Escrito por: CUT-RS com Agência Brasil e Extra Classe
O Fórum Social Mundial foi criado em 2001, em Porto Alegre, para se contrapor ao Fórum Econômico Mundial que ocorre anualmente em Davos na Suíça
Apesar do calorão de quase 40 graus, a marcha do Fórum Social Mundial (FSM) 2023 tomou as ruas do Centro Histórico de Porto Alegre, no final da tarde desta quarta-feira (25), sob o lema “Democracia, direitos dos povos e do planeta”, reunindo centenas de ativistas sociais do Rio Grande do Sul e do Brasil, irradiando esperança e democracia.
A concentração da caminhada, organizada pelas CUT-RS e centrais sindicais, ocorreu em frente à Prefeitura. Após várias apresentações culturais, os sindicais e movimentos sociais abriram as suas faixas e cartazes e subiram a Avenida Borges de Medeiros, dando visibilizada ao evento e e dialogando com a população.
O Fórum Social Mundial foi criado em 2001, em Porto Alegre, para se contrapor ao Fórum Econômico Mundial que ocorre anualmente em Davos na Suíça. A ideia é debater pautas sociais de inclusão, diversidade e sustentabilidade.
A marcha parou algumas vezes para gritar “sem anistia”, em referência aos crimes atribuídos ao ex-presidente Bolsonaro e aos vândalos e terroristas que fizeram o ataque golpista às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.
Água é vida, não é mercadoria
A defesa da água pública foi um dos destaques na marcha. Dirigentes do Sindiágua-RS, que estão na luta contra a privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), abriram uma faixa pela revisão do marco legal do saneamento.
Representantes do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) também estenderam uma faixa contra a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) que está sendo planejada pelo prefeito bolsonarista Sebastião melo (MDB).
Democracia sempre e com direitos e respeito
O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, destacou que “é uma marcha muito, muito simbólica, juntando todos os povos, organizações sociais e partidos políticos que estão alinhados com o presidente Lula para dizer democracia sempre, mas uma democracia com direitos e com respeito às mulheres, os negros e os indígenas, com inclusão, combate à fome e a radical redução das desigualdades, que são a grande base das injustiças, da violência e das tentativas de golpes que estão ocorrendo em nosso país”.
Para o secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil, Admirson Medeiros Ferro Jr., o Greg, “a marcha foi e sempre será um reflexo da diversidade que o Fórum representa, pois reúne as entidades das mais diversas crenças, etnias e lutas no país. Foi um momento marcante, onde encontramos o pessoal da cultura fazendo festa em Porto Alegre e celebrando a esperança renovada pelo novo governo Lula”.
Cultura e inclusão de toda a classe trabalhadora
O secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, ressaltou que a marcha é tradicional, pacífica e cultural. “O fórum também é cultura", explicou, dizendo que a caminhada não é apenas das entidades organizadores, mas também dos movimentos que se identificam com as pautas do evento, como a denúncia da concentração de renda, da exclusão social e dos desassistidos. “Os entregadores de comida, que usam bicicleta para trabalhar, estão aqui e clamando pelos seus direitos”, exemplificou.
Um grupo de entregadores de alimentos se uniu à caminhada. O presidente da Associação de Ciclo Entregadores do Rio Grande do Sul, Jean Clesar, enfatizou que a categoria pede o reajuste das taxas de entrega que estão defasadas diante da inflação. “Todo ano tudo aumenta, menos o ganho do entregador, que não é atualizado há dois anos”, denunciou.
Vitória de Lula é resultado da organização da sociedade
“O Fórum nasceu para ser um espaço de articulação e fortalecimento da sociedade civil e fomentar novas parcerias e gerar novos movimentos. Hoje vemos a vitória do Lula e derrota do Bolsonaro é resultado justamente da organização da sociedade civil”, destacou o empresário Oded Gragew, um dos fundadores do FSM.
“Conseguimos nos livrar do golpe e do fascismo por causa da sociedade civil. É vitória de cada um de nós que está aqui. A sociedade forte é fundamental para a democracia”, apontou Gragew.
Entre os participantes da marcha estava também o ex-deputado federal constituinte, ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra, que foi muito saudado durante todo o trajeto.
"O FSM é muito importante para dinamizar, espraiar e instigar o povo a se assumir como sujeito e não objeto da política e fazer da política a construção do bem comum com o protagonismo das pessoas”, avaliou Olívio, que era governador quando ocorreu a primeira edição do evento.
Diversidade e sustentabilidade
Na marcha não faltou uma pequena bateria de escola de samba, com ativistas, dirigentes sindicais, estudantes e trabalhadores de todas as cores e idades.
A líder indígena, Kantê Kaingang, destacou que marchar mostra a todo povo brasileiro que estamos juntos, com o apoio do nosso presidente Lula e da nossa ministra que é indígena
O militante da organização LGBTQIA+ Nuances, Célio Golim, disse que “a marcha é uma forma de ocupar o espaço da cidade, que é a representação da democracia, é o lugar público, é o lugar onde as pessoas se expressam, é onde tudo acontece ou praticamente tudo e é o lugar de troca. Caminhar na cidade no meio dos prédios, nas ruas, tendo contato com a população de forma geral, com os trabalhadores, as trabalhadoras, é uma forma de fazer política que sempre teve. Sempre fez parte da nossa história. Principalmente da esquerda”.
A ativista da saúde mental feminista, negra, periférica e do hip hop, Solange Gonçalves Luciano, comentou que "marchar é importante porque não tem como a gente ficar parada. Até nessa situação tudo, Por exemplo, o país é movido na base de política, pra gente conseguir respirar melhor, ter o nosso Brasil de volta, a gente teve que marchar. Mas claro, com cautela, sem fazer baderna. E marchando a gente consegue avançar sim e mostrar as coisas boas e positivas que são possíveis realizar no nosso Brasil.
O serigrafista, Marcelo Roncato, que atua em movimentos contra a privatização dos parques públicos, a agroecologia e o camponês. "É lembrar para não esquecer. É dançar para não dançar. Então, marchar para a gente não marchar também."
A marcha terminou no início da noite, em frente à Assembleia Legislativa, onde foi realizada uma atividade cultural. Os espaços do parlamento gaúcho, como o Teatro Dante Barone, também estão sendo utilizados para os principais debates do Fórum, que vai até sábado (28).