaíses da América do Sul, que, em princípio, declararam que não reconheceriam oresultado das eleições hondurenhas.
Segundo ele, cada paístomará a decisão em função da própria realidade política. "Eu acho que ospaíses da América do Sul que tomaram a decisão, certamente alguns poderãomanter outros não, mas o Brasil manterá a posição porque não é possível a genteaceitar um golpe, seja ele militar, seja ele disfarçado de civil, como foi ogolpe de Honduras".
O presidente Manuel Zelayafoi tirado do poder em 28 de junho por um golpe de Estado. Cerca de três mesesdepois, ao retornar clandestinamente a Tegucigalpa, recebeu abrigo na embaixadabrasileira, onde permanecerá até que sua segurança seja assegurada, afirmou opresidente.
"Até que o governo deHonduras dê garantias de vida para o presidente Zelaya, ele vai ficar naembaixada brasileira. Nós não podemos permitir que ele saia sem que hajagarantia de segurança para que volte para sua casa. É no mínimo uma piada tudoisso, mas, de qualquer forma, faz parte da cultura latino-americana", disse.
Abstençãoalta
Em Honduras, o presidentedeposto, Manuel Zelaya, afirmou o índice de abstenção foi muito alto durante oprocesso de votação, chegando em torno de 65%, segundo informações que eledisse ter recebido de diferentes regiões do país.
"Pelas fontes quetenho do interior do país existem lugares onde a abstenção foi de 40% e emoutros chega a 80%", disse por telefone Zelaya à Agência EFE, da Embaixadado Brasil em Tegucigalpa.
Em contato com a Telesur,Zelaya assinalou sua condição de prisioneiro, no marco das eleições impostas,afirmando que elas são "uma fraude evidente que o povo não apoia".
Zelaya sublinhou que oregime mantém o povo reprimido e condenou a posição dos Estados Unidos, ao darsinal verde para a eleição, que pretende apenas limpar a barra de um golpe deEstado militar, ao mesmo tempo que perguntava "É isso que os EstadosUnidos querem para a América Latina?"