Luta histórica para tornar o 1º de maio Dia do Trabalhador atravessa gerações
Documentos revelam que, ao oficializar o Dia do Trabalhador há mais de cem anos, muitos sindicatos já se mobilizavam no 1º de maio para organizar comícios e protestos contra a exploração no trabalho
Publicado: 25 Abril, 2025 - 09h29 | Última modificação: 25 Abril, 2025 - 10h39
Escrito por: Walber Pinto | Editado por: Rosely Rocha

Foi no fim do século 19 que trabalhadores e trabalhadoras que viviam uma realidade desgastante e desesperadora com o custo de vida alto e salários baixos se mobilizaram por mudança. Naquela época era comum a existência de jornada de 14 horas ou mais nas fábricas. Não é à toa que a luta pela redução da jornada de trabalho era assunto constante nos debates de operários e operárias de mundo todo.
Em julho de 1917 a primeira grande greve que parou o Brasil durante uma semana envolveu 50 mil operários da cidade de São Paulo. Naquela época o país enfrentava carestia, alta do custo de vida e salários defasados.
As paralisações eram casos de polícia. A grande greve de 1917 teve 200 mortos, incluindo operários e policiais, segundos documentos do Arquivo do Senado Federal.
Mobilização de trabalhadores
Não existia nenhum direito trabalhista no país. Mas graças à luta dos movimentos dos trabalhadores que, ao longo dos anos, o 1º de Maio se consolidou como um dia de reflexão e reafirmação de luta da classe trabalhadora que move o Brasil e ao longo dos anos, a data foi sendo incorporada pelo movimento sindical como um dia de luta por direitos.
Documentos da época guardados no Arquivo do Senado, em Brasília, revelam que, ao oficializar o Dia do Trabalhador há mais de cem anos, muitos sindicatos já se mobilizavam no 1º de maio para organizar comícios e protestos contra a exploração no trabalho.
A celebração da data já havia começado a partir de 1890, quando os movimentos de operários originados pela revolução industrial surgiram fazendo com que no início do século 20 nascessem os primeiros sindicatos. Mas, somente em 1924, o então presidente Arthur Bernardes, decretou, oficialmente no país o 1° de maio como Dia Internacional do Trabalhador. (Abaixo o documento original da lei que em 1924 tornou o 1º de maio feriado).
Era Vargas
No ano de 1930, o presidente Getúlio Vargas passa a garantir uma série de reivindicações históricas dos trabalhadores mas, em contrapartida, proibiu as greves. Em 1º de Maio de 1940, Vargas institui o salário mínimo nacional e a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), implementada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, sancionada pelo então presidente, unificando toda legislação trabalhista existente no Brasil.
Ditadura militar
Durante a ditadura militar no Brasil (1964–1985), milhares de pessoas foram perseguidas, torturadas, mortas ou desapareceram por se oporem ao regime. Sindicatos foram fechados, mas o movimento sindical resistiu. Em 1979, metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, entraram em greve exigindo 78% de reajuste salarial. Assembleias lotaram o estádio da Vila Euclides e, apesar da greve ser declarada ilegal, o movimento persistiu. A mais marcante dessas assembleias foi a de 1ºde maio daquele ano com 150 mil trabalhadores liderados por uma pessoa que mudaria a história desse país: Luiz Inácio Lula da Silva. Lula propôs uma trégua. A greve terminou com um reajuste de 63% e o sindicato retomou sua gestão. Nascia o embrião do novo sindicalismo brasileiro.

Luta começou no século 19
Nos Estados Unidos, no século 19, durante a época da expansão da revolução industrial, se começou a formar grandes centros urbanos com concentração de trabalhadores. Dando início a uma nova configuração das relações de trabalho surgia e exacerbava a característica histórica da relação entre poder econômico e proletariado - a exploração da mão de obra – levando a classe trabalhadora a se unir para protestar e exigir direitos, como os brasileiros e brasileiras farão mais uma vez neste ano em todo o país.
No dia 1° de maio de 1886 se iniciou em Chicago, nos Estados Unidos, uma histórica greve geral, convocada pela Federação dos Grêmios e Uniões organizadas dos Estados Unidos e do Canadá, que parou mais de cinco mil fábricas com cerca de 340 mil operários nas ruas. Eles lutavam em favor da jornada de trabalho de oito horas diárias. Liderados por essas entidades, os operários deram início a uma onda de manifestações exigindo direitos, que pararam os parques industriais.
Houve conflito e repressão. O movimento foi violentamente sufocado pela polícia, com um saldo de várias prisões e mortes. Três dias depois, 38 operários estavam mortos, 115 ficaram feridos e foi decretado Estado de Sítio em Chicago. Sindicatos foram fechados. Mais de 300 líderes grevistas foram presos. Quatro manifestantes foram posteriormente enforcados em praça pública. Eles ficaram conhecidos como “mártires de Chicago”.
A data se tornou, então, um marco na luta por direitos da classe trabalhadora e uma expressão nítida da eterna luta de classes na história da humanidade, dando origem ao Dia Internacional do Trabalhador.
CUT no 1º de Maio
Desde a sua fundação, em 1983, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), reforça a luta dos trabalhadores por direito no 1º de Maio, tradicionalmente, junto a outras as centrais que vieram posteriormente e com movimentos sociais.
Em mais de 40 anos, a CUT promove atos do dia do trabalhador que reúnem intervenções artísticas, políticas e de lideranças sindicais para proporcionar ao trabalhador conteúdo para reflexões sobre a sua importância na sociedade e, consequentemente, sobre seus direitos.

O 1º de Maio é uma data para que cada trabalhador brasileiro que, com sua força de trabalho, faz o Brasil acontecer, tenha consciência de que sem ele, o país não cresce e não se desenvolve e, portanto, a ele é justo que se dê condições dignas de vida e que se promovam políticas de igualdade social.