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Marcha ‘Lama no Rio Doce: Três Anos de Injustiça’

Em caminhada que vai percorrer mesmo trajeto da lama, atingidos pelo maior desastre socioambiental do Brasil denunciam descaso da Fundação Renova e de autoridades brasileiras

Publicado: 09 Novembro, 2018 - 12h15

Escrito por: Denise Veigas, especial para o Portal CUT

MAB
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O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) iniciou no domingo (4), em Mariana, Minas Gerais, a marcha ‘Lama no Rio Doce: Três Anos de Injustiça’ que vai percorrer o trajeto percorrido pela lama do maior desastre socioambiental da história do Brasil, e terminará na próxima terça-feira (13), no Espírito Santo.

Estão programadas várias atividades durante a caminhada que lembra a tragédia ocorrida no dia 5 de novembro de 2015. A primeira foi uma caminhada pelo centro da cidade de Naque, nesta quarta-feira (7), onde a lama passou. Lá os atingidos por barragens fizeram um protesto contra a Fundação Renova, responsável pelos processos de reparação da bacia do Rio Doce.

 “Águas para vida e não para a morte”, gritaram em frente à Renova, que, mais uma vez fechou as portas e não atendeu os manifestantes. Nas faixas e cartazes estavam expressas a indignação e revolta das vítimas da tragédia:  "Lama no Rio Doce: 3 anos de Injustiça’, ‘Do Rio ao Mar. Não vão nos calar’, ‘3 anos de lama: elas não param de lutar’, esta última em menção a luta das mulheres, principais vítimas do crime.

A população de Naque se somou à marcha denunciando a falta de compromisso e a lentidão da Renova. Por alguns minutos, uma das faixas para veículos da BR 381 foi interrompida e, às 13h, os manifestantes chegaram à Praça central da cidade, onde encerraram o ato.

A próxima parada foi Cachoeira Escura, onde foi realizada uma assembleia, na noite desta quinta-feira (8), onde foram debatidos os problemas de saúde e de abastecimento e qualidade da água do município.

“Tenho marcas vermelhas no meu braço, marcas da água contaminada. A água não está apta para o banho. Saímos do banho com a pele queimando”, disse Carmita Gonçalves, 60 anos.

“Temos que ter dignidade, caráter para defender nossos direitos”, completou Gilson Machado.

De acordo com Camila Britto, militante do MAB na região, o objetivo da marcha é denunciar o descaso e a falta de compromisso da Fundação Renova.

“Nós não confiamos na água que recebemos do Rio Doce. A Renova deve admitir a contaminação do Rio, e precisamos garantir uma captação alternativa para a cidade”, exige.   

A tragédia

No dia 5 de novembro de 2015, a Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, se rompeu e derramou 48,3 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos na natureza. A lama percorreu cerca de 650 km entre Mariana, em Minas Gerais, até a foz do Rio Doce no município de Linhares, Espírito Santo, espalhando-se por várias comunidades ao norte e ao sul da foz.

Atingiu, pela sequência, o córrego Santarém, o rio Gualaxo do Norte, o rio Carmo e todo o Rio Doce em um trajeto que compreende 43 municípios. Destruiu diversas casas, bens, modos de vida, fontes de renda, sonhos e projetos de vida. O rompimento matou 19 pessoas e provocou um aborto forçado pela lama no distrito de Bento Rodrigues. Destes, ainda há um corpo desaparecido de um trabalhador direto da Samarco.

Até agora, três anos depois, a Justiça ainda não puniu as empresas, nenhuma  casa foi reconstruída, milhares não são reconhecidos, e a Fundação Renova “empurra” os problemas sem previsão de reparação real na vida dessas famílias.

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