Escrito por: Rosely Rocha

Mais de 5 mil entregadores de empresas de aplicativo devem parar no 1º de julho

Trabalhadores cobram melhores condições de trabalho e aumento no valor pago por quilômetro rodado

Roberto Parizotti
Manifestação de entregadores por melhores condições de trabalho e EPI em maio de 2020

Os entregadores por aplicativos de alimentação como IFood, Rappi e Uber   preparam uma paralisação de 24 horas, em 18 estados do país, no próximo dia 1º de julho, em protesto contra o baixo valor pago por quilômetro rodado,  os bloqueios feitos pelas empresas, caso eles se eles neguem a fazer corridas  por não compensar financeiramente, e também conta o completo desrespeito à categoria, que é uma das que mais correm risco de contaminação pelo novo coronavírus (Covid 19), em função da atividade que exercem.

Um dos participantes do grupo que organiza a greve, o entregador conhecido como Mineiro, diz que a mobilização da categoria está sendo feita pelo WhatsApp, que conta com 275 integrantes em cada um dos 18 grupos criados em diferentes estados. A previsão, diz ele, é de que pelo menos 5.000 trabalhadores de aplicativos parem em todo o país no dia da greve e, por isso, esperam atingir ao menos uma das diversas empresas de aplicativo.

Mineiro pediu para não ter seu nome divulgado para evitar mais retaliações. Depois de ter sua imagem divulgada em algumas reportagens de jornais e TV, defendendo a união e paralisação dos entregadores, foi bloqueado pelos aplicativos Uber, Rappi e Ifood e hoje só está trabalhando com a Loggi, com uma carga diária de trabalho em torno de 17 horas.

A greve tem o apoio de entregadores como Paulo Lima, conhecido como Galo, um dos trabalhadores que já deu várias entrevistas dizendo que a luta é também por alimentação, pois paradoxalemente, entregadores de comida trabalham com fome na maioria das vezes.

“A alimentação é a coisa que mais dói, ter que trabalhar com fome carregando comida nas costas”, disse ele recentemente ao Brasil de Fato. À reportagem do Portal CUT, Galo disse que não é responsável pela organização da greve, mas que o movimento tem o seu apoio.

Pelo último levantamento feito nos grupos de WhatsApp, Mineiro calcula que são cerca de 57 mil entregadores somente no estado de São Paulo, mas, ele acredita que a pandemia fez dobrar o número de trabalhadores que estão sobrevivendo das entregas que fazem.

“Eu trabalho das sete da manhã até a meia noite, rodando 400 quilômetros por dia para levar para casa entre R$ 2.500,00 e R$ 3.000,00 líquidos por mês. A ‘motoca’ que roda menos chega a 250 quilômetros por dia. Antes da pandemia, conseguia o dobro disso, mas como aumentou o número de desempregados que recorrem ao trabalho de entrega, a concorrência aumentou e as empresas se valem disso para não melhorar nosso rendimento”, afirma.

Mineiro que está na profissão há cinco anos, explica que as empresas de entrega por aplicativo pagam apenas R$ R$ 0,93 por km rodado, sem incluir os custos de combustível e a manutenção da motocicleta, por isso o valor que acaba sobrando no final do mês é bem menor do que eles ganham por quilômetro rodado.

Ainda segundo ele, os entregadores são obrigados a aceitar qualquer corrida e caso o valor não compense por ser uma corrida curta, o Uber os bloqueia por três horas e se a recusa for feita três vezes, eles são banidos do aplicativo. Já no Ifood basta uma recusa para ser bloqueado.

Por isso, a reivindicação dos entregadores é de que a taxa mínima suba para R$ 2,00 e que eles tenham acesso aos clientes para saber quais tipos de corrida vão fazer, já que são obrigados a calcular o que vão receber pelo tempo que as empresas dizem que a corrida vai ter.

“O Uber ,por exemplo, não diz na hora que a gente aceita a corrida pra onde eu vou, somente o valor e quanto tempo vai durar a corrida. Aí eu deduzo  que se eles dizem que são cinco minutos, sei que vou rodar pelo menos 1,5 quilômetro. Para ganhar em torno de R$ 6,00 tenho de rodar 10 quilômetros”, diz .

Mineiro critica ainda a falta de contato com as empresas de aplicativo que não ouvem suas justificativas por terem recusado uma corrida e impede o contato deles com os clientes.

“Nosso movimento é por melhorias nas condições de trabalho, pelo aumento das taxas pagas, por suporte para falar com os clientes e pela volta de todos os entregadores que foram bloqueados injustamente sem direito defesa. A gente quer saber por que foram bloqueados”, afirma Mineiro.

O entregador diz que, apesar das represálias das empresas, pretende montar uma associação dos entregadores de delivery, que é, segundo ele, diferente dos motoboys que entregam documentos. Para isso, procura apoio tanto dos colegas de profissão quanto de entidades e pessoas que possam contribuir na luta da categoria que está apenas começando.

“A última paralisação, dia 11 de abril, teve adesão de só 480 entregadores, mas aí veio a imprensa e disse que a gente estava fazendo um movimento contra o Doria [governador de São Paulo], mas a gente só quer melhoria no trabalho. A gente até sonha com CLT, [Consolidação das Leis do Trabalho], com carteira assinada, mas aí as empresas também ficariam responsáveis pelo pagamento do uso da moto, que é nossa, as despesas são todas nossas”, explica Mineiro.