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Máquinas ocuparão 47% das atividades do trabalho em 2025. Qual o futuro do emprego?

Fórum Econômico Mundial prevê que máquinas e algoritmos ficarão com 47% das atividades no trabalho em cinco anos. A automação deverá abrir 97 milhões de novos postos, mas 85 milhões deverão deixar de existir

Publicado: 22 Outubro, 2020 - 16h41 | Última modificação: 22 Outubro, 2020 - 19h10

Escrito por: Rosely Rocha

André Accarini
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O mundo do trabalho vem passando por transformações desde a revolução industrial iniciada no final do século 18, mas nunca as mudanças foram tão grandes e urgentes como agora. E a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) acelerou ainda mais o processo fazendo as empresas se ajustarem mais rapidamente à realidade, refletindo no desempenho do trabalho e na necessidade de se preencher vagas nas novas profissões que o mundo exige.

Enquanto os reflexos da automação das indústrias ainda estão sendo estudados por economistas, empresários, sindicalistas e especialistas do mundo do trabalho, o mais recente relatório “O Futuro dos Empregos”, divulgado na terça-feira (20), do Fórum Econômico Mundial, aponta que em cinco anos, as máquinas serão responsáveis por 47% da divisão do trabalho com os seres humanos, que devem ficar com 53% das atividades. Praticamente um empate entre homens e máquinas.

Em metade de uma década, o mundo deve perder 85 milhões de postos de trabalho. Em contrapartida serão criados outros 97 milhões.  A pequena diferença positiva na abertura de vagas é vista com “otimismo cauteloso” pela diretora do Fórum, Saadia Zahidi, já que o relatório aponta que a taxa de criação de vagas deverá desacelerar, ao mesmo tempo em que a eliminação de funções consideradas obsoletas deverá crescer.

 

André AccariniAndré Accarini
Caixa de supermercado automatizado, em Araraquara (SP)

 

No Brasil, funções em áreas como processamento de dados, contabilidade e suporte administrativo são as que mais devem perder empregos à medida que a automação e a digitalização no local de trabalho aumentam.

E o Brasil, como fica diante dessas transformações no mundo do trabalho?  

O secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Loricardo Oliveira, que também coordena debates sobre o tema entre sindicatos CUTistas e entidades, diz que a pandemia fez tanto patrões como trabalhadores descobrirem a necessidade de reinventar estratégias de como organizar a produção, como vender e para quem vender.

“Essa é uma das descobertas, o tal novo normal. São as descobertas de produtividade e de adequação. Não adianta só investir em startups na internet, se não houver adequação à produção”, diz se referindo à decisão de montadoras em preferir vender veículos por meio de empresas especializadas, como Amazon, na internet, em detrimento das próprias revendedoras.

Segundo Loricardo, a indústria 4.0 ainda não está instalada no Brasil. Há aumento da automação, mas não há a internet das coisas, embora esteja comercializando neste formato.  A internet das coisas é a conexão de todos os tipos de objetos à internet, o que lhes permite sincronizar entre si e pode ser usado remotamente. É uma conexão entre o mundo digital e o mundo físico, como, por exemplo, geladeiras inteligentes, sistemas de compras automáticas, televisão e iluminação que são acionados por um comando de voz.

Educação e capacitação são fundamentais na indústria 4.0

Segundo o Secretário-Geral da CNM, parte do empresariado brasileiro reclama que há falta de jovens profissionais devidamente capacitados para a indústria 4.0 que está por vir. Por outro lado, essas empresas apenas investem nas pessoas e naquilo que garantem retorno financeiro, e não na formação e educação dos jovens brasileiros que poderão ser capazes de tornar o Brasil um país competitivo industrialmente.

“Não temos educação técnica integrada ao ensino médio. Os empresários buscam no Senai [Serviço Nacional de Aprendizado Industrial] , que tem alguns cursos, jovens que atendam as suas demandas. É uma formação imediata que também vai ser deixada para trás”, afirma Loricardo.

O dirigente critica ainda o processo de sucateamento das escolas técnicas que vem sendo promovido desde o golpe de 2016.

“É um retrocesso. O país tem apenas institutos técnicos funcionando em algumas universidades. É a classe média que acessa o mundo acadêmico, e nem sempre esses alunos têm interesse neste tipo de formação”, diz.

Loricardo cita como exemplo a Universidade Unisinos, no Rio Grande do Sul, cuja escola politécnica tem 500 vagas para a área tecnológica sem preenchimento, por falta de interesse dos estudantes.

“O trabalho do futuro e o jovem do futuro dependem da vontade política dos governos com a educação. O dono da empresa também precisa ter essa vontade e não apenas em investir na capacitação de quem já está operando uma máquina”, afirma.

O Secretário-Geral da CNM reforça que se não conseguirmos fazer uma indústria que tenha responsabilidade no conjunto da vida das pessoas, se não trouxermos essa indústria para ajudar no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) , o Brasil terá trabalhadores em home office e operadores à distância, mas para chegar à indústria 4.0 há um oceano de distância entre os países mais avançados.

O futuro do emprego vai depender da vontade política, do desenho de uma nova estrutura industrial e não da desindustrialização como vem ocorrendo. Por isso, que nós da CUT temos trabalhado com projeto para os próximos 10 anos que dure pelos próximos 30 anos, que tenha aumento da empregabilidade. Não vamos fugir da vida real, as novas profissões vão acontecer
- Loricardo de Oliveira

O dirigente se refere ao Plano Indústria 10+ Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico, conjunto de diretrizes que tem como objetivo aumentar a participação da indústria na geração de riqueza nacional, colaborando para melhorar a qualidade de vida, com a redução das desigualdades e a distribuição de renda da população nas diferentes regiões do Brasil.

“Queremos uma indústria que produza com mais qualidade, que gere empregos e riqueza ao país. Mas é preciso que os empresários pensem numa indústria nacional que garanta uma competição internacional de igual para igual”.

O que diz sobre o Brasil o relatório “O Futuro dos Empregos”

Na pandemia, 68% das empresas disseram que mudaram suas estratégias. 52% aceleraram seus processos de requalificação de funções e outras 40% fizeram mudanças temporárias nas funções dos trabalhadores.

O uso de ferramentas digitais e de videoconferência foi citado por 92% das empresas, e 88% admitiram a possibilidade dos seus trabalhadores atuarem a partir das suas próprias ferramentas.

Empregos em alta no Brasil

  1. Especialista em inteligência artificial
  2. Analista e cientista de dados
  3. Especialista em internet das coisas
  4. Especialista em transformação digital
  5. Especialista em Big Data
  6. Analista de gestão e organização
  7. Especialista em marketing digital e estratégia
  8. Gerente de projeto
  9. Especialista em automação de processos
  10. Gerente administrativo e de serviços comercial

 Empregos em baixa

  1. Contabilidade, escrituração e folha de pagamento
  2. Processamento de dados
  3. Trabalhadores de montagem de fábrica
  4. Secretários administrativos e executivos
  5. Reparadores mecânicos e de máquinas
  6. Registro de materiais e manutenção de estoque
  7. Atendimento ao cliente
  8. Caixas e funcionários de banco
  9. Contadores e auditores
  10. Gerentes administrativos e de serviços comerciais

Empregos em alta no mundo

  1. Cuidados com saúde
  2. Tecnologias da quarta revolução industrial
  3. Dados e inteligência artificial
  4. Criação de conteúdo
  5. Novas funções em engenharia
  6. Computação em nuvem
  7. Desenvolvimento de produtos

 

* Edição: Marize Muniz