Mais de 67% das famílias brasileiras estão endividadas
Pesquisa da CNC mostra que os mais endividados são os que recebem menos de dez salários mínimos, os mais afetados pela crise sanitária. Dívidas com cartão de crédito foram citadas por 76,2% dos entrevistados
Publicado: 28 Julho, 2020 - 15h26
Escrito por: Redação CUT
Com a crise econômica, altas taxas de desemprego, redução de salários e suspensão dos contratos de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus, aumentou para 67,4% no mês de julho o percentual de famílias brasileiras endividadas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestação de carro.
É o maior nível de dívida das famílias da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta terça-feira (28) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Tipo de dívida
A dívida mais comum entre os brasileiros é o cartão de crédito, declarado por três em cada quatro entrevistados, com 76,2%. Carnês foram mencionados em 17,6% das entrevistas; financiamento de carro, em 11,3% e financiamento de casa, em 10,1%.
Dívidas por faixa de renda
Bateu recorde e chegou a 69% em julho – em junho era de 68,2% - o endividamento das famílias com renda de até 10 salários mínimos, as mais afetadas pela crise e medidas como o isolamento social para conter a disseminação do vírus e as leis propostas por Jair Bolsonaro (ex-PSL) e aprovadas pelo Congresso que reduziu a renda dos trabalhadores e trabalhadoras.
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Já entre as famílias que recebem acima de 10 salários mínimos, a proporção de endividamento diminuiu para 59,1% em julho, contra 60,7% em junho. Apesar da flexibilização da quarentena em vários estados, muitas famílias não estão querendo frequentar lugares com aglomeração de pessoas com receio de contrair a Covid-19 e um desses lugares são os shoppings que vem registrando vendas muito menores do que antes da pandemia.
O número de famílias com dívidas ou contas em atraso aumentou de 25,4% em junho para 26,3% em julho, atingindo a maior proporção desde setembro de 2017. Na comparação com julho de 2019, houve crescimento de 2,4 pontos percentuais. Neste item, também foi observado comportamento distinto entre as faixas de renda: a parcela de brasileiros inadimplentes que recebem até 10 salários mínimos por mês cresceu de 28,6% em junho para 29,7% em julho, enquanto no grupo com renda superior a 10 salários o percentual registrou leve retração mensal (de 11,3% em junho para 11,2% em julho).
“Embora o tempo de atraso nas quitações tenha aumentado em julho, os atrasos acima de 90 dias estão em queda desde antes da pandemia e mantiveram a trajetória decrescente durante a crise”, chama a atenção a economista.
Outro percentual calculado pela pesquisa é o das famílias que não terão condições de pagar suas dívidas, que chegou a 12% em julho, acima dos 11,6% de junho e dos 9,6% de julho de 2019. Nesse caso, o percentual cresceu para os dois grupos de renda: de 13,2% em junho para 13,7% em julho no caso das mais pobres; e de 4,7% em junho para 4,9% em julho no caso das mais ricas.
Nível de endividamento
O número de pessoas que se declararam muito endividadas teve, em julho, sua primeira queda desde o início do ano. O percentual caiu de 16,1% em junho para 15,5%. No ano passado, porém, essa fatia dos entrevistados era de 13,3%.
Em média, as famílias declararam que as dívidas consomem 30,3% de sua renda, percentual que caiu em relação a junho, quando era de 30,4%. Já em julho de 2019, eram 29,9%.
Ainda segundo a pesquisa, o tempo médio de comprometimento com dívidas cresceu e chegou a 7,4 meses em julho. Uma parcela de 21,2% das famílias declarou ter dívidas até três meses, enquanto 34,5%, por mais de um ano. Também se elevou o tempo médio para quitação das dívidas das famílias inadimplentes, de 60,7 dias em junho para 61 dias em julho.
Confira aqui mais dados da pesquisa.