Escrito por: Rosely Rocha e Contraf-CUT
Juros altos do BC é uma das principais causas do endividamento que atingiu 78,5% das famílias. Valor médio é de R$ 4 mil, abaixo do limite máximo que pode ser renegociado pelo Programa Desenrola Brasil
Lançado na última segunda-feira (17) como forma de ajudar milhões de famílias a saírem do endividamento, o programa Desenrola Brasil, do governo federal, teve ao longo dos dias a adesão de mais instituições. São bancos e redes de lojas que oferecerão descontos e prazos para as dívidas de seus clientes, para que recuperem o crédito, saiam da inadimplência e possam sair de listas de devedores como Serasa, por exemplo.
As dívidas acumuladas em cartões de crédito oferecidos por redes de lojas como Magazine Luiza, Extra, Ponto Frio, Marisa, Assaí e Hipercard, que são emitidos pelo Itaú, e da Renner, por meio da sua financiadora Realize CFI, também poderão ser renegociadas pelo programa.
Os cinco grandes bancos Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (CEF) já anunciaram a adesão ao programa. Graças à grande procura a CEF já anunciou que para atender à demanda de clientes em busca de renegociações, abrirá suas agências com uma hora de antecedência na sexta-feira (21). Segundo o banco público, a procura por negociação de dívidas dobrou em seus canais no período de dois dias.
O Banrisul, Daycoval, Inter, PagBank e Pan também confirmaram que participarão do Desenrola Brasil.
Nubank
Após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizer esta semana que a negativação nos nomes de devedores de até R$ 100 subiria de 1,5 milhão para 2,5 milhões de pessoas se o Nubank aderisse ao programa, o banco decidiu participar da iniciativa. Somente esta instituição financeira tem mais de um milhão de negativados.
Informações levantadas junto às demonstrações financeiras 1º trimestre 2023 -Nubank”, pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT),mostram que os clientes do banco, no Brasil, representam 46% da população adulta do país, e sua taxa de inadimplência com dívidas em atraso de mais de 90 dias atingiu 5,5%, no primeiro trimestre deste ano.
A taxa de inadimplência dos seus clientes com renda de até um salário mínimo (R$ 1.320), é de 7,4%; e na faixa de 1 a 2 salários mínimos (R$ 2.260) é 6,8%. Ou seja, são patamares acima da média geral. Especificamente no cartão de crédito a inadimplência desses dois segmentos de renda está em acima de 10% e no crédito pessoal está acima de 13%. Este é justamente o público alvo da Faixa 1 do programa Desenrola lançado pelo Governo Federal.
Nível de endividamento
Ainda como reflexo da política econômica desastrosa do governo anterior e por conta da política monetária do Banco Central (BC), que mantém a taxa básica de juro, a Selic, em patamar elevado (13,75%), as famílias brasileiras mantiveram o grau de endividamento em junho, segundo os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
No mês passado o índice subiu em 0,2% ficando em 78,5% ante 78,3% em maio. Desse grupo, 18,5% dos consumidores dizem estar “muito endividados”, a maior parcela da série histórica, que começou em janeiro de 2010. Outros 12% dizem que não terão condições de pagar as contas em atraso.
O que parece uma estabilidade no grau de endividamento, na verdade, mostra o quanto a população está “enrolada” com carnê de loja, cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, empréstimo pessoal e financiamentos de casa e de carro, entre outras contas, que são impactadas pelos altos juros do BC.
Em 2012, no governo Dilma Rousseff, o índice de endividamento era de 58,3%. Em 2017, um ano após o golpe contra a ex-presidenta, subiu para 60,8%, mas a disparada ocorreu no governo de Jair Bolsonaro. Em janeiro de 2019, primeiro mês de seu governo eram 61,5% as famílias endividadas e chegou em dezembro de 2022 a 78,0% - índice que se mantém neste ano com pequenas variações.
Hoje a maioria (87%) tem o cartão de crédito como o vilão do endividamento. E não é para menos, os juros do crédito rotativo do cartão chegam a 455% ao ano. Descontada a inflação, em torno de 3%, os juros reais chegam a 10% ao mês, um descalabro, que vem sendo combatido pela CUT.
Na avaliação dos técnicos do Dieese, subseção Contraf-CUT, “os juros elevados dificultam a melhora desse quadro de endividamento. O volume de consumidores com atrasos há mais de 90 dias também cresceu, alcançando 46% do total de inadimplentes em junho. Ou seja, a cada 100 consumidores com dívidas atrasadas, 46 possuem atrasos há mais de três meses”.
Para a economista Vivian Machado (Dieese/ Contraf-CUT), levando-se em conta que grande parte dessas dívidas se torna impagável justamente por conta dos juros altos que se acumulam ao longo dos meses e com atrasos nos pagamentos, o Programa Desenrola é importante na busca para diminuir o endividamento e a inadimplência das famílias.
“A depender dos descontos negociados será uma iniciativa positiva para a população”, diz a economista que reforça ser fundamental a redução efetiva das taxas de juros no país, para poder construir um caminho sustentado de recuperação da economia das famílias.
A média do valor do endividamento dos brasileiros é de R$ 4 mil, abaixo do limite de R$ 5 mil que poderão ser renegociados na segunda fase do Desenrola Brasil para pessoas com renda de até dois salários mínimos (R$ 2.260), e que tenham sido negativas no período de 1º de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2022. A dívida poderá ser parcelada em até 60 meses, com juros de 1,99% ao mês, a partir de setembro, de acordo com o governo federal.
A primeira fase começou nesta segunda-feira (17). Saiba mais aqui.
Atenção a golpes usando o Desenrola Brasil
A possibilidade de negociação tem feito pessoas caírem em golpes de quem envia links de internet nos quais oferecem condições de financiamento com descontos de quase 100%. As negociações com os bancos que aderiram ao programa são feitas apenas nas plataformas e nos canais oficiais dessas instituições, que esclarecem que não enviam links e ofertas aos seus clientes.
Segundo a Federação Nacional de Bancos (Febraban), os criminosos usam técnicas para enganar o usuário para que ele forneça dados confidenciais, além de realizar transações financeiras para o golpista.
A entidade orienta que as pessoas interessadas em renegociar as dívidas no internet banking, o próprio usuário digite o endereço da instituição financeira.