Escrito por: Érica Aragão
Infelizmente, não há nada a comemorar, dizem dirigentes da CUT. A agricultura familiar vem sendo golpeada pelo governo Bolsonaro e a palavra de ordem do dia é lutar e resistir, disse Carmen Foro
A luta e a resistência dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais para sobreviver no campo e continuar produzindo alimento saudável vão marcar o Dia Internacional da Agricultura Familiar neste 25 de julho.
Depois de anos de conquistas de direitos básicos no campo, 2019 tem sido o ano em que os agricultores familiares em conjunto com a classe trabalhadora urbana intensificam as denúncias contra os retrocessos do governo de Jair Bolsonaro (PSL) e se mobilizam periodicamente para reivindicar a sobrevivência, em especial no campo, onde a vida e o trabalho estão sobre ameaça.
O governo reduziu drasticamente os investimentos para a agricultura familiar, entre 75% e 80%, asfixiando o setor e enfraquecendo políticas necessárias para a sobrevivência das famílias que vivem e produzem em suas terras, pontua a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro.
E no último plano safra, prossegue a dirigente, o governo deixou brecha para que o agronegócio possa usar os poucos recursos que estão destinados ao agricultor familiar.
“A agricultura familiar vem sendo golpeada profundamente e precisa continuar lutando pela existência do setor, que produz mais de 70% dos alimentos que chegam às mesas do povo brasileiro. Temos esta tarefa e uma potencialidade grande no nosso país. E como não acreditamos que este governo possa fazer qualquer coisa por nós, o jeito é lutar e resistir”, ressaltou Carmen.
A Secretária da Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida da Silva, concorda com a companheira e reafirma que é preciso continuar resistindo e lutando porque não é este o país que queremos.
“É preciso resistir porque são os agricultores familiares que mais se preocupam com a sustentabilidade, com o meio ambiente, com as sementes, com a água, com a preservação da cultura, que são essenciais para uma vida com qualidade, tanto no campo quanto na cidade. Tudo isso vem em sentido contrário às medidas deste governo”, afirmou Madalena.
Agricultura família x agronegócio
A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, que também é agricultora familiar, critica o governo por dizer que o país tem uma agricultura só. “Não é verdade. Eles [o governo] não reconhecem a agricultura familiar porque é um governo que privilegia o agronegócio”.
“Lutamos da década de 1990 até o governo Lula para que a agricultura familiar, que não é a mesma coisa que a agricultura empresarial, fosse reconhecida. E este governo está conseguindo em poucos meses destruir o que conquistamos nos governos democráticos e populares”, afirmou Carmen.
E ela tem razão. A agricultura familiar é um modo de vida, uma produção que envolve membros de uma família e precisa ter a presença do Estado para garantir que condições de vida e produção de alimentos saudáveis. Além disso, a agricultura familiar preserva o meio ambiente e cuida da terra.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 4,4 milhões de famílias agricultoras, o que corresponde a 84% dos estabelecimentos agropecuários do país e emprega pelo menos cinco milhões de famílias no Brasil.
Já o agronegócio, agricultura empresarial privilegiada governo Bolsonaro, é responsável pelas monoculturas que desequilibram o ecossistema, usam venenos, empobrece o solo e a biodiversidade. Além disso, gera poucos empregos, devido à colheita e plantio mecanizados, e sua principal economia é baseada na exportação.
Sucessão rural
A secretária de Juventude da CUT, Cristina Paiva, levanta outra preocupação do campo que é a sucessão rural, a migração massiva dos trabalhadores e das trabalhadoras mais jovens para cidade.
Para a dirigente, é necessário construir políticas públicas para a permanência da juventude no campo, como saúde, educação e várias questões que abrangem a qualidade de vida desses trabalhadores e trabalhadoras, mas o governo Bolsonaro trabalha em sentido contrário e contribui para piorar a situação.
“Não é dia de comemorar, porque só comemoramos quando há política e vontade de ajudar a juventude. Hoje é mais um dia de resistência da classe trabalhadora e da juventude, porque estamos vivendo retrocessos, com escolas fechando, universidades públicas sucateadas e saúde de má qualidade. É um desafio diário permanecer no campo”, afirmou Cristina.
“Por isso, estaremos nas ruas quantas vezes forem necessárias. A resistência e a luta são as nossas forças para sobreviver a esta conjuntura e para enfrentar de maneira coletiva os desafios postos a toda sociedade, em especial a do campo”, finalizou a secretária de juventude da CUT.
Marcha das Margaridas
A resistência da agricultura familiar passa também pela luta das mulheres camponesas. A Marcha das Margaridas reúne, a cada quatro anos, trabalhadoras rurais de todo o país nas ruas da capital federal para denunciar retrocessos e reivindicar direitos. Para a edição 2019, são esperadas aproximadamente 100 mil mulheres.
Com o lema “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, Brasília vai receber nos dias 13 e 14 de agosto mais uma edição da Marcha. O evento é a maior ação organizada na América Latina por mulheres do campo, da floresta e das águas.
“Nós vamos fazer mobilizações e mostrar para a sociedade nosso descontentamento. A Marcha das Margaridas é momento de gritar e denunciar as atrocidades que este governo está fazendo para toda agricultura familiar. Nós temos que nos fortalecer desde o nosso chão, instrumentos de lutas coletivas e denunciar. Este o caminho que temos que seguir”, disse Carmen Foro.
Sobre o dia 25 de julho
O dia 25 de julho é dia Internacional da Agricultura Familiar. A data é resultado dos debates promovidos em 2014, Ano Internacional da Agricultura Familiar definido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para aumentar na sociedade a conscientização e o entendimento dos desafios que os agricultores enfrentam e também ajudar a identificar maneiras eficientes de apoiá-los.
Para a FAO, a agricultura familiar é uma forma de classificar a produção agrícola, florestal, pesqueira, pastoril e aquícola que é gerida e operada por uma família que depende principalmente de mão de obra familiar, incluindo tanto mulheres, como homens. Além disso, contribui para a erradicação da fome e da pobreza, para a proteção ambiental e para o desenvolvimento sustentável.