Escrito por: Redação RBA

Marcelo Odebrecht nega pedidos políticos do BNDES na era Lula

Empresário diz que porto em Cuba foi proposto pela construtora e negou qualquer interferência de Lula no financiamento de obras em outros países

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Em sua primeira entrevista desde que deixou a prisão, em dezembro de 2017, Marcelo Odebrecht, do grupo Odebrecht, negou que houvesse qualquer direcionamento político durante o governo Lula para financiamento via BNDES de obras em outros países.

“Em todos os países, nós íamos por iniciativa própria, conquistávamos o projeto e buscávamos uma exportação de bens e serviços. Em Cuba houve um interesse do Brasil de ajudar a desenvolver alguns projetos. E aí Lula pediu para que a Odebrecht fizesse um projeto em Cuba”, afirmou o empresário, ressaltando, no entanto, que a decisão de investir em um porto – de Mariel – foi única e exclusivamente da empresa, visando interesses comerciais.

“A gente avaliou as oportunidades e identificou que o melhor para o Brasil, economicamente e do ponto de vista de exportação de bens e serviços, era fazer um porto em Cuba. A obra de um porto tem muito mais conteúdo que demanda exportação a partir do Brasil. Para fazer uma estrada ou uma casa, em geral, é mais difícil fazer exportação. No caso de um porto, tem estrutura metálica, maquinário, produtos com conteúdo nacional para exportar do Brasil. O porto também seria um gerador de divisas internacionais, o que ajudaria a pagar o financiamento. Vimos o porto como um local que ajudaria a economia de Cuba. E a nossa expectativa, que infelizmente acabou não se confirmando, até pelo esgarçamento da relação com o Brasil, era que mais empresas brasileiras poderiam se beneficiar do porto em si. Mas infelizmente essa parte ficou pelo caminho”, disse em entrevista a Bruna Narcizo, na edição desta segunda-feira (9), da Folha de S.Paulo.

Por mais de uma vez, Marcelo Odebrecht, negou qualquer interferência de Lula no financiamento de obras em outros países, ressaltando que o prestígio do presidente despertou o interesse de outros países nos trabalhos da empreiteira.

O empresário ainda afirmou que o jeito de Lula “vender” – e “vendia bem” – o trabalho das empresas brasileiras complicava até mesmo a atuação da própria Odebrecht, que em muitos casos era, até então, a única empresa do Brasil na região.

“A gente vivia um dilema com as viagens de Lula, porque ele vendia bem o Brasil. E na maior parte dos países, a gente já estava havia mais de dez anos, 20 anos. Muito antes do Lula. E éramos a única empresa brasileira. A gente queria se beneficiar da ida do Lula para reforçar os links com o país e, por tanto, melhorar a nossa capacidade de atuar lá. Mas, ao mesmo tempo, quando Lula chegava ele não defendia só a Odebrecht. A gente se esforçava, passava notas para o Lula. O pessoal [da Lava Jato] achou várias das minhas notas. Porque a gente fazia questão de deixar claro o que a Odebrecht já fez em outros países para Lula, Dilma [Rousseff] e Fernando Henrique [Cardoso]. Sempre fizemos isso com todos os presidentes. Se um presidente chegasse lá, no outro país, e colocasse todo mundo [empresas brasileiras] no mesmo nível, poderia soar para o governo local do outro país como um desprestígio do Brasil em relação à Odebrecht.Vivíamos esse dilema, porque Lula era bom no macro, mas no micro ele trazia a competição brasileira, que até então a gente não tinha”, disse.

O empreiteiro ainda negou a existência da aclamada “caixa-preta do BNDES”. “Em relação a gente [Odebrecht] com certeza não tem caixa preta. O pessoal diz que o BNDES praticou políticas, principalmente de juros baixos e condições favoráveis de financiamento, que eram incompatíveis com o mercado. Questionam o jatinho e constroem a história de uma maneira espetaculosa. É como se fosse assim: ‘Jatinho é de rico, e o BNDES está dando o financiamento a 5% só’. Mas o foco do governo foi dar financiamento para produção que gerava renda e trabalho para o Brasil. De fato, as condições gerais do BNDES, tanto de juros, quanto de prazo, são muito melhores. Em relação ao mercado brasileiro, são distorcidas. Mas eram extremamente compatíveis com o que se praticava no resto do mundo”, afirmou.