Escrito por: Isaías Dalle

Lula vai participar das mobilizações do dia 13 de março

Ele anuncia presença ao presidente da CUT, Vagner Freitas, durante ato "Defender a Petrobrás é defender o Brasil", ontem no Rio. MST também garante participação

Roberto Parizotti
Ex-presidente e Vagner Freitas ontem, em ato na sede da ABI

As manifestações convocadas pela CUT para o próximo dia 13 de março ganharam reforços de peso, segundo anunciado na noite de ontem, durante o ato “Defender a Petrobrás é Defender o Brasil!”, realizado na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no centro do Rio.

“Vagner, se você me convidar, eu vou participar”, disse Lula, no encerramento de sua fala, dirigindo-se ao presidente da CUT Nacional Vagner Freitas.

Antes dele, o líder do MST João Pedro Stédile havia garantido presença. “Em nome não só do MST, mas de todos os movimentos organizados do campo, eu afirmo aos petroleiros: marcharemos com vocês para o que der e vier”.  As organizações dos trabalhadores e trabalhadoras rurais planejam atos unificados em diferentes locais do Brasil na semana de 9 a 13 de março.

As mobilizações do dia 13 devem ocorrer em diferentes cidades do Brasil. Em São Paulo, o local da mobilização será diante do prédio da  Petrobrás, na avenida Paulista, a partir das 15h. Os manifestantes depois se juntarão aos educadores estaduais públicos, que no mesmo horário estarão realizando assembleia no vão livre do Masp.*  Os demais atos, após confirmação das entidades organizadoras, serão divulgados pela CUT.

“Temos de voltar às ruas no dia 13 de março para dizer que a Petrobrás é nossa e ninguém tasca”, completou Stédile. O ato realizado ontem no Rio foi uma iniciativa da CUT e da sua FUP (Federação Única dos Petroleiros), e contou com a presença de trabalhadores da Petrobrás, de intelectuais, jornalistas, pesquisadores, autoridades políticas e dirigentes sindicais de diferentes categorias.

Reforma política

Vagner: Vagner Freitas, ao falar para as pessoas que lotaram por completo o auditório da ABI, afirmou: “Nós estamos fazendo uma luta de enfrentamento de classe. Não percam nunca isso da vista de vocês”.  Para ele, o ato de ontem não foi apenas motivado pela “campanha sórdida” contra a Petrobrás. “Queremos alertar o Brasil para as mentiras que são contadas todos os dias por uma mídia golpista e uma direita golpista”.

Em tom de desafio, o presidente da CUT questionou os reais interesses que cercam o tema Petrobrás e a operação Lava Jato. “Que moral têm esses setores, que governaram o Brasil por 500 anos, para falar em corrupção? A vida inteira eles sucatearam os interesses do Brasil”.

“Quer discutir corrupção? Vamos acabar com o financiamento empresarial de campanha já”, disse ainda, em referência à necessidade de uma reforma política que impeça doações de bancos e empresas para candidatos. Outro passo necessário, segundo Vagner: “Só vamos passar o Brasil a limpo com uma reforma democrática da mídia”.

Vagner afirmou que as investigações sobre corrupção na Petrobrás não podem servir de pretexto para paralisar a empresa. Defendendo punição para aqueles que as investigações comprovarem culpa, o presidente cutista disse que as atividades da Petrobrás precisam continuar em ritmo normal, para evitar interrupção dos investimentos da empresa e consequente desemprego.

Mobilização de rua

O ato de ontem foi interpretado por participantes como um fato que pode impulsionar a mobilização da esquerda e dos movimentos populares na atual conjuntura, em que a direita procura inviabilizar o governo Dilma.

“Espero que isso que está ocorrendo aqui seja o prenúncio da retomada das mobilizações de rua. O que está se passando no Brasil é uma reprise do que aconteceu em 1954 e em 1964. Precisamos estar atentos para impedir retrocessos”, comentou o cineasta Luiz Carlos Barreto, fazendo referência aos momentos em que o cerco a Getúlio Vargas o levou ao suicídio e a cruzada anticomunista gerou o golpe militar.

Lideranças cantam o Hino Nacional“Estamos acompanhando a espetacularização de um processo jurídico, baseado em vazamentos seletivos de dados à imprensa, usado pelos entreguistas que vêm perdendo privilégios nos últimos anos”, comentou Virgínia Bastos, a Vic, presidenta da UNE. “Mas se há palavras que não combinam com a direita brasileira são ética e transparência”, disse, para arrematar que a investigação é um pretexto para desmontar políticas e projetos sociais, como é o caso da destinação dos recursos do pré-sal para educação. “Mas a todos aqueles que querem desmantelar nosso patrimônio, diremos uma vez mais: não passarão”, completou.

“Eu quero paz e democracia, mas a gente sabe brigar também”, afirmou Lula. Para ele, a presidenta Dilma “não pode nem deve dar trela” para as polêmicas em torno da Petrobrás, caso contrário seu governo pode ficar paralisado. “A Dilma tem que levantar a cabeça e dizer: ‘Eu ganhei as eleições’”. Lula apontou que a defesa da Petrobrás é tarefa dos movimentos sociais.

“Nós estamos começando uma luta, e essa luta vai demorar”, comentou. O jornalista e escritor Eric Nepomuceno havia dito, nos primeiros momentos do ato: “É dever de cada um de nós sair daqui com clareza sobre o que está em jogo. Não há nada de estranho por trás dessa campanha contra a Petrobrás. Não é por trás, é a própria campanha. E não é estranho, é claríssimo”. Nepomuceno afirmou que o objetivo é inviabilizar a atuação da empresa, desmoralizá-la e, com isso, abrir todo o espaço para empresas estrangeiras.

Briga de rua

No entanto, a imprensa tradicional deu prioridade, na noite de ontem em seus portais de notícias, e durante o dia de hoje em seus jornais impressos e emissoras de rádio e TV, a confrontos que ocorreram diante da sede da ABI, na rua Araújo Porto Alegre, antes do início do ato político.

Militante aguarda início do ato em frente à ABIHavia cerca de 300 militantes vestidos com camisetas da CUT e da FUP aguardando o ato, com faixas e bandeiras. Um telão foi instalado na rua, para transmitir a atividade. Um grupo – que variava de oito a 10 pessoas, de acordo com a movimentação – colocou-se na calçada em frente para gritar slogans contra o PT, Dilma e Lula.

Não eram transeuntes casuais, como afirmaram alguns jornais, mas pessoas que permaneceram ali por pelo menos 40 minutos, tempo em que a reportagem acompanhava a cena. Batiam panelas e tentavam agarrar as faixas e cartazes dos militantes.

Apesar de o caminhão de som transmitir o tempo todo instruções para os militantes não reagirem às provocações, em determinado momento houve troca de sopapos. Nada, no entanto, que chegue perto da ideia de pancadaria generalizada e prolongada que a mídia tentou transmitir.

Orgulho de ser Petrobrás

José Maria Rangel, coordenador-geral da FUP, em sua intervenção, afirmou que trabalhar na Petrobrás é motivo de orgulho, e não de vergonha ou confusão, como tenta semear a mídia.

“Temos de ter vergonha de trabalhar numa empresa que representava 3% das receitas do setor, no mundo inteiro, e hoje representa 13%? Temos de ter vergonha de trabalhar numa empresa que hoje investe o equivalente a R$ 300 mil por dia na atividade produtiva brasileira? Temos de ter vergonha de trabalhar numa empresa que tinha pouco mais de 2 mil empregos e que nas eras Lula e Dilma saltou para quase 90 mil empregos? Não, nós temos de nos orgulhar”, disse.

Na plateia, trabalhadores da empresa vestiam o tradicional uniforme laranja da empresa. “Se eu fosse petroleiro, começava a passear de domingo com essa roupa que vocês têm”, diria depois Lula, quando de sua intervenção.

O físico Luiz Pinguelli Rosa, histórico defensor de um modelo nacionalista de energia, disse, dirigindo-se à plateia: “Punam-se os culpados, mas deixem a Petrobrás em paz”. Signatário de recente manifesto da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Pinguelli Rosa completou: “Estão fazendo uma campanha contra a empresa, contra a engenharia brasileira, contra o povo brasileiro”.

Trabalhadores da Petrobrás na plateiaStédile resumiu: “O que está em jogo agora é a lei de partilha. As empresas estrangeiras querem abocanhar o pré-sal, e para isso estão usando os tucanos brasileiros. A burguesia nacional não quer o investimento em educação e saúde”. Por fim: “Nós só temos uma forma de derrubá-los: nas ruas”.

Também participaram do ato de ontem, entre outros, o ex-presidente da OAB-Rio Wadih Damous, o jornalista Luis Nassif, o ator Antonio Pitanga, o antropólogo Otávio Velho, o representante do Fora do Eixo/Mídia Ninja Felipe Altenfelder, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula Roberto Amaral, o ex de Meio Ambiente Carlos Minc, o representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás Deivyd Bacelar, os prefeitos de Niterói, Rodrigo Neves Batista (PT), e de Maricá, Washington Siqueira Quaquá (PT), o presidente da Fundação Perseu Abramo Marcio Pochmann, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, e o secretário de Relações Internacionais da CTB Givanildo Pereira.

*informações atualizadas no dia 27 de fevereiro.