Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT

Lula segue candidatíssimo, diz Boff após encontro com ex-presidente em Curitiba

Segundo o teólogo, Lula quer voltar ao poder para radicalizar o projeto de dignificação de cidadania a partir da maioria da população que não recebe atenção de ninguém

Alex Capuano/CUT

Depois de ser humilhado e impedido até de entrar na sede da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, onde Lula é mantido preso política há exatos 30 dias, o teólogo Leonardo Boff, visitou o ex-presidente na tarde desta segunda-feira (7) e, na saída, disse que tinha um recado de Lula para todos que acreditam na sua inocência e lutam incansavelmente pela sua liberdade: "Ele disse que é candidatíssimo".

 Segundo Boff , o ex-presidente Lula “disse que só renuncia à sua candidatura à presidência da República no dia em que o [juiz Sérgio] Moro mostrar uma única prova de que ele [Lula] é dono do triplex”.

“Enquanto não existir essa prova”, continuou o religioso, “Lula segue candidato e quer voltar ao poder para dar centralidade das políticas brasileiras aos mais pobres e avisou que irá governar a partir dos mais pobres para ver se eles abandonam essa situação de miséria em que vivem e se tornam pessoas humanas, que convivam conosco sem violência mas com participação”.

A visita do amigo de longa data foi autorizada na condição de líder espiritual, durou uma hora e meia e, na saída, Boff foi ao Acampamento Marisa Letícia para falar com a imprensa.

Joka Madruga/Agência PT

Aos jornalistas, o frei disse que Lula está muito bem, com entusiasmo e vigor “mesmo vivendo em uma solitária e só podendo conversar com um dos guardas, que o trata muito bem”.

 

Está bem, mas ressaltou o teólogo, está muito indignado com o acúmulo de mentiras que parte do mundo jurídico e da mídia empresarial insistem em espalhar. "As coisas que o Moro fala na imprensa", prosseguiu Boff, "são um montão de mentiras e Lula quer que ele prove pelo menos alguma delas".

“Ele tem uma indignação justa de quem sofre por causa de falsificações, destruições e mentiras com o objetivo de liquidar a candidatura dele e enfraquecer ao máximo possível o PT. Mas o que realmente está em cheque é a desmoralização de um projeto que tem uma direção social inegável, como nunca na nossa história se fez tanto para as populações marginalizadas”, refletiu.

Lula quer prolongar essa política que nunca houve no nosso país porque as elites do atraso sempre impediram as mudanças que, se acontecem, são sempre mais do mesmo- Leonardo Boff

Boff afirmou, ainda, que as reflexões que Lula vem fazendo na solitária em que foi jogado desde o dia 7 de abril, estão servindo para aumentar sua resistência e ânimo. “São típicas de alguém que quer aprofundar a espiritualidade não no sentido das religiões, mas do ser humano que questiona a razão vida e a razão de estar preso ali. Deve ter um desígnio maior, que transcende a ele e a nós”, refletiu.

“Lula está aprofundando a sua própria trajetória e colocando-a num nível maior, que não se reduz a brigas jurídicas e a questões de prendê-lo ou soltá-lo. Isso é uma passagem da vida, como Gandhi que foi preso mais de 30 vezes e Mandela que viveu 23 anos preso, que são os grandes líderes das políticas mundiais em benefício da humanidade”, desabafou Boff.

O frei reforçou que Lula se energiza ouvindo as manifestações e apoios de solidariedade que vêm do acampamento e dos atos políticos em frente à sede da PF e que essa solidariedade aumenta cada vez mais o ânimo do ex-presidente.

“Ele quer agradecer porque escuta a voz de vocês e avisou que vai sair mais forte do que entrou”, destacou Boff.

O teólogo disse, ainda, que há, em Lula, uma dimensão espiritual, profundamente ética, “que aumenta cada vez mais que ele descobre as distorções e mentiras que fazem para destruir a visão generosa de mundo que ele tem”.

Segundo Boff, Lula continua lendo muito e sente mais a solidão nos finais de semana, que era o momento em que podia ficar mais tempo com a família e amigos pessoais.

“Lula nunca foi de sair para eventos e restaurantes, pois sua prioridade sempre foi a esposa [Marisa Letícia, falecida em 2017], filhos e netos”, concluiu o teólogo.