Maior prejuízo que Bolsonaro deixa ao país é na saúde pública, diz Alckmin
Ao lado da futura ministra da saúde, Nísia Trindade, o vice-presidente diplomado, Geraldo Alckmin (PSB), afirma que toda a área social “andou pra trás” com Bolsonaro, mas o maior retrocesso foi na saúde
Publicado: 30 Dezembro, 2022 - 09h55 | Última modificação: 30 Dezembro, 2022 - 10h16
Escrito por: RBA | Editado por: Rosely Rocha
Desde o início da pandemia da covid-19 que a atuação do ainda presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) na área da saúde tem sido criticada por médicos e especialistas. Os constantes cortes de verbas no Sistema Único de Saúde (SUS), no Farmácia Popular e o descaso com a imunização tanto contra a covid-19 como para outras doenças como sarampo deixaram uma situação caótica no setor.
Em todo este ano, a ordem do governo foi bloquear R$ 15,38 bilhões dos ministérios, sendo R$ 3,78 bilhões da Saúde. No final de novembro, foi anunciado mais um corte de R$ 5,7 bilhões no Orçamento de 2022 dos ministérios, sendo R$ 1,65 bilhão da Saúde. Com a decisão, foram bloqueados mais R$ 194 milhões do Farmácia Popular, programa criado no primeiro mandato de Lula (PT), em 2003, que atende mais de 21 milhões de pessoas em todo o país. O orçamento da saúde para 2023 só foi recomposto em parte, após o Congresso Nacional aprovar a PEC do Bolsa Família, costurado pela equipe do futuro governo Lula.
E o que já era previsto foi confirmado pela equipe de transição da área da saúde. Na entrevista coletiva na quinta-feira (29), com a participação dos coordenadores do Grupo de Trabalho da Saúde do Gabinete de Transição, o vice-presidente da República eleito, Geraldo Alckmin (PSB), comentou a tragédia social deixada por Bolsonaro, prestes a se findar. Segundo ele, de modo geral a área social no país “andou pra trás” em educação, desenvolvimento social, combate à fome, meio ambiente e outros setores.
No entanto, ele destacou que o maior prejuízo foi mesmo para a saúde, em especial a pública. “Mas eu diria que o retrocesso maior foi na saúde. Até no programa de imunização, em que o Brasil era exemplo para o mundo, tivemos enorme perda, a ponto de termos hoje perto de 50% das crianças sem o reforço da poliomielite”, disse Alckmin, sobre a preocupante situação deixada por Jair Bolsonaro.
Presente também à coletiva, a futura ministra da saúde Nísia Trindade, que presidiu a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirmou que a história da saúde e do SUS no país “está sendo retomada no que tem de mais profundo e estruturante”.
À luz dos novos desafios
No entanto, prosseguiu Nísia Trindade, a área “precisa ser atualizada à luz dos desafios contemporâneos.” A futura ministra acrescentou que o desafio “é agravado” pelo fato de o Brasil ter enfrentado a pandemia de covid-19 com um governo que permitiu dados assustadores.
Com 2,7% da população do planeta, o país registrou até o momento 11% das mortes do mundo. O Brasil tem quase 694 mil mortos na pandemia – e isso segundo números oficiais fornecidos por esse mesmo governo. “É um dado muito eloquente”, disse a ministra. Ela destacou que não se pode esquecer as políticas que levaram a retrocessos no país na área da Saúde, conforme lhe pediram parentes de vítimas da doença.
Ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro afirmou que há um conjunto de medidas atualmente em vigor, introduzidas por Bolsonaro, que precisam ser revogadas. “Mas tem que ser negociado até para não se repetirem os mesmos equívocos”, ressalvou. Significativamente, todos os componentes da mesa, na coletiva, usavam máscaras. O também ex-ministro Humberto Costa também participou da coletiva.
Defesa da vida acima de tudo
Segundo Chioro, que participou do Grupo de Trabalho da área no Gabinete de Transição, a prioridade é “colocar a defesa da vida em qualquer circunstância em primeiro plano”. Nesse contexto, o objetivo “é recuperar a saúde no Brasil, acima de tudo para que nunca mais o povo brasileiro tenha que passar por tudo o que tem passado, tanta dor, tanta negligência, tanta falta de empatia”.