Parentes de suspeitos de assassinar Marielle trabalhavam para Flávio Bolsonaro
O filho mais velho de Bolsonaro pai chegou a homenagear na Alerj o chefe do chamado Escritório do Crime, grupo de extermínio que estaria envolvido no assassinato da vereadora Marielle
Publicado: 22 Janeiro, 2019 - 12h14 | Última modificação: 22 Janeiro, 2019 - 13h22
Escrito por: Redação CUT
Foram presos na manhã desta terça-feira (22) cinco dos 13 suspeitos de envolvimento na execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Todos integram a milícia mais antiga e perigosa do Rio de Janeiro que atua, sobretudo, em Rio das Pedras, local escolhido pelo milionário-laranja e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (PSL) para se esconder depois que foi denunciado pelo Coaf por movimentações suspeitas em sua conta corrente.
Embora um dos principais objetivos da Operação Intocáveis, ação coordenada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), seja atacar a milícia que explora o ramo imobiliário ilegal em Rio das Pedras com ações violentas e assassinatos, a investigação levou aos suspeitos de assassinato de Marielle.
Os dois principais alvos da operação, o ex-capitão do Bope, Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras que ainda não foi preso e amigo de Queiroz; e o major da PM, Ronald Paulo Alves Pereira, preso esta manhã, foram homenageados, em 2003 e 2004, na Assembleia Legislativa do Rio por indicação do deputado estadual Flávio Bolsonaro, segundo informações do jornal O Globo.
O filho mais velho de Jair Bolsonaro (PSL) empregou em seu gabinete até novembro do ano passado, quando era deputado estadual pelo Rio de Janeiro, a mãe e a mulher do capitão do Bope, tido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como o homem-forte do Escritório do Crime, um grupo de extermínio que estaria envolvido no assassinato da vereadora Marielle. Quem indicou os familiares de Adriano para trabalhar no gabinete de Flávio foi Queiroz, amigo pessoal de Bolsonaro pai desde os anos 1980.
A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ocuparam cargos CCDAL-5 no gabinete de Flávio, com salários de R$ 6.490,35. Segundo o Diário Oficial do Estado, ambas foram exoneradas a pedido no dia 13 de novembro de 2018, quase um mês após o pedido de exoneração de Queiroz e seus familiares, filha e esposa.
Ligação antiga
O relatório do Coaf aponta mais uma possível ligação entre Queiroz e Adriano. Segundo dados da Receita Federal, Raimunda é sócia de um restaurante localizado na Rua Aristides Lobo, no Rio Comprido.
O estabelecimento fica em frente à agência 5663 do Banco Itaú, na qual foi registrada a maior parte dos depósitos em dinheiro vivo feita na conta do ex-assessor de Flávio Bolsonaro - foram realizados 17 depósitos, que somam R$ 91.796 - 42% de todo o valor depositado em espécie nas transações discriminadas pelo Coaf, segundo um cruzamento de dados feito pelo O Globo.
Denúncia contra Flávio Bolsonaro
Nos últimos três anos, Flávio Bolsonaro negociou imóveis de alto valor no estado do Rio de Janeiro, segundo o jornal Folha de S.Paulo. No total, o filho mais velho do presidente negociou R$ 4,2 milhões em imóveis, diz o jornal. Neste período, Queiroz, o ex-motorista, movimentou R$ 7 milhões, segundo o COAF.
Em entrevistas a Record, o senador disse que não tem nada a esconder de ninguém. “Esse apartamento aqui foi pago direitinho, bonitinho. Estou mostrando a vocês qual é a origem. Tem origem, não é origem ilícita, não. Não tem origem em terceiros”. Flávio disse, ainda, que além de parlamentar é empresário. Ele é sócio de uma franquia de uma empresa de chocolates.
Família Bolsonaro e a ligação com as milícias
As denúncias de que as transações financeiras suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-motorista e assessor do filho mais velho de Jair Bolsonaro, podem ir além das suspeitas de apropriação de parte dos salários dos assessores e revelar relações da família Bolsonaro com negócios de milicianos no Rio de Janeiro foram feitas no último domingo pelo líder do PT na Câmara, deputado federal Paulo Pimenta (RS).
O parlamentar relacionou alguns fatos recentes para indicar que a denúncia que fazia não era por acaso e que, por isso, a investigação envolvendo a família Bolsonaro precisa ser aprofundada. Segundo Pimenta, a tesoureira do PSL do Rio de Janeiro, Valdenice de Oliveira Meliga, teve dois irmãos presos recentemente na Operação Quarto Elemento por envolvimento com as milícias no estado.
Os irmãos gêmeos PMs Alan e Alex Rodrigues de Oliveira estavam entre os 46 suspeitos que tiveram prisão decretada pela Justiça. Eles faziam segurança do então candidato ao Senado e presidente do PSL do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, durante as eleições de 2018 quando foram detidos. Registro feito em outubro de 2017 na rede social do próprio Flávio sinaliza que a família Bolsonaro tem ligação com a família de Valdenice e dos dois PM's.