Escrito por: Ticiane Rodrigues
Caminhada reuniu mais de cinco mil pessoas do movimento sindical, movimentos sociais, indígenas, acadêmicos, pesquisadores além de defensores da Amazônia
Bem ao lado de 150 mil metros quadrados da Floresta Amazônica literalmente ‘preservada’ no coração da capital paraense, a Marcha dos Povos da Terra pela Amazônia se concentrava, nas primeiras horas da manhã desta terça-feria (8), em Belém (PA), para sair em caminhada rumo ao local onde os chefes de Estado dos oitos países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica já se reuniam para o primeiro dia da Cúpula da Amazônia.
“Nós Amazônidas e também povos da floresta, porque somos da Agricultura Familiar, nos somamos a essa Marcha que irá terminar com a entrega, ao presidente Lula, de um documento, que começou a ser construído coletivamente desde fevereiro e finalizado no último dia do Diálogos Amazônicos, e que tem como principal reinvindicação políticas públicas socioeconômicas para os povos originários e a sociedade em geral”, destaca a presidenta da CUT-PA, Euci Ana Gonçalves.
A Cúpula da Amazônia é uma iniciativa do governo federal, e terá a presença dos chefes de Estado dos oitos países da região (Brasil, Equador, Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname, Peru e Colômbia) com o objetivo de construir uma posição conjunta que será levada à conferência do clima das Nações Unidas, a COP28, nos Emirados Árabes, entre 30 de novembro e 12 de dezembro.
Essa é a quarta vez que presidentes dos países amazônicos vão se reunir – a segunda em que o presidente Lula participa. As três reuniões anteriores foram em Manaus. A primeira, em 1989, para discutir a cooperação para o desenvolvimento e a proteção dos territórios. A segunda, em 1992, em preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92. A última ocorreu em 2009, para tratar sobre mudanças climáticas.
Açaí, fruto que chora
Ao longo do percurso da Marcha, de pouco mais de 5 km, CUT-PA, Fetagri, Contag e Sinpaf Embrapa distribuíram 450 mudas de açaí como forma simbólica de preservação de um dos principais frutos brasileiros cultivado predominantemente na região amazônica.
De acordo com o folclore brasileiro, existia uma tribo indígena muito numerosa na Amazônia. Época que os alimentos estavam escassos, sendo difícil conseguir comida para todos. Então, o cacique Itaki tomou uma decisão cruel. Resolveu que, a partir daquele dia, todas as crianças recém-nascidas seriam sacrificadas, evitando o aumento populacional desta tribo.
Um dia a filha do cacique, chamada Iaçá (Yasa'i) gerou uma menina que também teve que ser sacrificada. Iaçá então desesperada, chorou de saudades várias noites. Ficou vários dias enclausurada em sua oca e pediu a Tupã que mostrasse ao seu pai outra maneira de ajudar o povo, sem o sacrifício das crianças.
Certa noite, Iaçá ouviu o choro de uma criança e, ao entrar no mato, viu sua filha sentada ao pé de uma palmeira. Ela estendeu os braços e correu em direção à criança, mas o bebê instantaneamente desapareceu no abraço. Inconsolável, Iaçá caiu sobre a palmeira chorando.
Ao nascer do sol, seu corpo foi encontrado abraçado ao tronco da palmeira. Os olhos negros dela estavam voltados para o topo da árvore, onde foram vistos frutos pequenos e escuros. Os homens da comunidade colheram as frutas, liberando seu que liberavam um suco grosso e nutritivo. Itaki percebeu que foi uma benção de Tupã e batizou a fruta em homenagem a sua filha (só que com as letras ao contrário). A ordem de sacrificar bebês foi encerrada, e o grupo nunca mais passou fome.
Justiça para os parentes
“Nossos parentes estão morrendo, onde nossos parentes Tembé foram atacados. Em plena Cúpula nossos parentes estão sendo atacados e nós exigimos respeito pelos nossos parentes. Veio de Rondônia, um estado muito violento, onde meu tio Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi assassinado, tem dois anos e não temos resposta. Queremos justiça pra todos os parentes que estão aí e que perderam seus líderes”, pede o jovem indígena Kuaimbu Juma Uru Eu Wau Wau.
Ari foi morto durante a noite de 17 de abril de 2020 em um distrito de Jaru (RO) e o corpo foi encontrado na manhã seguinte, com sinais de lesão contundente na região do pescoço, que ocasionou uma hemorragia aguda.
A Polícia Federal informou que o corpo de Ari não tinha sinais de autodefesa. Com base nessa constatação, uma das hipóteses é que o suspeito preso dopou o líder indígena e o agrediu até a morte, depois moveu o corpo para outro local.
Familiares contestam a versão da PF e acreditam que o crime tem motivação ambiental já que Ari Uru-Eu-Wau-Wau era um defensor da floresta.
Segundo o relatório ‘Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil – dados de 2022, publicação anual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no ano passado foram registrados 416 casos de violência contra pessoas indígenas no país. Em 2022, assim como nos três anos anteriores, os estados que registraram o maior número de assassinatos de indígenas foram Roraima (41), Mato Grosso do Sul (38) e Amazonas (30), segundo dados da Sesai, do SIM e de secretarias estaduais de saúde. Esses três estados concentraram quase dois terços (65%) dos 795 homicídios de indígenas registrados entre 2019 e 2022: foram 208 em Roraima, 163 no Amazonas e 146 no Mato Grosso do Sul.
Fonte: Bancários PA com informações da BBC, G1 Rondônia e Cimi