Lula: Vou ser presidente pro povo brasileiro voltar a ser feliz
Ex-presidente Lula em entrevista na Bahia falou sobre a possibilidade de ser preso, as mentiras da Lava Jato, as perseguições que sofre e disse que sua tranquilidade tira a tranquilidade de seus acusadores
Publicado: 16 Março, 2018 - 18h28 | Última modificação: 16 Março, 2018 - 18h51
Escrito por: Rosely Rocha, especial para Portal CUT
O ex-presidente Lula disse estar indignado com a condenação imposta pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, no caso do tríplex do Guarujá, que foi confirmada em segunda instância pelo Tribunal Federal Regional da 4ª Região (TRF4), de Porto Alegre, mas não quer estar acima da lei, quer apenas que as provas contra ele sejam apresentadas por seus acusadores.
“Tenho história nesse país. Combati a corrupção melhorando a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, mas defendo que a presunção de inocência tem de existir sempre, até prova em contrário”, disse Lula em entrevista aos jornalistas Pablo Reis e Matheus Carvalho, do programa Linha de Tempo, de Salvador, Bahia.
Sou vítima de processo político, e não criminal.
Na entrevista, Lula disse que a PF fez um inquérito mentiroso, a partir das “denúncias” da Rede Globo; o Moro “comprou”, o condenou e o TRF4, sem ler os autos do processo, confirmou a sentença e ainda aumentou a pena, de nove para 12 anos.
Um cidadão pode ser condenado se ele cometer um crime. Estou condenado por um apartamento que não é meu. Só quero que leiam meu processo. Se não tiver provas, peçam desculpas.
Lula disse ainda não aceitar que um menino que tem como mérito ter estudado Direito e feito um concurso, apresente um Power Point [se referindo ao promotor da Lava Jato, Deltan Dallagnol], e diga que o PT é uma organização criminosa; acusar todo mundo sem provas, com apenas sua convicção.
Apresente provas, o crime. Um menino como esse deveria ser exonerado a bem do serviço público.
O ex-presidente cobrou seriedade de seus acusadores. “Precisamos exigir que as pessoas que compõem essas instituições sejam sérias, responsáveis. Tenho história de vida e luta neste país e não aceito mentiras a meu respeito”.
Por serem acusações mentirosas, Lula disse aos jornalistas que tem certeza de que não será preso. “Estou tranquilo. Meus acusadores têm menos tranquilidade do que eu. A minha tranquilidade tira a tranquilidade deles”.
Vou ser presidente, se o povo deixar
Perguntado sobre a liderança nas pesquisas para as próximas eleições à Presidência, Lula disse que sabe que pode ganhar a eleição e é por isso que querem desmoralizá-lo, sem provas.
“Não tenho idade para aguentar meninos mentindo a meu respeito. Se não apresentarem provas, vou voltar a ser presidente para o povo brasileiro voltar a ser feliz, pra ele ter trabalho, salário, educação”.
“Quero o brasileiro comendo carne, peito de frango, filé mignon, a carne que quiser; não comer apenas carne de pescoço. Vou ser presidente pro povo voltar a ser feliz. Pro povo voltar a andar de avião, viajar com a família, a dívida pública cair, pra economia melhorar. Isto eu sei fazer”, disse Lula.
Trajetória
O ex-presidente relembrou que trabalhou desde os 13 anos de idade, exercendo funções de engraxate e alfaiate, e de ter morado em casa que quando chovia, a água subia até o colchão, trazendo baratas, ratos e fezes.
“Já comi marmita com ovo gelado de outro dia, já teve dia que eu não tinha o que comer, e eu nunca fiquei com ódio. Isso criou em mim, um senso de justiça”.
Sou um homem sem rancor, sem ódio, apenas fico indignado com injustiça.
Lula lembrou que quando deixou a Presidência em 2010, o comércio varejista crescia 14%, o PIB 7,5 %, 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras tinham carteira assinada e o salário mínimo subiu mais de 74% nos governos do PT.
“Agora vem esse diretor do Banco Mundial, esse almofadinha, dizer que o salário mínimo no Brasil é alto. Manda ele vir morar aqui em Salvador (local da entrevista) e viver com um salário”.
A educação como forma de crescimento de um povo
Lula lembrou também que seu governo criou universidades e escolas técnicas; que a República Dominicana criou sua primeira universidade em 1538, o Peru em 1550; a Bolívia em 1664; a Colômbia em 1662 e a Argentina fez sua primeira reforma universitária em 1918. Já o Brasil criou sua primeira universidade apenas em 1920.
“Somos o maior país da América Latina, mas a elite brasileira foi perversa a vida inteira. Nunca se importou com o povo mais humilde, o trabalhador, só se importava com a Casa Grande”.
Lula citou uma reportagem do jornal O Globo que dizia que “a classe média estava “feliz” com a diminuição do “peso” do salário da trabalhadora doméstica em seu orçamento”.
“Durante meu governo, a empregada doméstica era tratada com respeito, não como escrava. Eu sonho que no Brasil não tenha mais empregada doméstica. Sonho com cada um limpando a sujeira que faz, e ninguém fazer papel de serviçal e ser achincalhado como são as domésticas. Essa gente não quer que o povo melhore de vida. Não quer que o trabalhador coma, se vista bem; que possa ir ao teatro, ao cinema. Que país eles querem criar? perguntou. "Eu quero outro país.Todo mundo tem o direito de viver bem".
O bárbaro assassinato de Marielle Franco
A execução da vereadora do PSOL, Marielle Franco e de seu motorista Anderson Pedro Gomes, na última quarta-feira a noite, no centro do Rio de Janeiro, foi lamentada por Lula. Ele disse que conversou por telefone com a irmã da vereadora e que prometeu visitar sua família.
“O que aconteceu é inaceitável. Uma moça jovem que cumpria com seu mandato, que defendia direitos humanos e cobrava mais segurança pro povo carioca e, de repente ela foi chacinada. Não sei se a polícia esta envolvida. Não quero acusar sem provas, mas nove tiros não é coisa de amador, é profissional”, analisa.
Para o ex-presidente a sociedade brasileira precisa pressionar a polícia, o estado e as Forças Armadas, para que essas instituições não meçam forças e apresentem os “safados” que fizeram isso com uma moça de bem. “É triste nos apresentar aos olhos do mundo como um país onde acontece essa barbaridade”.
Candidatura ao Prêmio Nobel
Lula disse que receber essa honraria não depende dele, que o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel tomou a iniciativa. “Se eu ganhar, ficarei muito agradecido”.