Mais de 20 yanomamis da comunidade queimada após estupro estão desaparecidos
Nas redes sociais, ativistas, artistas e sociedade civil cobram por respostas. Yanomamis que ainda estão na região, permanecem com muito medo de falar sobre o caso, após ameaças de garimpeiro
Publicado: 03 Maio, 2022 - 15h15 | Última modificação: 03 Maio, 2022 - 15h23
Escrito por: Bruna Alessandra, da Revista Fórum
Mais de 20 moradores da comunidade Yanomami onde a menina indígena de 12 anos foi estuprada e morta por garimpeiros permanecem desaparecidos. Nas redes sociais, ativistas, artistas e sociedade civil cobram por respostas "Cadê os Yanomamis"?
O comediante e youtuber Whindersson Nunes escreveu: "Todo dia meus casa indígena reclamando do extermínio do seu povo nas redes sociais, uma comunidade toda sumiu (25 pessoas), tiveram a aldeia queimada depois de denunciarem o estupro de uma criança de 12 anos. Consigo aguentar minhas dores, mas doi mto acompanhar a dor do amigo [sic]", lamentou.
Todo dia meus casa indígena reclamando do extermínio do seu povo nas redes sociais, uma comunidade toda sumiu (25 pessoas), tiveram a aldeia queimada depois de denunciarem o estupro de uma criança de 12 anos.
— Whindersson (@whindersson) May 2, 2022
Consigo aguentar minhas dores, mas doi mto acompanhar a dor do amigo..
Já a ativista e comunicadora indígena Alice Pataxó elencou as violências provocadas pela exploração nas terras indígenas.
"Indígena pataxó hãhãhãe agredida, pataxó morto dentro de casa na aldeia (sem explicação aparente) criança yanomami desaparecida, outra com morte confirmada, e sobre isso o silêncio, falar do racismo antindígena não gera financiamento do agronegócio".
Indígena pataxó hãhãhãe agredida, pataxó morto dentro de casa na aldeia (sem explicação aparente) criança yanomami desaparecida, outra com morte confirmada, e sobre isso o silêncio, falar do racismo antindígena não gera financiamento do agronegócio.
— Alice Pataxó(@alice_pataxo) May 3, 2022
Medo
Os yanomamis que ainda estão na região permanecem com muito medo de falar sobre o suposto estupro e morte da menina de 12 anos porque foram ameaçados e cooptados pelos garimpeiros, revelou à Folha o líder indígena Júnior Hekurari Yanomami.
"Os yanomamis estavam com muito medo de falar. Eles diziam: 'Não sei, não sei', 'eu sou gerente dos garimpeiros', 'tem pistola, tem pistola'. Aí perguntei onde estava a comunidade e disseram que estava no mato. Eles não falavam absolutamente nada. Foram bem orientados, eu percebi isso", afirma Júnior.
Um vídeo gravado por garimpeiros dias antes mostra um homem falando com parte desses indígenas: "Estão dizendo que mataram uma índia, estupraram e jogaram, viemos aqui para relatar que isso é uma mentira. Isso é uma verdade ou uma mentira? Aconteceu?", pergunta ele às quatro pessoas, que apenas balançam a cabeça e dizem "não".
Estupro e morte
Foi Júnior Hekurari Yanomami quem expôs, na última terça-feira (26), que a adolescente yanomami da Terra Indígena da comunidade de Aracaçá, região de Waikás, em Roraima, faleceu após ser violentada sexualmente por garimpeiros. Ele também havia denunciado o sequestro, também por parte de garimpeiros, de uma mulher indígena e seu filho de três anos, que foi atirado em um rio e segue desaparecido.
“No sobrevoo vimos que a comunidade estava queimada. Segundo relatos, viviam lá, cerca de 24 yanomamis, mas não havia ninguém. Em todos meus 35 anos, nunca vi isso. Um Yanomami não abandona sua casa, a menos que seja uma situação muito grave. Quem queimou? Por que queimou? Para onde eles foram?”, questionou Júnior Hekurari em entrevista ao Mídia Ninja.
Segundo o líder indígena, alguns yanomamis que ainda estão na região teriam sido cooptados por garimpeiros e, por isso, estariam divulgando informações falsas para atrapalhar as investigações. Ele informa, ainda, que alguns dos indígenas receberam ouro dos garimpeiros para manter o silêncio.
Investigações
Em nota conjunta divulgada na última quinta-feira (28), a Polícia Federal, Funai e Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), informaram que vão prosseguir com as investigações mesmo após afirmarem que "após extensas diligências e levantamentos de informações com indígenas da comunidade não foi encontrado indício óbito por afogamento" e nem do estupro e morte da adolescente.
O Ministério Público Federal (MPF) informou, por sua vez, também através de nota oficial, que "as diligências demonstraram a necessidade de aprofundamento da investigação, para melhor esclarecimento dos fatos".