Mais violência: Padre de 64 anos é agredido no rosto durante caravana de Lula
O padre Idalino Alflen relatou que, ao ver pessoas atirando pedras contra a comitiva de Lula em Foz do Iguaçu (PR), abriu os braços em sinal de protesto quando um homem atirou sua moto contra ele e o agrediu
Publicado: 27 Março, 2018 - 09h41 | Última modificação: 27 Março, 2018 - 13h22
Escrito por: Brasil de Fato
Depois de inúmeros militantes e do ex-deputado federal Paulo Frateschi, agora foi a vez de um padre de 64 anos de idade ser agredido fisicamente por opositores do ex-presidente Lula durante sua caravana pelo Sul do país.
Na tarde desta segunda-feira (26), a caravana chegou em Foz do Iguaçu, no Paraná. O padre Idalino Alflen estava no evento que recepcionaria Lula e, quando avistou pessoas atirando pedras contra a militância, abriu os braços em sinal de protesto. Foi quando um homem partiu para cima dele com uma moto e o agrediu no rosto. Idalino está com o olho roxo e com o nariz quebrado.
“Não é pela violência que a gente transforma. É preciso ter mais respeito para que o Brasil seja um país de fato democrático”, disse o religioso em entrevista ao Brasil de Fato.
História
Natural de Manoel Ribas (PR), Idalino é uma figura conhecida na região oeste do Paraná, sob o apelido de padre Pastel. A alcunha o acompanha desde os tempos de juventude, no seminário de Santa Maria (RS). Tudo porque um dia exagerou no banho de sol e voltou à casa “bronzeado como um pastel”.
No Rio Grande do Sul, o jovem seminarista estudou a fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Cascavel (PR), em janeiro de 1984, e foi justamente naquela região que ele viria a atuar como padre. A atuação religiosa nunca foi desvinculada da atuação política. Jorge Sonda, amigo de longa data, lembra que Idalino sempre apostou no trabalho de base para a superação da miséria e das desigualdades. A maior contribuição dele, logo após a ditadura militar, foi ajudar a eleger candidatos do campo popular para levar as demandas dos mais pobres ao Legislativo.
Sonda lembra que, em 1986, Pastel ajudou a eleger Pedro Tonelli deputado estadual constituinte em 1986. Fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Paraná, dez anos antes, Tonelli foi o primeiro deputado petista eleito no estado.
A atuação política custou caro para o jovem padre, que nunca desistiu de seus ideais. “Ele começou a ser transferido, sempre por pressão das elites. Esteve em várias cidades aqui do oeste, e a última foi Vera Cruz [do Oeste], onde ele foi fundamental na eleição do primeiro prefeito do PT, o Márcio Pescador”, ressalta Sonda.
Além dos movimentos de camponeses, Pastel trabalhou na Pastoral da Juventude, na CPT e na mobilização dos atingidos pela usina de Itaipu.
Pacifismo
Uma das marcas registradas de Idalino Alflen é a tolerância política e religiosa. Reverendo da igreja episcopal anglicana em Cascavel, Luiz Carlos Gabas enaltece o legado do padre para a democracia. “É um cara muito comprometido com a transformação da sociedade, muito preocupado com o que vem acontecendo no nosso país no momento presente. E é uma pessoa pacífica, que não tinha por que sofrer tamanha violência”, lamenta.
Paulino Pereira da Luz, que atua no Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), também enaltece essa característica, a ponto de não acreditar que o agressor conhecia a atuação política de Idalino. “As pessoas, que tentavam de qualquer forma agredir, sem olhar a quem, eis que simplesmente jogam uma pedra no meio da multidão. E que acertou, infelizmente, esse companheiro de paz, que leva a paz por onde vai”, descreve.
A eleição de Márcio Pescador para a Prefeitura Municipal de Vera Cruz do Oeste (PR) coincidiu com o “ano sabático” de Idalino – período de afastamento que a igreja concede aos padres a cada quinze anos de atuação. Em vez de apenas descansar, Pastel assumiu um cargo no mandato do prefeito petista, e não saiu mais da política.
Como Pescador foi reeleito, o padre permaneceu oito anos no gabinete, coordenando os trabalhos de base. Nesse período, passou a viver com uma companheira Rosali Dutra, com quem tem duas filhas. Um sacramento não pode ser desfeito, por isso, Idalino Alflen nunca foi chamado de “ex-padre”. E nem gostaria.
A caravana Lula pelo Sul segue pelo Paraná e termina seu percurso de mais de três mil quilômetros com um ato público na noite de quarta-feira (28) na Boca Maldita, em Curitiba.