Escrito por: Leonardo Severo e Luiz Carvalho, da Palestina
Afirmou Javier Solana, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)
Javier Solana, da OLP, ressaltou que não há um único jornalista brasileiro na Palestina
“Lutar contra o apartheid de Israel é lutar pela Humanidade, pelos direitos humanos e contra a violação sistemática do direito internacional. A presença de vocês aqui representa um forte estímulo à resistência popular contra a ocupação”, afirmou Javier Abu Solana, assessor do negociador chefe da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), durante reunião com a delegação brasileira nesta quinta-feira (2) em Ramallah.
Solana lembrou que, comprometida com a Justiça, a Autoridade Nacional Palestina entrou na Corte Penal Internacional para que o governo israelense seja julgado pelos crimes de guerra praticados cotidianamente nos territórios ocupados. A decisão se fortaleceu depois do assassinato em massa ocorrido após o bombardeio por terra, ar e mar contra a população civil de Gaza. “Estamos cansados da cultura da impunidade e de declarações que não têm qualquer repercussão prática na vida das pessoas. Nos fortalecemos quando vemos a bandeira palestina tremulando em manifestações em Tóquio, nos EUA, no Brasil, o que amplia a pressão sobre os governos para que parem de comercializar com Israel enquanto durar a ocupação”, frisou.
Elogiando a campanha do movimento internacional por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), o representante da OLP frisou que a iniciativa teve papel chave na luta contra o regime de segregação racial na África do Sul. Neste momento, a crescente rejeição a produtos israelenses fez com que o país começasse a maquiar a etiquetagem com outras procedências, a fim de evitar a retaliação. Ainda assim, denunciou, “há países que continuam comprando até armamento de Israel, que transformou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia em prisões a céu aberto e que mantêm Gaza sob um bloqueio criminoso”. “Infelizmente a Europa, que é a principal parceira comercial de Israel, reflete a respeito do Holocausto, mas não sobre a vítima das vítimas”, condenou Solana. O Brasil é o quinto principal importador de armas de Israel.
Sem entrar no mérito do conflito na Criméia - envolvendo o governo da Ucrânia e a Rússia - o representante da OLP lembrou que quando interessou às grandes potências, rapidamente a ONU adotou uma política de sanções. “Em um mês todos os produtos já haviam sido boicotados. No nosso caso, levamos 47 anos sem que tenha sido adotada uma única sanção contra o regime de apartheid de Israel. Isso é ou não é uma política de dois pesos e duas medidas?”, questionou.
Destacando que o Brasil tem tido historicamente uma postura exemplar em relação ao direito humanitário, Solana rechaçou os ataques feitos pelos sionistas à conduta brasileira de reconhecimento do Estado palestino. Ele recordou que foi um brasileiro, Oswaldo Aranha, quem foi o responsável pela criação do Estado de Israel.
Condenando a manipulação das principais agências internacionais de notícias e dos grandes meios de comunicação, o representante da OLP disse desconhecer um único correspondente brasileiro na Palestina: “Todos vivem em Tel Aviv, encantados com Israel”. Exemplificando a grosseira parcialidade da cobertura da agressão a Gaza, Solana denunciou que “enquanto mostravam o trauma das crianças israelenses com as sirenes de alerta, diante da possibilidade de ataques, a morte de palestinos passava desapercebida”.